Análises Longas são são textos mais aprofundados e elaborados dos episódios de The Walking Dead, feitos por Tiago Toy, escritor e autor da saga “Terra Morta“, lançada pela editora Draco, que conta a história de uma epidemia zumbi ambientada em São Paulo. Atualmente trabalha na continuação do livro, no roteiro de uma HQ e na organização de uma coletânea, ambas baseadas no universo de “Terra Morta”.
ATENÇÃO: O texto abaixo apresenta spoilers, tanto da série quanto dos quadrinhos.
Desde já vou deixar um detalhe bem claro: eu sou muito fã dos quadrinhos de The Walking Dead, portanto, se não quiserem ler comparações entre o original e a série, evitem meus próximos textos.
Após uma longa e torturante espera, aguçada pelas poucas imagens, muitos boatos e escassos vídeos, finalmente estreou a terceira temporada da série do momento. Como visto no último episodio da segunda, Rick e os sobreviventes foram obrigados a abandonar a fazenda de Hershel e partir em busca de outro porto seguro, enquanto Andrea, deixada para trás, foi salva por uma figura misteriosa, a qual qualquer leitor dos quadrinhos sabe se tratar de Michonne, a espadachim badass que carrega uma katana, eficiente na arte de decapitar zumbis.
Seed começa do jeito que todo apaixonado por zumbis gosta. O grupo de Rick invade uma casa e, inicialmente, pode-se pensar que servirá por alguns dias. Isso até os mortos-vivos saírem dos arbustos atraídos pelo cheiro de carne fresca. Com um tempo medíocre para descansar, eles partem novamente às pressas e deixam uma multidão de errantes comendo poeira.
Do fim da segunda temporada para cá passou um tempo considerável. Como dito por Andrea em determinada parte, o inverno já passou. Em um ponto interessante nos quadrinhos, o inverno apresenta a vulnerabilidade dos mortos-vivos diante do frio. Os sobreviventes encontram um condomínio, conhecem Tyreese (um dos personagens mais queridos e ainda não apresentado na série), e descobrem que os zumbis praticamente congelam na neve, facilitando, mesmo que por alguns meses, o dia a dia. Quando vi a prisão no fim da segunda temporada, senti um misto de sentimentos bons e ruins. Bons porque é na prisão que a maior e mais emocionante parte da história se desenrola; ruins porque percebi que uma parte considerável seria deixada de lado. Aceito muito bem o fato de que é preciso adaptar a história, criando-se novas tramas, personagens e até desfechos, mas não aceito que trechos importantes sejam simplesmente ignorados.
Dos quadrinhos, Seed só tem a prisão. Andrea encontra-se bastante doente (uma pneumonia, talvez) nos fundos de um armazém, enquanto Michonne se arrisca para encontrar medicamentos. Isso nunca aconteceu na original. O problema é que uma mudança que pode parecer inocente à primeira vista vai mudar todo o rumo da história, o que pode ser comprovado no fim do episódio, em trechos do próximo. Andrea e o Governador conversando na boa? Mesmo? Pff… Estou quase fazendo o mesmo que faço quando assisto a algum filme de Resident Evil: esqueço totalmente a história original.
É também nessa parte dos quadrinhos que descobre-se o tal segredo da segunda temporada, sobre todos estarem contaminados. Tyreese se junta ao grupo, acompanhado da filha e seu namoradinho, e se dirigem à prisão. Lá, o jovem casal faz um pacto de sangue e se suicidam. O plano não sai como o esperado e apenas a filha de Tyreese morre. O moleque é morto pelo próprio Tyreese e, mesmo sem terem sido mordidos por errantes, voltam à vida. Nesse ponto, Rick decide voltar ao acampamento e exumar o corpo de Shane, encontrando o ex-amigo transformado em zumbi, e dando-lhe o merecido fim. Ficou bem bacana do modo que foi contado na série, ficou mesmo, mas, sinceramente, a versão original é minha preferida.
Voltando à série…
A passagem do tempo é mostrada de maneira eficaz. Lori já está com uma barriga enorme, Carl está cabeludo e acompanhando o pai nas caçadas a errantes, Hershel está parecendo o Papai Noel de tão barbudo, e Andrea e Michonne parecem ter construído uma relação bem forte.
