Em “The Big Scary U” acompanhamos a história pela perspectiva dos antagonistas mostrando acontecimentos que antecedem o ataque ao Santuário e as consequências disso para os Salvadores, além de dar um pequeno foco para Rick e Daryl em uma situação no mínimo curiosa.
A direção fica a cargo de Michael E. Satrazemis que tem no currículo ótimos episódios como “Slabtown” e “The Grove“, mas que em sua maioria acumula direções apenas medíocres que não brilham e tampouco comprometem. Em algumas cenas ele utiliza técnicas interessantes, especialmente no Negan, abusando da câmera baixa com o vilão em primeiríssimo plano, o que dá um ar de imponência. Mas em outros momentos, quando o roteiro abusa da nossa suspensão de descrença, não há o que fazer e cortes secos servem como muletas narrativas.
Negan e Gabriel cercados por todos os lados com zumbis caindo até da parte superior do cenário e a solução utilizada é um corte que precede o escapismo milagroso. Não estou exigindo demais, apenas clamando para que as regras outrora estabelecidas sejam cumpridas. Se há dezenas de zumbis cercando uma pessoa provavelmente ela irá morrer. Verossimilhança.
A narrativa teve suas falhas que só podem ser ignoradas pela suspensão de descrença, mas de forma geral David Leslie Johnson e Angela Kang escrevem um episódio competente em termos narrativos que não apresenta nada de espetacular, mas também não é calamitoso. O texto de Negan e Gabriel é bom porque Leslie Johnson sabe escrever momentos mais intimistas, vide episódio passado, mas o ritmo e a maneira que as coisas foram se sucedendo não fluíram tão bem.
Gabriel foca muito em sua fé e em um possível propósito para sua jornada, o que faz com que ele tenha uma boa dinâmica com Negan, que por sua vez, tem um pouco mais de seu passado revelado e que de certa forma o humaniza um pouco mais.
Os sub-textos dessa temporada talvez sejam mais importantes que os próprios diálogos, como por exemplo, quando Gabriel comenta que Negan matou Abraham e Glenn e o chama de cretino, mas Negan rebate dizendo que de fato os matou, mas que não causou suas mortes, ou seja, quando Rick atacou um dos postos avançados e matou diversos Salvadores enquanto dormiam foi o estopim que culminou na morte de dois protagonistas.
Outra coisa interessante é o arco envolvendo Gregory, que é nada mais que um político que busca soluções convenientes para seu bem-estar, como disse o próprio Negan. O ator, Xander Berkeley, é muito expressivo e passa as nuances necessárias para a composição do personagem. Tudo que aconteceu antes dos créditos iniciais foi interessante, mas depois as coisas ficaram um pouco desestimulantes.
Todas as cenas da reunião dos Generais de Negan não tiveram peso narrativo a não ser mostrar que o antagonista é a cola que une os Salvadores e os impede de ruir como um grupo. Mas o espectador já sabia disso e a urgência do debate perde o impacto.
De volta ao trailer temos três momentos que valem destaque. É relevante ver que na mesma medida que Gabriel tenta tomar a arma de Negan para mata-lo, provavelmente, também tenta exercer sua função de padre instigando-o a realizar a penitência da confissão.
Depois disso cada um fica em uma subdivisão do trailer e quando Negan cede e fala um pouco de seu passado, sobre sua esposa Lucille e como ela morreu, a cena se configura de forma espetacular como se Negan estivesse de fato falando de seus pecados em um confessionário.
E por fim, quando ambos resolvem cooperar para sobreviver, Negan deixa a arma que estava em posse de Gabriel com ele demonstrando uma certa confiança em seu adversário. Afinal, pessoas são recursos e isso mostra que talvez Negan só mate na necessidade de manter seu poder hegemônico e que isso não seja para satisfazer uma necessidade perversa como o próprio diz no começo do episódio.
A briga de Rick e Daryl acontece sem muito contexto, mas de certa forma dá crédito as atitudes extremistas ou necessárias (dependendo do ponto de vista) que Daryl vinha empregando em meio à guerra. Pensamentos opostos em meio a um conflito tão intenso podem acontecer, mas da forma que foi feito foi gratuito e apesar de condizer com as mudanças frequentes de ideologia de Rick, Daryl normalmente atém-se aos planos.
Esperamos que isso seja desenvolvido posteriormente e que gere de fato algo que agregue narrativamente, pois sem o contexto geral da temporada e suas implicações não ficou nada legal.
“The Big Scary U” é bom quando o texto sai da boca de Negan e Gabriel, mas se torna comum quando explora os outros Salvadores ou Rick e Daryl. Há a insinuação do traidor em meio aos vilões, mas isso só é mostrado com olhares sutis de Dwight e Eugene, deixando esse desenvolvimento para o futuro. Não foi ruim, mas foi comum e sem originalidade.
E aquele helicóptero? Alguma resistência organizada ou um devaneio do protagonista?
NOTA: 6.5