Quando os zumbis são despedaçados, mutilados e decapitados na série de TV The Walking Dead, frequentemente há um certo nova iorquino com uma besta por trás da carnificina.
Norman Reedus, 43 anos, interpreta Daryl Dixon, um personagem frequentemente às avessas com um bando de sobreviventes que a série bem sucedida da AMC acompanha durante um apocalipse zumbi. Seu personagem é irritado – uma pessoa impulsiva, de acordo com Reedus – que acha humanos tão indignos de confiança quanto os zumbis.
Numa conversa no Café Roma, perto do seu apartamento em Chinatown, Reedus disse que seu amor por interpretar caras valentões veio de sua mãe durona, uma antiga residente do programa Hell’s Kitchen que agora dá aulas no Curdistão.
“Minha mãe deu aulas para o ensino médio no Bronx,” diz o ator. “Ela deu aulas para o jardim de infância no Harlem. Então quando apareceu esse emprego, ela disse ‘Eu consigo me virar no Curdistão’.”
A carreira artística de Reedus aflorou tarde, começando em 1997 com o filme Mimic. Sua obsessão com interpretação, e com Nova York, veio através da película.
“O primeiro filme que vi que parecesse mesmo uma forma de arte – a montagem funcionava, a música funcionava, as atuações, a direção, as locações, os figurantes, tudo se unia como um filme – foi Perdidos na Noite. Eu fiquei simplesmente fascinado por filmes depois disto”, diz o ator.
Após sua mudança há 14 anos atrás para Nova York, com sua então namorada, a modelo Helena Christensen, ele mergulhou na cena artística local e montou uma produtora, a Big Bald Head, para filmar curta-metragens.
Reedus também ajudou a fundar o Collective Hardware, um espaço das artes de 5 andares na Bowery*, que fechou em 2010. “Nós tínhamos ilhas de edição lá, nós tínhamos uma galeria que ocupava um andar inteiro, nós tínhamos uma empresa de efeitos especiais chamada III Willed que estava fazendo um gigantesco tigre dentes-de-sabre para o Discovery Channel”, ele se recorda. “Nós tínhamos todos os ingredientes para se fazer obras de arte incríveis lá.”
Os temas obscuros acerca de seu papel como sobrevivente de um apocalipse zumbi em The Walking Dead casa com seus interesses além da interpretação. Recentemente, ele exibiu na loja Wired, localizada na Times Square, suas fotografias de animais mortos na estrada e taxidermia, tiradas nos intervalos das filmagens da série.
Reedus disse que tenta se desligar do mundo do entretenimento quando ele não está trabalhando. “Quando eu venho aqui, fico com meu filho – sou apenas um pai quando estou em Nova York. Acho que só conheço dois atores em toda Nova York… conheço o Willem Dafoe.”
Essa associação vem de seus papéis no filme de ação de 1999 Santos Justiceiros, que transformou Reedus num ícone cult e o ajudou a promover sua carreira na TV.
“Eu soube assim que Norman fez o teste, ficou claro imediatamente que ele era o cara certo,” disse Robert Kirkman, produtor executivo de The Walking Dead e autor dos quadrinhos que originaram a série. “Eu sabia que ele era importante por causa do seu status entre os fãs.”
O recente status de Reedus como o favorito dos fãs do programa – ele alega ter 30 bonecos feitos por fãs de Daryl guardados em sua residência em Chinatown – tem colocado um pouco em risco sua fuga das luzes da ribalta.
Ele se lembra de ter sido reconhecido recentemente enquanto pegava um táxi no aeroporto internacional de Nova York. “Assim que entrei no carro, o cara falou ‘Meu, que droga o que aconteceu com a Sophia naquele celeiro,'” diz Reedus, se referindo à terrível cena do último episódio da primeira parte desta temporada, que foi ao ar no ano passado.
Outro lado de ser famoso por um programa de TV co-estrelado por um elenco de cadáveres sedentos por sangue: Reedus está consciente de que seus dias provavelmente estão contados.
“Eu gosto de que as pessoas estejam tão fissuradas nisso,” ele pondera. “Mas é um programa sobre zumbis. Você nunca sabe quem vai ser mordido.”
*uma rua nova iorquina bastante frequentada por amantes das artes.
Fonte: The Wall Street Journal
Tradução: Kelly Ribeiro