Como fã assíduo das obras do mestre Toriyama, é difícil fazer um review de Sand Land como um jogo em si. Ainda mais considerando o inesperado falecimento recente do lendário mangaká.
Além disso, Sand Land é baseado no mangá one-shot que conheço e aprecio há quase duas décadas, quando foi publicado inicialmente no Brasil pela Editora Conrad. Portanto, há muito peso autoral e nostalgia que embaçam um julgamento adequado.
Mas independente da bagagem de sua franquia, um jogo deve ter seus méritos próprios. Ele deve ser atrativo tanto para quem já conhece e é fã quanto para quem nunca ouviu falar de Beelzebub ou de Akira Toriyama (existe alguém assim além da minha avó?).
E este é o problema com Sand Land. Ele é simplesmente um jogo mediano de mundo aberto, que não apresenta inovações ou experiência envolvente o suficiente para te estimular a avançar.
Adaptação fiel à obra original
A história segue o pequeno, mas poderoso demônio Príncipe Beelzebub e Thief, um demônio ladrão astuto, que se juntam ao humano Rao, um soldado veterano com um passado obscuro, na tentativa de restaurar a água para o vasto deserto de Sand Land.
Evemtualmente é revelado que o Rei da região controla a última fonte de água, e cabe ao jogador resolver essa crise. No entanto, a trama, que se desdobra ao longo do jogo, perde força à medida que se repete em missões que pouco desafiam a criatividade ou a habilidade do jogador. Embora a narrativa se expanda além do material original do mangá para incluir novas ameaças, como o reino vizinho de Forest Land, a progressão é arrastada e pouco empolgante.
Veículos à vontade para exploração
Um dos pontos altos do jogo é a personalização de veículos, onde o jogador pode escolher entre tanques, mechas e motos, todos modificáveis com armas e habilidades como mísseis teleguiados ou propulsores flamejantes.
Ainda assim, a quantidade de veículos disponíveis acaba se tornando mais uma tarefa administrativa do que uma oportunidade de diversão. Ao contrário de jogos como Mad Max, onde um único veículo ganha significado e apego ao longo do tempo, em Sand Land, a relação com os veículos é superficial, servindo apenas como um meio para um fim.
Missões secundárias “enlatadas” em um mundo vazio
As missões secundárias e o crescimento da sua base sofrem de falta de variedade. Grande parte das tarefas envolve matar uma quantidade determinada de inimigos ou coletar recursos, o que logo se torna repetitivo.
O mundo aberto, embora vasto, é desprovido de vida ou de segredos que valham a pena explorar. Cavar por materiais escondidos em cavernas e resolver desafios de movimentação rapidamente se torna uma tarefa mecânica, sem a recompensa que jogos desse gênero geralmente oferecem, como em The Legend of Zelda: Breath of the Wild.
A expansão de Forest Land pouco muda a dinâmica, trazendo apenas um novo cenário com árvores e gramados, mas sem adicionar desafios ou novidades substanciais.
Mecânica de combate arroz com feijão
O combate, tanto dentro quanto fora dos veículos, sofre de uma falta de impacto. As batalhas contra chefes, que deveriam ser épicas e emocionantes, acabam sendo frustrantes, com dificuldades artificiais geradas por arenas mal projetadas e diálogos repetitivos que desgastam a experiência.
Os ataques parecem leves, sem o peso necessário para engajar o jogador, tornando-se rapidamente monótonos.
Bons momentos ficam apagados pela experiência geral
Apesar de alguns momentos de destaque na animação e direção das cutscenes, claramente influenciados pelo mangá e pelo recém-lançado anime, Sand Land se perde em um gameplay sem substância.
A exploração do deserto, que deveria ser uma aventura empolgante, transforma-se em uma maratona cansativa, com longos períodos de tempo gastos indo de um ponto a outro, sem uma sensação real de progresso ou urgência. Mesmo após horas de jogo, não há recompensas significativas para manter o interesse do jogador.
Talvez o problema tenha sido se basear demasiadamente no mangá, onde há um ritmo mais dinâmico, principalmente por ser uma história curta. Este seria o momento perfeito para uma equipe criativa expandir o conceito inicial de Sand Land, sem medo de arriscar além de anime e mangá.
No final das contas, Sand Land parece mais um convite para assistir ao anime ou ler o mangá do que para explorar o jogo em si em um clássico exemplo de adaptação esquecível de filmes e séries para games.
O potencial para algo épico está lá, mas o resultado final é um jogo que carece de alma e não consegue se sustentar com base apenas em sua fonte original.