Se andei descontente com essa 6ª temporada, que para muitos tem sido considerada a melhor em qualidade tanto da série como um todo quanto em comparação a principal, agora posso admitir que estava todo esse tempo sendo um ignorante e arrogante que detesta novas ideias, e que, sim, essa com certeza tem sido a melhor temporada da série.
Depois dos medíocres episódios anteriores, In Dreams vem para desbancar até os de alto escalão como Pilot, Wrath, 100, Children of Wrath, Things Bad Begun, Laura e The End of the Everything com sua abordagem onírica no futuro idealizado por uma inconsciente Grace, de modo tão inovador que faz do trivial um triunfo belíssimo.
Agora que desliguei o modo ironia, vamos à critica de fato.
A maior cartada do texto foi abraçar o lado alucination, que, convenhamos, é o cenário ideal para os roteiros da série pintar e bordar como bem quiser. Se houver um caminhão de bombeiros com escada motorizada funcionando perfeitamente, tudo bem, estamos em um sonho. Se alguém se jogar de um prédio e voltar andando mais que cadeirante depois de reanimado, beleza, é só um sonho. Se alguém deixar jorrar litros de etanol no chão… ok, vocês entenderam.
Passando por um futuro imaginário, onde temos Morgan Freeman, Dora Aventureira como filha do casal, Daniel DeVito mais velho do que já é em uma amizade de longa data com Danny Glover Strand, Charlie fazendo cosplay de iCaryl, a Maria Bethânia como médica e um Dwight idêntico a Van Gogh depois de surrado por outros mendigos em troca de tequila, o roteiro escrito pelos showrunners e Nazrin Choudhury despiroca de vez na tentativa de criar um drama.
Quer dizer, há sim um drama. Mas o problema é que ele é superexagerado que o torna brega e que na companhia de diálogos nada sutis, transforma o episódio em um capítulo de novela mexicana, ofuscando a temática espiritual da coisa.
Coisa que já começa errada quando sabemos que apenas Morgan decidiu levar Grace, em trabalho de parto, até a enfermaria de June, ignorando completamente o perigo que o obrigou a formar uma reunião na MorganIsland, dois episódios atrás. Mas são apenas pichadores sem nada para fazer da vida. Que mal farão? Pichar um pinto na porta de casa?
Espera, eles foram pegos numa emboscada. Quem diria, não é?
O roteiro não se satisfaz em ser superexpositivo em seus diálogos, com Grace entregando mastigadinho o que já fica subentendido desde os primeiros minutos — isso até o fim da projeção —, como também tenta criar suspense em uma situação que sabemos que se trata de um sonho. Ou seja, a luta contra os Sussurradores Evoluídos é totalmente descartável.
O episódio segue com o melodrama, enquanto o Tyrion de alta estatura os persegue e rende um cinco contra um (óia a malícia), só porque a inteligência rara esqueceu a arma no carro, somente para, minutos depois, voltar arrombando tudo, o que dá brecha para Grace ter seu diálogo para lá de emotivo e também furioso, já que Morgan não quer entregar a chave sem tirar uma casquinha.
E a cena do trabalho de parto? Fiquei sem palavras, pois estava ocupado demais gargalhando com o Morgan caras e bocas e Grace berros inaudíveis. A trilha sonora é a cereja do bolo. Eis uma cena que combina com qualquer música (talvez É Tarde Demais, do Raça Negra, funcione) e que mesmo sem som, fica igualmente cômica.
Mas não pense que só de desfeitas foram esse episódio, por mais que eu tenha transparecido isso nos parágrafos acima. Karen David enfim teve seu espaço para brilhar assim como a fotografia diurna que destaca o episódio.
Seu fatídico fim é uma decisão corajosa e uma boa puxada de tapete. O bebê era um sinal de esperança para o grupo, como o próprio enredo dita, mas nesse mundo nada é como esperamos ser e Grace terá de viver com isso, o que deixa a situação mais pessimista ainda.
Se os showrunners mantiverem essa visão cruel e realista nos demais episódios, talvez haja uma luz no fim do túnel que irá nos tirar desse mundo belo e pacífico de Morgan Jones.
Em mãos mais hábeis, In Dreams teria cacife para entrar no panteão de grandes episódios do derivado e não ser somente aqueles lembrados pelo seu final, o que viria a ofuscar o infeliz melodrama e a tosquice que aqui falaram mais alto.
Nota: 3/5