Os atores de The Walking Dead em sua maioria são competentes e conseguem entregar boas cenas tanto de drama quanto de ação. As locações não se mostram um problema por sua falta de variedade, visto que o spin-off Fear The Walking Dead já provou que variedade não corresponde necessariamente a qualidade. As histórias as quais a série de TV está se baseando também são interessantes até mesmo em seus arcos menos dinâmicos. Então podemos apontar o roteiro como o principal problema nesse momento.
A “culpa” deve ser atribuída aos roteiristas, que semanalmente se revezam na condução da história ou ao showrunner Scott M. Gimple, que é a principal cabeça pensante nos bastidores? Essa reflexão é válida (semana após semana), pois tirando os episódios escritos por David Leslie Johnson, o restante é apenas um emaranhado de cenas de ação vazias e debates exaustivamente repetidos.
“The King, the Widow, and Rick”, escrito por Angela Kang e Corey Reed, é uma colcha de retalhos que flutua por vários núcleos, mas avança significativamente pouco na linha narrativa principal.
E o mais preocupante é que Gimple está presente na rotina diária da série e não se ausenta para fiscalizar futuras locações em Marrocos ou na Islândia, por exemplo. Então o material que está sendo aprovado é o melhor que toda essa equipe que outrora era competente pode produzir atualmente?
É difícil avaliar a direção de John Polson, pois o roteiro não o ajuda em sua estreia, mas podemos dizer que ele não se sobressaiu a ponto de salvar o episódio, contudo de forma alguma comprometeu a composição final.
No começo do episódio temos uma narração em off de Rick evidenciando os acontecimentos ocorridos até então para os diversos núcleos, falando dos sacrifícios que foram feitos e atendo-se ao fato de que o plano deveria prosseguir apesar das baixas.
A sequência do plano – tentar uma nova aliança com o grupo do lixão – parece meio deslocada e boba, visto que aquele grupo já os tinha traído e levado a morte de muitos civis em Alexandria. Entre tantas estratégias possíveis de guerra, tentar reconciliação com pessoas crípticas que até agora não acrescentaram nada não me parece uma boa ideia. A nova inserção desse grupo não é bem trabalhada e também não tem justificativas sólidas. Em suma é um plano imbecil.
Outro tema exaustivamente abordado é a moral piedosa de Jesus. Sua ideologia é quase utópica, flertando com o exagero visto há muito tempo em Morgan, e só está servindo na narrativa como um contraponto moral para outros personagens.
A questão é que essas atitudes de Jesus não foram construídas ao longo dos capítulos. A pouquíssimo tempo atrás ele estava matando os inimigos sem pestanejar e agora se tornou um pacifista? O problema não é a mudança, mas sim a construção ser abrupta e servir apenas para equilibrar a balança dos personagens que buscam a guerra sem pensar na paz.
Como inimigos nessa situação podem viver juntos sem algum evento extremamente catártico? Praticamente impossível. Nesse momento Maggie se mostra um personagem equilibrado e coerente, visto que mantém os Salvadores vivos em função do poder de barganha que possa vir a ter em caso de troca de prisioneiros.
Está muito gritante essa questão de ideologia contra ideologia e o roteiro não é sútil quanto a isso. Sempre há uma frase de impacto a favor da guerra ou a favor da vida, piedade e humanidade, sendo que vimos que nessa temporada o que está nas entrelinhas funcionou muito melhor que o texto em si.
Carl e Siddiq também flertam com essa questão de humanidade e um pouco de espiritualidade, que posteriormente resulta em mais uma daquelas cenas totalmente desnecessárias de perigo onde Carl quase é mordido porque estava ajudando seu novo amigo a “libertar as almas” dos zumbis.
A cena do Gregory sendo arrastado para a prisão em Hilltop após achar que ainda era relevante na cadeia de comando foi bem interessante. Ele chorando como uma criança, questionando o que fez, mostra como sua persona cínica sequer enxerga que fez muitas coisas erradas.
Daryl e Tara buscando uma resolução rápida para o conflito é compreensível, mas novamente, é aquele duelo ideológico entre os protagonistas, sendo que inicialmente todos concordaram com o mesmo plano. Isso denota alguma vaidade e pouco senso de comunidade, o que não chega a ser uma novidade para Daryl.
A “missão” de Michonne e Rosita também é patética porque elas receberam as atualizações da missão e por uma necessidade pessoal partem para o Santuário. São muitas ações contra produtivas para um coletivo que deveria seguir um plano. O fato de elas escutaram um som que depois se revela ser um posto avançado dos salvadores também precisa de muita suspensão de descrença e a resolução do confronto é horrível. A Rosita usando o RPG (granada lançada por foguete) com a mesma destreza de uma pistola é meio constrangedor, assim como o efeito da explosão do salvador.
Por fim, Ezekiel e Carol aparecem para fazer o que seria óbvio após os acontecimentos com os soldados do Reino: Carol incentivando-o e Ezekiel em negação.
“The King, the Widow, and Rick” não é um episódio calamitoso, mas pobre e sem expiração nenhuma. Quando não são conceitos reciclados, e não são reaproveitados de anos atrás e sim de episódios atrás, são as conveniências de roteiro que tornam mais um episódio de The Walking Dead medíocre.
NOTA: 4.5