Nem a direção competente de Greg Nicotero conseguiu ter luz própria e maquiar os problemas recorrentes dos roteiros de Matt Negrete e Channing Powell. A repetição de conceitos é visível e torna todas as tramas em desenvolvimento um artigo reciclado com pouco impacto. É inegável que falta substância na trama, pois não há nada de novo que já não vimos outrora. É apenas mais do mesmo com uma película diferente.

Novamente a dualidade moral está em pauta nesse episódio. Em um primeiro momento, no monólogo de Morales, que faz questão de exaltar que Rick não é mais o herói da história e os coloca como iguais apenas em lados distintos.

O papo recorrente que tudo é questão de perspectiva. E nesse momento a colocação de Morales é interessante porque em determinado ponto de sua jornada Negan e os Salvadores o salvaram da morte iminente, logo, sua lealdade se voltou para aquele que o salvou. Isso já aconteceu diversas vezes no lado dos protagonistas.

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Em seguida temos o embate entre Morgan e Jesus com praticamente os mesmos argumentos. Jesus valorizando toda e qualquer vida mesmo em meio à guerra e entendendo que aquelas pessoas podem fazer parte do mundo que está por vir e Morgan, com pouquíssima sanidade, visando acabar com os Salvadores e cumprir com o que foi combinado em termos estratégicos. Há um confronto entre os personagens quando Jared e outros Salvadores escapam. Morgan quer matar todos e Jesus quer leva-los à Hilltop como prisioneiros.

De certa forma é difícil adaptar fielmente o Jesus dos quadrinhos para a mídia televisão, mas é incrível como Paul Monroe é apenas uma caricatura do personagem criado por Robert Kirkman. Suas características principais na HQ são as técnicas de luta corpo a corpo com um leve tom de exagero e seu escapismo, coisas que praticamente não vimos até aqui.

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Passando para o núcleo de Ezekiel e Carol, temos a continuidade dos eventos que ocorreram em “The Damned”. Eles estão indo em direção a outra base dos Salvadores mesmo sabendo que os vilões têm conhecimento disso. Mais uma vez é exaltada a confiança exacerbada, mesmo que teatral, de Ezekiel e novamente os protagonistas anteveem os fatos e surpreendem os Salvadores na parte tática.

Ezekiel e alguns outros soldados servem de isca e deixam-se vulneráveis de propósito enquanto Carol e os outros os flanqueiam e atiram. Em termos estratégicos é interessante a maioria dos planos, mesmo que todos não sejam tão claros ao espectador.

Daryl aparece apenas para matar Morales e o outo salvador que estava desarmado e rendido no final do episódio. Rick, no episódio de estreia, disse que apenas um precisava morrer, Negan no caso. E então, na sequência, ele e seu grupo matam dezenas de inimigos sem nenhum remorso aparente, mas quando Daryl os mata ele visivelmente faz uma cara de contrariado. Por quê? Porque ele conhecia o Morales? Pela promessa de liberdade que ele fez ao Salvador? Tentar humanizar o Rick, coincidindo com sua personalidade nos arcos que estão por vir é interessante, mas será que essas mudanças súbitas fazem sentido para quem está assistindo nesse momento?

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Pegando esse gancho podemos falar de Gregory. Personagem interessante, cínico, mas que se mantém constante desde que foi apresentado. É apenas um covarde que sabe-se lá como concebeu Hilltop e escondeu-se na sombra da comunidade.

Sua linha narrativa faz sentido, mas e a de Maggie? Depois de tudo que passou, e com a guerra acontecendo, há sentido em seu perdão? Novamente, o problema não é a ação desenfreada, mas como ela está sendo construída. O problema não são os personagens com tendências exageradas de perdão, mas sim como isso está sendo feito.

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O monólogo de Morales foi legal, mesmo achando que não justifique sua volta. Aaron é um personagem secundário que está ganhando mais espaço e suas cenas foram de certa forma emocionantes e consigo destacar algumas linhas de diálogos legais do Morgan, mesmo que repetidas à exaustão.

Em suma, Matt Negrete e Channing Powell escreveram “The Damned” parte 2, pois a história não avançou, a menos que se considere como avanço os mesmos fatos e discussões em locais diferentes. Aí sim avançou muito. E aquele Jared? Caricato da pior forma.

NOTA: 5.5/10