Crítica | The Walking Dead: World Beyond S02E01 — Fazendo o que já deviam ter feito

Ainda bem que AMC não voltou atrás da decisão de finalizar o segundo spin-off de The Walking Dead em sua 2ª temporada, já que isso mostra que não há grandes pretensões para esse tapa buraco no zumbiverso de Scott Gimple (e de Kirkman, não vamos esquecer) a não ser a de contextualizar o que não tinha espaço para ser contado na série principal e nem – será? – em Fear the Walking Dead.

Não que World Beyond carregue uma trama que se sustente por cinco e mais tantas temporadas (só a 1ª temporada podia ter sido contada em seis episódios no máximo), mas a questão é que o nome da franquia já está cansada, e se você ousa expandi-la usufruindo da mesmíssima fórmula o resultado não será menos do que um leve agrado igual doce na mão de criança após a coleta de sangue.

E sim, reconheço que eles ousaram jogando um tema jovial num gênero assumidamente degradante (e nem me refiro aos mortos), porém a execução não foi nada assertiva além dos poucos vislumbres vistos em The Sky is a Graveyard e em In This Life. Portanto, Konsekans parece entender isso e faz – até demais – o que a temporada inaugural não fez.

Hope é jogada numa missão que não só envereda na maturidade tanto dela quanto do show, como fala muito mais sobre a relação aparentemente distante entre Elizabeth e Huck (ou Jennifer), sendo a primeira uma mãe fria e cruel enquanto a segunda uma filha que herdou os mesmos dotes, mas suavizados o bastante para se importar com as irmãs Bennetts e o subaproveitado Felix, o que já basta para Elizabeth agir espertamente para renovar os status da filha para com ela e a própria CRM.

Afinal se formos puxar na memória vamos lembrar que Huck deixou de cumprir uma ordem de extermínio para matar seus companheiros de guerra pela vida de civis, em Truth or Dare. Como confiar numa pessoa dessas justamente quando o objetivo é fazer o “bem” com o mal?

Ver essa dualidade cria um bom terreno para um vindouro conflito entre mãe e filha, uma vez que Huck acobertou Iris e Félix como ela bem revela para Hope nos minutos finais. Basta alguém abrir o bico para que Elizabeth saiba da verdade e o pipoco coma solto. Só levanto a bola de que essa revelação já podia ter vindo há muito tempo lá no meio da 1ª temporada, já contextualizando muita coisa que não foi dita que com certeza impediria um episódio como In This Life, que contava de tudo e mais um pouco mas dependia do que ainda não aconteceu para que fizesse sentido.

O outro macro da história é a literal comida na mão e por isso soa menos interessante. É um núcleo que se sustenta em contar tudo que já vimos só que em outra perspectiva, dessa vez com direito a flashbacks narrados e fade-outs. Não é à toa que Matt Negrete precisa de uma mãozinha da montagem para brincar com o tempo e fazer fincar na cachola do espectador.

Tá bom que Iris mata a desconfiança de forma literal assassinando um soldado que brincava com a Nerf dele na madrugada, mas pelo amor, né… Uma menina que peida para morto-vivo ter o milagroso poder de assassinar uma pessoa mais forte e experiente que ela é forçar pano seco na esperança de sair água. Não colou. Mas se isso significa que teremos mais “aham” do que “mimimi”, então que venha.

Por um lado há um ponto positivo nessa parte ao responder àqueles que ainda duvidavam da relação do povo do Lixão com a organização, que, aqui, revela-se arrebatadora no prelúdio em que uma comunidade inteira é dizimada. É como ver uma nova ordem mundial tomando forma, eliminando as demais para governar como bem quiser, o que, óbvio, não vai demorar a cair por terra quando as pessoas transferidas passarem a notar os padrões e interferir, numa possível guerra civil — ou será que serão todos mortos antes da hora, assim como o doutor que tornou-se cobaia?

Tenho para mim que essa temporada terá de lidar com muita coisa que não foi feita lá atrás, que é firmar a maturidade da série por mais equivocada que seja a abordagem escolhida — Iris tinha que matar o soldado e Hope precisava desse tour, afinal. Cabe a nós aceitar ou não.

Mas se eu tiver que apostar nessa 2ª e última temporada minhas fichas vão direto no possível conflito entre mãe e filha pintado nesse começo. Agora só o tempo dirá se a série dará a volta por cima, ou será só mais outra com uma boa ideia desperdiçada.

Nota: 3/5


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Douglas Gomes
Douglas Gomes
Jogador profissional de banco imobiliário e apresentador de stand up no chuveiro. Nas horas vagas, tocador de guitarra de ar. Um crítico longe de medíocre.

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