Um episódio interessante. Começo com essa afirmação porque The Walking Dead está carente de bons capítulos e “The Key”, apesar de não reinventar a roda, mostra que diálogos bem escritos sustentam um episódio de transição.
A direção de Greg Nicotero teve alguns planos interessantes e bom posicionamento de câmera, com Corey Reed e Channing Powell, roteiristas do episódio, escrevendo diálogos simples, diretos e sem a prepotência de querer entregar algo que não era necessário.
O plano de Negan contra Hilltop é mais uma vez exposto e Dwight e Simon mostram-se desconfortáveis, cada um com seu motivo. Dwight se esforça para ajudar Rick e seu grupo enquanto tenta manter seu disfarce e Simon começa a almejar o maior cargo na hierarquia dos Salvadores e por consequência todas as ordens de Negan que outrora não eram questionadas agora são.
Rick e Daryl também têm uma conversa franca em Hilltop na qual Daryl justifica suas ações intempestivas e por que não seguiu o plano inicial. Nisso Rick dá mostras que seu único pensamento é a vingança, não dando real importância ao pedido utópico de Carl por paz.
Na sequência Simon começa a expor abertamente suas dúvidas em relação ao comando de Negan e sua forma de resolver as coisas. Dwight permanece reticente por motivos óbvios.
Surpreendentemente as sequências de ação foram bem dirigidas e tiveram algum peso. Todo o segmento de luta entre Rick e Negan foi bem competente, apesar de ser aquele tipo de combate que não há possibilidade real de alguém morrer, então perde-se um pouco do peso da cena. O ‘golpe final’, que poderia ser deferido por um lado ou pelo outro, é sempre interrompido por um momento de contemplação desnecessário ou por uma frase clichê.
Outro elemento que dá um frescor interessante a série é a inserção de novos personagens dúbios, como Georgie e sua dupla de seguranças. Elas aparecem literalmente do nada, com uma proposta inusitada e parecem deter conhecimento e confiança acima do normal para um apocalipse.
Isso abre novas indagações por parte do público e possivelmente um novo arco de história para a próxima temporada, após a conclusão da Guerra Total. Georgie passa uma série de conhecimentos extremamente arcaicos, mas necessários para Maggie e isso faz com que Hilltop possua um poder imenso. Conhecimento é poder.
As misteriosas personagens também estavam em busca de cultura, traduzida nos discos que foram solicitados, e isso demonstra uma atitude de quem está buscando algo a mais que a própria sobrevivência. Há forma melhor de reconstruir o mundo recuperando resquícios do que um dia já fomos? Cultura é parte fundamental disso. Enfim, é algo que pode ser bem interessante no futuro e deve ser melhor explorado que o grupo do Lixão, por exemplo.
Sobre a Maggie, o roteiro é bem inteligente ao mostra-la extremamente pragmática ao dizer que vão ficar com os suprimentos de Georgia e isso a desumaniza um pouco, mas na sequência vem a catarse e ela volta a colocar sua humanidade acima desse pensamento. Maggie seguramente é o melhor personagem de The Walking Dead em termos de construção e coerência atualmente.
O texto entre Simon e Dwight na parte final é bom e Dwight até vê alguma perspectiva nas palavras de Simon, mas quando ele demonstra que o extermínio de todos seus opositores é a melhor solução Dwight entende a situação e sabe que deve continuar ajudando o ‘inimigo’.
Rick e Negan naquela caça de gato e rato também têm bons textos. Especialmente Negan, que fala que apesar de seu modo de conduzir as comunidades, nenhum civil tinha morrido desde que ele começou a comandá-las.
Não podemos dizer que Negan é um líder razoável, mas sempre é colocado em sua boca palavras que de certa forma fazem sentido, colocando suas ações ditatoriais em segundo plano e até humanizando-o. As conversas de Dwight e Simon e Rick e Negan foram verossímeis, tiveram peso e carga dramática.
Em suma “The Key” é um episódio bem escrito, que apresenta um novo frescor, mesmo que pequeno, e não banaliza seus personagens com discursos ou atitudes incoerentes. Nada foi extraordinário, mas o ordinário foi realizado da forma correta.
Nota: 7.5/10
Aviso: As críticas serão publicadas entre segunda e quarta-feira. Para sugestões de pauta e discussões mais aprofundadas sobre os episódios podem me contatar através do E-mail: [email protected] ou pelo Twitter @ferflorianoo.
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