Por que acham que não podemos ter uma réplica da Lucille colecionável?

Sabem, as vezes eu acho que eu sou mentalmente velho demais para minha idade. Talvez eu esteja ultrapassado nas minhas convicções e crenças, talvez eu seja só um maldito “new age grumpy”, enfim… existem certas coisas que eu não consigo deixar passar em branco.

Claro, eu poderia ir na linha do “deixa pra lá Felippe, as pessoas são assim mesmo e nunca, nem mesmo nas tenras eras dos gregos, conseguimos fazer a paz com os troianos”… mas eu não consigo. Então vamos lá… Vamos novamente mostrar que o Felippe é um escroto, mas é aquele tipo de escroto que não consegue ficar quieto diante das coisas que ele não concorda (e convenhamos, falar de você mesmo na terceira pessoa é bem legal).

Recentemente o The Walking Dead Brasil abriu uma promoção no qual o prêmio seria uma réplica da Lucille (o famigerado taco envolto por arame farpado, do famigerado Negan). Um item bem legal pra quem é fã e gosta de colecionar itens customizados de séries e cultura pop.

Porém, algumas pessoas começaram a proferir certas pérolas como “Isso incita a violência” ou “Que coisa de mal gosto” ou ainda “Não tinha OUTRA COISA pra SORTEAR”?

Vamos por parte…

Eu sou muito fã de Star Wars. Darth Vader principalmente. Sou também fã da Aletta Ocean. Tenho um poster do Darth no meu quarto e outro da Aletta do lado meu computador. Vejam bem, eu não quero matar pessoas com a força do meu pensamento (apesar de as vezes ter vontade) como o Vader faz, nem fazer inúmeros filmes pornô como a Senhorita Ocean faz (sem vontade aqui). São itens de colecionador. O poster dela, inclusive, é autografado… mas eu não acho que a vida de atriz pornô é algo interessante de se incentivar e nunca quis que nossa sociedade entrasse numa era de escuridão e opressão dominada por um império negro e nefasto.

Estão entendendo onde quero chegar? Eu entendo a sociedade que a gente vive, com essa necessidade incessante em problematizar TUDO, desde coisas pequenas como a camiseta do Coringa com a Arlequina até coisas importantes como questões raciais, sexuais, de gênero, da mulher… Tudo isso é importante e preciso. Mas está saindo do controle.

O bastão é um colecionável, apenas isso. É pra você pendurar na parede do seu quarto como o poster do Luan Santana que eu sei que você tem em cima da sua cama. Não é pra sair batendo na cabeça de qualquer ruivo ou oriental na rua. Não é pra incitar a violência, é um item de colecionador. Ele incita a violência tanto quanto um boneco colecionável incita a prática de vodu.

Não seria nem para a gente pensar nisso. É como se o sabre de luz que eu dei pro meu filho de aniversário fizesse ele querer fatiar pessoas de verdade. Não é o objeto que faz pessoas quererem ser violentas. São as pessoas que fazem as pessoas quererem ser violentas. É quando você não dá passagem pra alguém no trânsito, é quando você não ajuda a velhinha a atravessar a rua, é quando você fura uma fila, é quando você pratica bullying com alguém, é quando você faz uma piada machista com a sua esposa/amiga/colega/namorada, é quando você menospreza e segrega pessoas com outras opções sexuais, é quando você pratica algum mal trato à uma criança, é quando você cria seu filho de forma alienada, de tal forma que se ele pegar uma arma de brinquedo, não saberá a diferença do que é fantasia e do que é realidade.

É A PORRA DE UM COLECIONÁVEL. A vamos olhar pra dentro de nós mesmos e começar a separar o que é importante problematizar e o que a gente problematiza só por ibope, por audiência… por ter uma causa.

Realmente, eu to muito velho pra essa merda.

Talvez a gente devesse sortear um radio relógio.


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Felippe Martins
Felippe Martinshttp://www.geeksquest.com.br
Felippe Martins é Escritor, Game Designer e Matemático. Membro fundador do podcast sobre cultura pop Geeks Quest. Sarcástico seguidor de Cthulhu. Um poço de ironia num mundo sensível.

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