Michonne está como todos esperavam vê-la. Brutal! Apesar de estar cuidando de Andrea, as feições da atriz caíram como uma luva na personagem. Na verdade, ficou até melhor. Os movimentos com a espada são inacreditavelmente críveis. À primeira vista você pensa “Que forçado, cara!”, mas aí a ficha cai e se torna normal, até mesmo o mais certo a se fazer em um ataque zumbi. Os zumbis chegam muito perto, é verdade, mas a eficiência da katana é inquestionável.
As tomadas na prisão são dignas de qualquer ótimo filme de zumbis. Imagine-se em um local fechado, escuro, com poucas rotas de fuga, vagando por um corredor tomado pelo breu e iluminado apenas pela luz fraca de uma lanterna. É exatamente o que acontece aqui. A busca por abrigo dentro da prisão chega próxima da tensão do primeiro episódio da segunda temporada, quando os sobreviventes se esconderam sob os veículos enquanto uma legião de zumbis passava por ali (particularmente a melhor cena da série).
A trilha sonora, tanto a soundtrack quanto a cantada em volta da fogueira pelas irmãs Green, está melhor do que nunca, conseguindo trazer o sentimento necessário para a respectiva cena. Não me senti assistindo uma série. Aquilo era um filme, cara, dos bons!
Cutucando mais uma vez a relação quadrinhos versus série, vamos falar de Sophia. Sim, a cena foi foda! Ver Sophia transformada em zumbi foi o ponto alto da segunda temporada, foi emocionante, e confesso que quase chorei. Eu disse quase. Mas para quem acompanha os quadrinhos há 5 anos sabe que Sophia está viva até hoje, sob os cuidados de Glenn e Maggie, e é a namoradinha de Carl. Quando a vi saindo do celeiro fiquei atônito, tanto pelo impacto da cena quanto pela filhadaputice dos produtores em matá-la. Cansei de argumentar com os novos fãs sobre esse fato. Em Seed, os produtores parecem ter ouvido as reclamações e, tentando consertar o estrago, deram uma nova chance de amor ao pequeno Grimes. Não ficou 100% claro, mas senti que o amor está no ar entre Carl e a filha mais nova de Hershel, Beth Greene. Acho Beth mais parecida com a Sophia dos quadrinhos do que a própria Sophia, embora a atriz seja bem mais velha. Se for essa a intenção dos produtores, é válida. Detalhes tão pequenos que fazem toda a diferença para fãs. Pareço estar divagando? Paciência.
Rick pode estar se esforçando para encontrar um lugar seguro para Lori (e os sobreviventes, claro) ter um resto de gravidez tranquilo, mas algo mudou. Talvez Lori seja odiada pelos novos fãs, mas é ela quem mantém Rick com os pés no chão, seu alicerce, o motivo para que ele não enlouqueça nos quadrinhos. Na série, quando Rick descobriu a traição, pareceu até levar muito bem. O que pode ter causado essa mudança drástica entre os dois tenha sido a explosão de Lori ao saber que Rick matou Shane. Isso ou a carga nos ombros, mas Rick está a ponto de explodir. Sério, eu pensei que ele fosse atirar em todo mundo. Seu olhar mudou, o modo de tratar as pessoas. Se tínhamos raiva de Shane, agora teremos medo de Rick. Afinal, não é mais uma democracia.
Não sei se fui só eu, mas senti um quê de American Horror Story na nova abertura. Sabia que mudaria, afinal não há mais razão para mostrar o porta-retratos do falecido Shane, e ficou interessante, mas não consegui não lembrar da abertura de AHS. Talvez tenha sido eu… E o episódio acabou exatamente onde achei que fosse acabar: no encontro com os detentos sobreviventes.
Deixando o bla bla bla de lado e carregando na ação e tensão, Seed mostra que The Walking Dead voltou com tudo. As dificuldades aumentaram (aqueles zumbis policias com capacetes ficaram muito “avanço de fase de videogame”), o terror gritou na tela, e as mudanças não foram de todo mal. Um dos problemas talvez seja eu, que preciso mesmo esquecer os quadrinhos ao assistir a série. Essa porra está ótima! O outro é esperar uma semana para assistir o próximo.