De uns tempos para cá algo vem me incomodando gradativamente nas séries do The Walking Dead Universe. Começou lá em FTWD com a iniciativa de episódios antológicos, na 6ª temporada, onde cada episódio dedicava-se a um personagem e uma problemática centro. Até aí tudo bem, já que analisando pelo contexto geral em que todos haviam sido separados pela vilã, fazia sentido tal divisão em historietas. Mas de repente esse mesmo artificio passou a ser usado na série principal, especialmente na sua atual — e ÚLTIMA!  — temporada. Aí a história mudou. Isso não dá para ignorar. Ou talvez dê, já que, estranhamente, ninguém parece se incomodar com isso.

Não vou apontar o dedo na cara de um e dizer que somente a produção tem culpa no cartório, pois olhando os dois lados da moeda percebe-se o comodismo do público com o superficial. Calma, calma, não é querendo pagar de crítico metidinho que diz o á-bê-cê e acha que está abafando por notar o que a maioria não vê. Não. É só a mais pura verdade. Afinal, por qual outra razão manter a ideia de antologias no próximo ano [sétima temporada de FTWD] senão pelo fato dela ter funcionado anteriormente? Se o povo gosta e isso economiza nosso lado, por que mudar? Os executivos do TWDverso tem jogado no seguro há tempos, resultado de temporadas formulaicas como a do antigo showrunner Scott Gimple, que pode ser resumida em: começo explosivo, calmaria, clímax, rebobina; ou num soft-reboot que transforma a derivada em um pastiche de TWD sem essência alguma para atrair quem busca mais do mesmo.

É bem verdade que essa fórmula foi resultado de episódios memoráveis que não dá para pôr no papel, mas tudo tem limite. E agora a nova moda de “mostrar apenas o que convém para nossa coesão” é um verdadeiro tiro no pé. Peguemos a temporada atual mesmo. Depois do agitado No Other Way (11X09), simplesmente somos jogados para dentro de Commonwealth em New Haunts (11X10) com todos já adaptados e os acontecimentos pregressos varridos para debaixo do tapete. Não só deixa aquele sentimento de perda de tempo, como também fere até o desenvolvimento dos próprios personagens. Afinal, entrar em uma comunidade que preservou a essência do mundo antigo, com direito a empregos, casas de aluguel, salários, governos e o escambau, e não reagir com indiferença é no mínimo de se torcer o nariz. E o artifício barato que mascara bem essa lacuna é a ação.

Reparem como ambas as séries usufruem de momentos frenéticos para despistar, tal como a inserção aleatória de Leah no meio da caçada de Lance pelo culpado do fracasso de sua missão, em Trust (TWD, 11X15), ou a caçada frenética atrás de Virginia que aparenta ser muito má só para os personagens e ainda revela a reviravolta de que sua irmã é sua filha a tiracolo, em Things Left to Do (FTWD, 6X09). São viradas de chaves sem embasamento algum inseridas espertamente em situações que não tem como pararmos e refletir “ei, espera aí, isso não faz sentido”, porque tem uma chuva de balas e explosões de deixar Michael Bay com inveja rolando na sua televisão. O que confere ainda mais esse argumento é o fato da 10ª temporada ter sido, no resumo da ópera, uma guerra fria contra os Sussurradores quando na verdade deveria ser o contrário. Resultado? Só uma temporada entediante para a maioria. Entendido isso, a ideia de Angela Kang, a atual showrunner, parece ter sido a de enfiar ação goela abaixo do espectador e dar pouco quase nada de relevância ou sentido a história macro — ou focar em assuntos batidos como Negan e Maggie -, isso justamente no arco mais pé no chão dos quadrinhos de Robert Kirkman.

Capaz que a própria Angela Kang não tenha culpa nessa e sim seja o dedo dos superiores administrando o produto de acordo com o que dá mais número de exibição/interesse geral. De novo, faz sentido comercial, porém prejudica o todo que perde tanto no sentido serializado como também (não tem outro jeito de interpretar) parece subestimar seu público e acaba por entregar o simples ao invés do necessário.

Pois é, rapaziada, eu podia deixar esse meu desabafo no rascunho e me conter com o que tem, porque no fim das contas é só com Fear the Walking Dead com quem devo me preocupar quando o assunto é críticas (faltam poucos dias para o retorno do meu sofrimento…). Mas ver a série principal ser afetada pela mesmíssima preguiça da produção de fazer algo mais sofisticado assim como na derivada, foi o ultimato do diabinho no meu ombro para arregaçar as mangas e redigir isto aqui. Faltam oito episódios para o fim definitivo de The Walking Dead e minhas esperanças não são nada boas. Mas ela é a última que morre, certo?

DIGA NÃO A SUPERFICIALIDADE!!!