Não é possível!

Foram necessárias sete temporadas para que Victor Strand assumisse a persona que é para no fim sua vilania fosse rebaixada à uma obsessão infantil de provar-se para outrem. Sério? Não colou nenhum pouco. Na verdade é um desperdiço e tanto, pois já fizeram a rendição do personagem em Divine Providence trocando o maluco da vez para Wes, vulgo personagem sem desenvolvimento algum, na proteção da torre.

Engraçado é como Wes firma os pés na certeza de que a morte de Alicia e companhia é a solução para tudo, mas quando tem a oportunidade de agir revela-se o sujeitinho mais verborrágico que existe, custando-lhe uma espadada no peito muito bem dada por Strand — a única coisa útil que ele fez a temporada inteira ao invés de cair em qualquer acordo barato — e que mesmo assim é vista com maus olhos por Alicia, ainda tomada pela aura boa samaritana do ninja zen (o infeliz faz presença mesmo longe), capaz de cair em confronto corporal com Victor por isso.

Enquanto assistia a todo esse show de horrores e lenga-lenga que conta até com confissão de amor paternal pelo lado de Victor para com Alicia (graças a ineficiência de Wes em arrombar uma porta bloqueada por estantes de rodinhas), perguntei-me qual era o plano inicial antes dessa zorra. Quer dizer, Alicia aceita uma conversa particular com Strand DENTRO DA TORRE e espera que nada demais aconteça? Não passou pelas várias cabeças ali no pátio — que são alvos mais fáceis que vacas no pasto — o quão ruim era essa ideia?

Tá que havia o plano de usar o transmissor para espalhar a palavra de bons moços para o mundo, mas não vejo onde isso ajudaria no confronto (ninguém em sã consciência iria para um mar de zumbis ou enfrentaria uma guerra porque quer). E quanto a Mickey, a figurante que deu as caras em Till Death, fugitiva da torre que poderia muito bem vir a calhar na invasão discreta? Tomou chá de sumiço? Provavelmente sim.

São muitos questões que não dá para pôr em cheque numa crítica só e muitas para os produtores justificar, no que é bem melhor esquecer assim como as crianças perdidas da 5ª temporada (agora eu fui longe…). Mas claro, queriam porque queriam ter Victor, Alicia e Daniel protagonizando um episódio só (o trio de ouro) com cenas bregas que chegam a doer e diálogos que sangram os ouvidos, a fim de tentar comover com o que um dia foi a amizade entre o vigarista e a rebelde e extrair alguma nostalgia disso ou sei lá.

Se tem uma única coisa que funciona no episódio é Daniel, que embora não muito bem em suas faculdades mentais parece ser o único ciente do que é estar em guerra, não medindo esforços para fazer o que tem de ser feito até com mentirosos infelizmente poupados pelo roteiro. Junto também da revelação da morte de Ofelia que, pelo menos, é conscientemente rápida e traz uma sequência de flashes clichês até a raiz do cabelo, mas que tem potência graças a Rubén Blades.

Divine Providence joga fora um confronto que podia ser o ápice da temporada para brincar com a relação de velhos amigos e ainda esgarçar qualquer esperança de um bom vilão, sendo um senhor de meia idade demente a única distração desse circo.

Obs: o um ponto e meio são graças a Daniel e seus headshots. Muito obrigado. Boa noite.


Nota: 1,5/5