Já conhecendo a fórmula dos roteiros de TWD, não foi surpresa para ninguém que Handle with Care fosse a famosa calmaria pós-guerra.
Não vou mentir que fiquei incomodado com essa decisão. Se olharmos bem, o arco da Virginia foi só um copia-mas-não-faz-igual do All Out War, cuja até a fórmula antológica da 7ª temporada foi resgatada, e que foi varrido às pressas para debaixo do tapete somente para que um novo grupo de vilões viesse à tona.
Claro, posso estar me afobando, levando em conta que o novo grupo sequer apareceu ainda, e talvez haja um plano macro por debaixo dos panos. Mas a julgar pela sequência de péssimos vilões que tivemos, meu receio é grande e o interesse é zero.
Só que estou me adiantando demais.
Handle with Care tem como principal objetivo a mente de Daniel.
O homem velho que se mostrou promissor na temporada inaugural, mas que caiu no meu conceito após ficar biruta de uma hora para outra, ao ponto de atear fogo em si mesmo, na tenebrosa 2ª temporada, conseguiu se reerguer e adotar uma postura de anti-herói no melhor episódio da série (100), para novamente tomar um chá de sumiço e voltar na terrível 5ª temporada, totalmente descaracterizado.
Com um histórico desses, é inegável que Daniel Salazar é um dos personagens mais subaproveitados da franquia Walking Dead. Logo, um episódio protagonizado por ele já não era sem tempo.
O mérito do texto de Channing Powell está mesmo no resgate do conflito entre Daniel e Strand, já que ele não é lá tão eficiente no mistério, com sua decupagem escancarando quem foi o verdadeiro responsável por tudo, e a decisão mais do que esquisita de esconder a pessoa com quem Daniel conversa até os minutos finais.
Não é como se June fosse o divisor de águas de toda a trama envolto do episódio ou algo parecido.
Temos que fechar os olhos pela conveniência dos habitantes da MorganIsland evaporarem num passe de mágica digno de filme do Harry Potter e pelas escolhas equivocadas que se esforçam para surpreender no final, como a decisão impensada de Daniel de levar Grace para outro lugar.
Sim, eu compreendo que o velho não estava lá com seu juízo perfeito, mas mandar uma grávida, que está com contrações, ao lado de uma criança para o meio do mato, sem que ninguém se oponha à respeito, é forçar demais a barra.
Mesmo com um roteiro usufruindo de atalhos, Rubén Blades consegue extrair muita coisa com sua interpretação, brilhando solo e também junto de Colman Domingo (essa dupla foi responsável pelos dois dos três pontos desse episódio).
O que é um baita desperdício para falar a verdade, pois está mais do que óbvio que os showrunners não sabem o que fazer com Daniel desde seu retorno e por isso vão deixá-lo de molho por tempo indeterminado, lá em Lawton, ao lado de Strand.
Espremendo bem, não sai muita coisa de Handle with Care além do preguiçoso artifício de pegar a falsa amnésia de Daniel e transformá-la em verdadeira (foi brincar com a sorte, tomou na jabiraca, coroa).
Caso essa grande estratégia de fingir esquecimento não tivesse vindo anteriormente, talvez eu compraria fácil-fácil o estilo “whodunit” do episódio. Infelizmente, só quiseram fazer uma ironia das ruins para encher linguiça.
Sinceramente, essa temporada tem sido apenas razoável, se destacando porque a anterior foi péssima. Se os episódios como The End is the Beginning e The Key se saíram bem, apesar de suas ressalvas, o restante tem sido somente ok, investindo em “personagens da semana” e suas aventurinhas nesse desbravado mundo apocalíptico, sem tirar nem pôr.
Espero mesmo que mudem o rumo da prosa. Ou continuarei a me decepcionar vendo o que essa série se tornou depois de, um dia, ter conseguido provar seu valor, lá na terceira temporada.
Nota: 3 amnésias de 5