Emocionalmente falando, talvez no último domingo eu tenha presenciado o episódio mais impactante do universo The Walking Dead. Sim, nem as mortes de Gleen e Abraham mexeram tanto com as minhas impressões sensoriais.
Provavelmente isso se dê ao fato de que inserir crianças em determinadas narrativas, é algo que pode ser demasiadamente delicado. Exibir uma chacina destas então, é algo que te faz refletir.
Depois de um episódio fraco e chato, pulamos para um outro que não avança na linha narrativa, mas que desvenda a fumaça do passado, justificando a nova postura de Michonne, bem como a origem de suas cicatrizes e as de Daryl. Algo que vinha mexendo com a imaginação da audiência.
A cena de abertura já começa arrepiando este humilde redator, que logo nos primeiros minutos já pode captar o tom melancólico que o episódio iria proporcionar.
Michonne procurando por Rick e encontrando seu revólver, embalada por um trilha sonora lindíssima e acompanhada de uma fotografia nostálgica, tiverem um efeito acachapante. O diálogo truncado e carregado de emoção às margens do rio com o rastreador Daryl são de dar um nó na garganta.
Um episódio que – como eu já havia previsto aqui nesta coluna – trabalhou com flashbacks, duas linhas narrativas temporais que dançavam aos olhos do espectador. Completamente minimalista e fechado em questões sentimentais, serviu como ponte para nos reconectarmos com Michonne e Daryl, além de fazer com que nos apaixonássemos ainda mais pelo talento e carisma de Judith.
Nem Negan ficou de fora dessa tragédia amargurada, em um diálogo memorável, no qual reverbera – pasmem – uma lição sobre o que é ser mãe para uma angustiada Michonne.
Desde como lidar com o sentimento de perda, até a solução de conflitos familiares entre uma relação abalada de mãe e filha, “Scars” é de um primor sublime, algo raro em séries desse estilo. Um tiro fora da curva que acertou em cheio o âmago dos mais sensíveis espectadores.
Muitos, como já averiguei em diversos comentários aqui do site, consideraram o episódio chato, e eu lhes entendo verdadeiramente. Mas aqui a proposta era diferente, e vai ser lembrado como um episódio emblemático e talvez único. Em suma, visualizamos a descida de Michonne ao inferno, ou mitologicamente falando, acompanhamos a sua catábase.
Michonne executando a contragosto crianças, no instinto maternal de sobrevivência de suas crias, lutando como uma leoa feroz, foi algo forte. Um divisor de águas na trajetória da personagem.
E para dilacerar ainda mais nossos corações, no final do episódio a pequena Judith Grimes, analisando a frieza recente da mãe leonina dispara: “Quando foi que deixamos de amar Carol, Daryl e o Rei?” Funcionando como uma figura de linguagem, aproximando a audiência da trama, fazendo com que nós sentíssemos na pele o distanciamento dos nossos queridos personagens que essa nova temporada tem nos proporcionado.
Espero que possamos ver união a partir de agora, porque apesar de todas as coisas belas enaltecidas, Alpha está lá fora.
Nota: 9,5