Por PATRICIA SHERIDAN para o Pittsburgh Post-Gazette de 17/01/12
Ele interpretou um cara mau no filme Um sonho possível, mas IronE Singleton é qualquer coisa menos mau. O ator cresceu nos subúrbios de Atlanta, onde armas, drogas e desesperança se infiltram. Ainda assim, ele conseguiu sair daquele meio, se formando na Universidade da Geórgia, onde jogou futebol americano.
Ele interpreta T-Dog no grande sucesso da AMC The Walking Dead, uma série de apocalipse zumbi. Casado e com filhos, o ator de 37 anos é bastante espiritual. The Walking Dead retorna à AMC domingo dia 12 de fevereiro.
Trechos de uma entrevista:
P: O que te fez mudar seu nome de “Robert” para “IronE”?
R: A minha vida fez mudar o meu nome (risos). “IronE” siginifica uma águia em pleno voo com o espírito intacto. Eu criei esse termo porque é um indicativo da história da minha vida e o fato de que estou de fora do lado ruim da cidade. Estatísticas mostram que como um jovem negro dos subúrbios, eu estaria preso ou morto ou, muito provavelmente, vagando por uma esquina vendendo drogas ou algo do tipo. Então uma vez que me formei na faculdade, e pouco antes de me mudar para Los Angeles, Deus simplesmente colocou isso no meu coração. Houve esse desejo avassalador de criar um nome que servisse como um quebra-gelo. “IronE”* foi o nome.
*Iron (ferro em inglês); “E” de eagle (águia em inglês)
P: Como você conseguiu sair dos subúrbios e de uma situação que muitos vêem como desesperadora?
R: Falando metafisicamente, havia somente esse poder imenso, esse ser supremo em minha vida. Era maior, muito maior que a vida. Eu me refiro a esse ser como Deus. Eu sempre tive um relacionamento com Deus desde os oito anos de idade…
Eu visitava minha avó paterna e via que a vida que ela levou contrastava totalmente com a vida que eu tive nos subúrbios. Então isso me inspirou a querer mais da vida. Isso me fez ser mais ambicioso porque antes eu não sabia realmente de nada exceto o que via na TV…
P: Além de sua avó, você vê alguém como modelo?
R: Eu usei praticamente todo mundo. Meus treinadores, meu tio (ele era demais). Um dos meus tios, que morava com a gente, foi um instrumento para influenciar minha vida. Sempre que ele tinha oportunidade, ele destilava alguma sabedoria. Era sabedoria de rua, mas era a sabedoria que eu precisava naquela época para sobreviver. Mesmo quando as pessoas estavam vivendo negativamente, eu dizia “OK, então isso é o que eu não deveria fazer”. Eu tinha que dizer para todos que Deus tinha um propósito maior na minha vida.
P: O tema subjacente de The Walking Dead é nunca desistir, e parece que isso é algo que você sempre adotou em sua vida.
R: É exatamente isso. Você faz o necessário para sobreviver. Houve muitos momentos na minha vida em que eu poderia ter morrido ou poderia ter acabado na cadeia com uma pena de 20 anos nas costas. Eu superei essas coisas, esses obstáculos, porque eu escutei e obedeci a esse poder maior que falava comigo em momentos cruciais da minha vida quando era realmente importante. Muitos amigos meus não fizeram isso e eles acabaram indo para a cadeia com prisão perpétua ou morrendo.
P: Você acha que todos têm essa voz que você está descrevendo, mas simplesmente a ignoram?
R: Eu acho que sim. Eu acho que nós, como seres humanos, temos a voz interior. Algumas pessoas se referem a ela como consciência. Alguns fizeram tantas coisas erradas (e eu posso afirmar isso porque eu estava nessa categoria). Quando você cometeu muito erros, há tanta sujeira acumulada na sua consciência que fica difícil você ouvi-la. Com o tempo, eu me esforcei para tirar toda aquela sujeira, aquela negatividade, da minha consciência até o ponto em que ela ficou mais e mais alta, e as mensagens ficaram mais e mais claras. Então sim, isso existe em cada um. É apenas uma questão de escolhermos obedecer.
P: Você teve problemas com a justiça na juventude?
R: Sabe, eu nunca fui preso. Houve tempos nos quais eu poderia ter problemas com a lei. Eu portava uma arma – uma pistola – eu vendi drogas. … Era instinto de sobrevivência. Eu consegui uma arma, primeiro porque era o que se fazia nos subúrbios. Servia como proteção. Se você não tinha uma arma, mais pessoas estariam propensas a “te testar”.
Por mim, era uma coisa com a qual eu não tinha que me preocupar muito porque havia vários homens na minha família. Minha avó era a matriarca. Eu era o mais novo de todos os homens da minha família, então eu meio que os usei como exemplos e meio que imitei o que eu via eles fazendo. Então eu não tinha que lidar muito com bullying porque eu tinha bastante apoio, por assim dizer.
P: Quanto você acessa seu passado quando está fazendo cenas em filmes como Um sonho possível, mas particularmente para The Walking Dead?
R: O tempo inteiro, Patricia. Aquela parte da minha vida pesa tanto em mim. Tem tanta influência em mim, sabe. Há tantas imagens, tantas coisas para se inspirar, então eu uso aquilo como minha motivação. Eu só olho para eu estava em comparação com onde eu estou agora, e fico completamente dominado pela emoção.
P: Quando você está fazendo uma cena na qual você confronta um racista, é uma reação instintiva sua, requer menos interpretação?
R: (Risos) Para muitas pessoas seria talvez mais instintivo, mas é tudo interpretação. É instintivo também. Isso é parte do ofício, mas eu aprendi a me envolver por inteiro no processo de interpretar. Então é uma combinação dos dois e isso é com tudo, não somente confrontando um personagem racista.
Fonte: The Republic
Tradução: Kelly Ribeiro (@kelribeiro)