O que me impediu de dar nota máxima para J.D. foi justamente a conveniência que faz John Dorie Sr. dar as caras.
Claro, olhando mais a fundo percebe-se que foi uma decisão para contextualizar a filosofia de botequim da turminha The End is blá-blá-blá, não à toa que fizeram uma ponte com a história contada por John Dorie, em The Key, mas a questão é que não precisava, porque em The Holding já havia ficado subentendido que Teddy era meio biruta da cabeça e uma cópia fajuta do Charles Manson que esbanja seguidores.
Se os showrunners queriam criar uma coesão narrativa em uma história pregressa, mesmo expondo o óbvio, que o fizessem de modo menos apelativo.
Digo apelativo porque reparem na cena do velório de John, onde June recita a carta. A cena funciona pela boa performance de Jenna Elfman, já que a presença de John Dorie, Sr. é uma clara e óbvia chantagem emocional muito bem arquitetada pelos showrunners (golpe baixíssimo).
Dava perfeitamente para desenvolver e relembrar a perda de John sem trazer seu pai direto do limbo, o que, acredito eu, traria uma carga ainda maior à ocasião se June lesse a carta sozinha diante do túmulo, reforçando sua solidão. Porém Andrew e Ian foram pelo caminho mais fácil e, adivinhe, adivinhe, funcionou para a maioria.
A impressão que fica é que os roteiristas não sabiam como trabalhar o luto da personagem que resolveram apelar para o impossível para atingir o coração do espectador. Afinal, por mais rabugento e diferente que seja o Sr. Dorie do filho, ainda é um Dorie.
Provavelmente ele terá mais informações sobre os vilões nos episódios seguintes (visto que de nada ele adicionou sobre os mesmos além do que já sabíamos nesse aqui), mas concordam comigo que não precisava de um novo personagem para isso e que podiam fazer os protagonistas descobrirem por si só?
Dito isso e tendo de aceitar essa conveniência universal, posso dizer que ao menos aproveitaram bem dessa brecha para criar uma linhagem de mesmo nome para a família Dorie, referenciando até Red Dead Redemption (John Dorie II matou Deadeye Driscoll, em Blackwater).
Há uma tangência nas histórias de June e do Sr. Dorie. Ambos se puniam fugindo de tudo e de todos, o que dá espaço para o roteiro flertar com os temas de abandono e arrependimento, com Elfman e Carradine contracenando muito bem e suavizando a superficialidade do texto quando eles se encontram, onde o velho se diz um policial de alto gabarito que repara em tudo, mas que mantém June armada mesmo depois de rendê-la só para que houvesse o fator surpresa à lá Darth Vader (“eu sou o seu pai”, só que num contexto diferente).
O núcleo do casal Bonnie e Clyde do Paraguai faz até sentido estar presente, pois evoca a odisseia de Dwight com John em busca da esposa (coisa que parecia ter sido esquecida) e também o recomeço tão ansiado pelo cowboy antes de morrer, mostrando que a cada um ali na barragem, John ajudou pelo menos um pouquinho, mesmo de forma indireta.
Mas se Sherry fosse uma personagem que se permitisse simpatizar, o seu conflito poderia ser digerido facilmente, mas não é o caso e só queremos que ela vá embora. Por outro lado, é bom que tenham acabado com essa novela mexicana de uma vez (suspirei aliviado por isso).
Tomara que Keith Carradine tenha um papel que não se limite somente no esquema de velhos inimigos se enfrentando (o que pode render um “ora, ora, nos encontramos de novo”), porque um ator desse calibre merece destaque ao invés de ser só mais um na multidão.
Aliás, gostei da irônica escalação de Keith Carradine para o papel, visto que o ator viveu Wild Bill Hichcock, em Deadwood, pistoleiro cujo a rixa boba era com o personagem vivido por Garret Dillahunt (acho que foi proposital).
J.D. é aquela calmaria necessária após a tempestade de problemas que nos assolou episódios passados. É bom, mas poderia ser perfeito se houvesse confiança da produção nas questões em que trabalha, sem precisar tirar um personagem da cartola para tocar no emocional.
Nota: 4/5