O universo de The Walking Dead (que foi obviamente influenciado e pavimentado previamente pelo mestre e deus criativo George Romero) é tão rico que a única mídia a não receber alguma “versão” sua foi o cinema. Temos sua origem nos quadrinhos, temos série de TV, temos livros e temos videogames.

Nos videogames, a estrela brilha com o maravilhoso The Walking Dead: The Game, desenvolvido pela TellTale e um dos jogos que mais capturaram o “universo zumbi” desde… bem… desde sempre.

Ah, e também temos… ahn… Survival Instinct.

Se fôssemos fazer uma analogia, The Walking Dead: Survival Instinct é aquele tio gordo, chato e de mau hálito, que em festas familiares sempre fica bêbado, dá trabalho, faz cena e bate na mulher. É aquele tio que ninguém gosta porque sempre faz alguma coisa que deixa a família inteira desconfortável. É o tipo de membro familiar que ninguém quer convidar para nada e se fosse possível, simplesmente o excluiríamos do rol familiar. A única coisa que impede sua exclusão é sua infeliz existência.

Isto é exatamente o que The Walking Dead: Survival Instinct é.

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Desenvolvido pela Terminal Reality e publicado pela Activision, Survival Instinct pega uma premissa promissora: como foi o começo do apocalipse zumbi para os irmãos Dixon (sim, aqueles da série)?

O que realmente deixa este que vos fala triste em fazer uma análise de um jogo tão ruim, é que ele tinha potencial. Acompanhamos Daryl em sua viagem do interior da Georgia até Atlanta, encontrando sobreviventes e coletando recursos. Cada interação com o ambiente pode ser feita de dois modos: direta (ou como dizemos “na porrada”) e stealth (“na surdina”).

Infelizmente, o trabalho medíocre que os desenvolvedores realizaram, jogam milhões de walkers sedentos por carne fresca em cima do potencial e entregam um jogo porco, mal feito, coberto de bugs e glitches e com um gameplay totalmente genérico.

Sabemos que algo está errado quando nos títulos de um jogo vemos o nome de um canal de TV para promovê-lo, e aqui temos o glorioso “AMC´s THE WALKING DEAD: SURVIVAL INSTINCT”. É como se a vergonha alheia começasse logo na tela de título…

O jogo começa com o pai de Daryl e Merle numa sequencia extremamente mal dirigida, sem muito nexo e sem passo. Não há suspense crescente, não há ligação emocional com nenhum personagem (inclusive com aquele que é mordido e demora mais da metade do jogo para se transformar) e o único ponto positivo que o jogo possui é o fato de que são os atores Michael Rooker e Norman Reedus que dublam os personagens que fazem na série. Foi algo bem do tipo “pegue o dinheiro do trabalho e não olhe para trás”.

O gameplay é bem quebrado. A viagem até Atlanta deve ser realizada em paradas para coleta de combustível e outros recursos. Podemos escolher caminhos alternativos que teoricamente fariam a experiência ter diferença. Se fôssemos pela estrada principal, economizamos gasolina, mas corremos o risco do carro quebrar e haver a parada para coleta de peças. Caso escolhêssemos as estradas alternativas, gastamos mais gasolina (o que obrigaria mais paradas para coleta de combustível), porém têm-se mais recursos à disposição nas paradas. Sobreviventes são adicionados à trupe durante as fases (após escolhermos ajudá-los) e os mesmos podem ser comandados a procurar suprimentos enquanto damos um rolê e matamos zumbis.

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Tudo isso pode parecer legal e divertido, mas acredite… não é. Não faz nenhuma diferença o caminho que escolhemos e a maioria das fases são tão parecidas umas das outras que a sensação de “eu já vi isso” é recorrente.

Pelo caminho coletamos algumas armas, que infelizmente não servem para muita coisa, já que são barulhentas a ponto de atrair todos os zumbis ao seu redor e possuem tantas balas quanto o talento despedido no jogo (que é pouco… muito pouco). Então, corremos de fase em fase, utilizando uma simples faquinha de cortar pão para matar hordas de zumbis que se movem de maneira igual e que são tão mal modelados que este que vos escreve teve saudade dos filmes de Lucio Fulci, quando ainda faziam a maquiagem de zumbis com papel machê.

Inclusive, um dos pontos interessantes do combate, é totalmente quebrado. Quando um zumbi lhe agarra, um minigame é acionado que permite um kill instantâneo. Com o analógico miramos na cabeça do zumbi e “voilá”… morto de novo. Acontece que o recurso seria apenas para momentos mais críticos e último recurso antes de uma deliciosa mordida infectada. O que acontece é que é mais fácil simplesmente deixar os zumbis agarrarem Darryl para matá-los dessa maneira, tirando qualquer resquício de tensão que os desenvolvedores tentaram adicionar ao combate.

Merle aparece nos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, sem muito destaque e não ajuda muito no restante do jogo (mas até aí tudo bem, porque ele não ajudava muito na série também) e o final… ah… o final… É algo que ao mesmo tempo fará o jogador a querer queimar a mídia do jogo quanto chorar de desgosto pelo tempo perdido. Sinceramente, eu pensei que o jogo havia travado de alguma forma. O final é abrupto, não faz nenhum sentido e ainda abre espaço para uma possível sequencia. Alguém precisa de um sério tratamento psiquiátrico caso decida investir no desenvolvimento de um Survival Instinct 2.

Assistir ao programa da Palmirinha seria mais divertido do que jogar Survival Instinct. Passe longe deste jogo que só faz uma coisa: envergonhar uma “franquia” tão rica e interessante quanto The Walking Dead é.