“É quase como se as vísceras estivessem caindo do céu, como chuva, em vez de estarem subindo por debaixo das rodas, ou escorrendo pela lataria, ou esguichando da grade frontal, enquanto o Escalade vai triturando os corpos. A matéria líquida se esparrama pelos vidros, ininterruptamente, com o ritmo de um gigantesco cata-vento, um caleidoscópio colorido, um arco-íris de tecidos humanos – vermelho-sangue-de-boi, verde-lodo-de-lago, amarelo-ocre, e preto-piche. Para Philip, é quase lindo.”
É dia 30 de dezembro. Estou sentado em um parque famoso de Curitiba, folheando as páginas de THE WALKING DEAD, A ASCENSÃO DO GOVERNADOR, de Robert Kirkman e Jay Bonasinga. Lançado pela Editora RECORD (que nos cedeu gentilmente o material para essa resenha), o livro me faz pensar em algo absurdo: e se aquele espaço curitibano verde cheio de gente alegre estivesse tomado por uma multidão de zumbis? Como seriam as coisas? Eu sobreviveria? Para onde iria? Meu estômago se embrulha com os maus pensamentos que, como um flash, passam por minha cabeça: onde estariam todos que amo?
É para essa viagem que Kirkman e Bonasinga convidam os leitores. As 361 páginas do brilhante material derivado das HQs contam sobre a ascensão do vilão psicopata, louco, pirado (adicione aqui seu adjetivo) denominado Governador, causador de pesadelos de Rick Grimes & cia. De onde surgiu? Qual sua origem e por que se tornou esse maníaco? A primeira vista, a forma como é escrito pode causar estranhamento aos leitores, já que se aproxima mais dos quadrinhos do que de um livro propriamente. Porém passada algumas páginas a paixão é imediata e o leitor se vê totalmente imerso na história, goste do universo de The Walking Dead ou não. Para entender toda a loucura que apossa do líder de Woodbury precisamos conhecer o contexto; somos apresentados a pequeno grupo composto por Philip Blake e sua filhinha Penny, seu irmão Brian e os amigos Bobby e Nick, que partem de uma pequena cidade no interior dos Estados Unidos chamada Waynesboro em busca do Centro de Refugiados em Atlanta. Philip fará o que for necessário para organizar o grupo da melhor maneira possível, a fim de que todos cheguem vivo até seu destino. Mas claro, em um mundo desses nunca as coisas saem como o esperado. Cada capítulo lido faz com que a vontade de ler, para chegar ao fim, aumente. É engraçado porque mesmo sabendo como as coisas vão terminar as reviravoltas são constantes e abrilhantam ainda mais a história.
Outra coisa interessante é que a narrativa começa apenas duas semanas após o início da epidemia. Como tudo ainda é recente, temos a adição de algumas peças ao quebra cabeça que forma o mistério da devastação apocalíptica. Ainda que não entre em detalhes de como tudo se começou ainda vemos um resquício da antiga sociedade: tv, rádio, internet e alguns outros serviços ainda funcionam e alimentam a esperança de ter uma vida normal no tal Centro de Atlanta. Há ainda alguns cruzamentos dessa história com pequenos detalhes que já vimos nos quadrinhos, o que vai alegrar os fãs. É ótimo caçar referências. Não vou entregar nada, mas para quem leu os quadrinhos há uma pequena recompensa.
THE WALKING DEAD, A ASCENSÃO DO GOVERNADOR é um livro divertido e controverso que merece ser degustado (ou devorado), seja o leitor fã do tema ou não. A continuação do livro, que será uma trilogia, contará o trajeto de Lilly Caul, uma das personagens do (maravilhoso) game (e também da HQ) de The Walking Dead, lançado em 2012.
É o universo de Kirkman se cruzando para contar belas histórias.
Autor: Renan Bolonha
Fonte: Filmes & Games