A maior ironia em Things Left to Do (Coisas que Faltam Fazer, em tradução livre) está em seu título. Pois é exatamente o que essa 6ª temporada tem feito: deixou muitas coisas a fazer, principalmente com Virginia.
Ora, se sua apresentação, bem no fim da 5ª temporada, não tinha o tempo necessário para explorá-la, então que o fizessem no ano seguinte.
Mas o que tivemos foram sequências de historietas que arrancaram o brilho de potenciais narrativas e que sequer aprofundaram-se na vilã, e, por tabela, fez John entrar em uma melancolia com anseio de suicídio repentino.
Dessa forma, a reunião de vários grupos convergindo na MorganIsland parece muito mais com o aglomerado de fãs emputecidos do Restart do que qualquer outra coisa. Tudo justamente por Virgínia não ser uma vilã que tenhamos visto cometer tal feito que a categorizasse como uma, ao qual renderiam exclamações do tipo “nossa, ela realmente é má!” ou “isso sim é um vilão!”.
Se fosse somente isso talvez eu pudesse relevar, afinal o episódio faz o que a temporada inteira não fez: descobrimos o passado da personagem, mesmo que superficialmente, e sua verdadeira relação familiar com Dakota (um twist bem no sense tirado da bunda para trazer uma pseudo complexidade ao arco).
Porém tudo veio apenas para favorecer o fim que resgata o discurso de “não somos monstros” e não para nos colocar em cima do muro sobre sua morte ou exílio, como o roteiro tenta plantar. Sendo, no frigir dos ovos, só um repeteco meia boca do arco dos Salvadores da série principal, dessa vez com direito a quase execução em praça pública e machado fincado no quintal como símbolo de juramento.
Junto à sua falta de ameaça, a não surpreendente vira-casaca de Strand só prova o quão ruim foi o tratamento dado à cowgirl, que entra fácil na lista dos vilões mais genéricos criados nessa fase dois da série.
O pior nisso tudo é que a culpa nem é de Nick Bernardone (assinando o roteiro cheio de chororô), mas sim dos showrunners que foram incapazes de trabalhar a personagem antes. A impressão que fica é que começaram escrevendo o final do arco e fizeram pouco caso com o desenvolvimento restante.
O ato de June no final, embora esperado e bastante clichê que só faltou tocar Bad To The Bone, ganha pontos só por sair da mesmice ao já trazer uma perspectiva mais sombria da personagem, sem criar rodeios como é com Maggie e Negan, reforçando que agora nem todos seguirão Morgan cegamente.
Há muitas outras coisas sobre esse episódio e o arco em geral que se eu detalhar aqui daria dois ou mais textos (como Daniel fingir sua amnésia por motivo nenhum, porque de nada isso adicionou à trama), mas pouparei vocês das minhas reclamações.
O arco da cowgirl não empolgou em momento algum nessa temporada e sua morte é a prova de que até agora, essa 6ª temporada tem sido somente aquém de suas possibilidades.
Espero que se endireitem no episódio seguinte, que tem tudo para ser o proverbial recomeço pós-guerra, e que os outros sintam a morte de Dorie, além de June e Morgan, e no meio disso chutem Dakota de vez, porque a forma que eximiram sua culpa não me convenceu nem um pouco. A garota é tão pior quanto a irmã/mãe e beira a maluquice, então não vai demorar para que cometa outro absurdo.
O tabuleiro mudou. As peças estão espalhadas. Victor, ao que aparenta, é o novo líder de Lawton. June segue sozinha. Sherry continua com birra e segue ao lado do clube de teatro com o MRAP de Althea — que não é mais de Althea.
Basta agora esperar para ver onde a turminha dos Grafiteiros do Fim do Mundo vai se encaixar (alguém ainda lembra deles?). Levando em conta que também eram inimigos da Virgínia (mais um para a lista, óia), algo me diz que a guerra ainda não acabou.
Só reclamo que estou cansado dessa fórmula adotada pelos showrunners de criar mistério em todo começo de ano. Já estamos na 6ª temporada e utilizar desses recursos batidos para manter o espectador em tela é exaustivo e coisa de adolescente aspirante a roteirista.
Se eu quisesse abandonar a série teria feito no ano anterior com todo aquele besteirol e mimimi de pacifistas e não pela ausência de um suspense sobre o que virá a seguir.
Things Left to Do é fruto de uma narrativa imaginária dos produtores, o que, consequentemente, diminui todo o discurso de vingança contra justiça implantado no episódio.
Nota: 2/5