Morgan Jones is dead. And you are dealing with somebody else now.
O primeiro spin-off de The Walking Dead nunca teve um verdadeiro propósito. Abandonou a premissa de abordar o começo do apocalipse logo de cara.
No ano seguinte, deixou o alto mar do qual a temporada fora tanto vendida para explorar aventurinhas da semana de ilha em ilha — sendo também uma cópia e cola do segundo ano da série-mãe, vale lembrar.
Em seu terceiro ano que, enfim, encontrou sua identidade, abordando questões filosóficas como o Destino Manifesto, junto a uma roupagem western da qual os showrunners atuais vem mantendo.
Por fim, repaginou toda a história em um reboot tão inserido as coxas que, olhando em retrospecto, concluímos que a série não passa de um circo gerenciado por palhaços regados à álcool e três quilos de pó.
E depois de uma quinta temporada tomada pelo marasmo e totalmente esquecível, minhas expectativas para o sexto ano estavam abaixo de zero.
Contudo (é com muita surpresa que insiro essa conjunção) a premiere chegou mostrando que talvez - só TALVEZ! – os showrunners tenham colocado a cachola no lugar, deixando de lado a boamocice e o blá blá blá desenfreado para enfim entregar a ação que precisávamos.
Num episódio núcleo, acompanhamos um Morgan calejado de olhos tão vermelhos quanto qualquer outro personagem de anime e, principalmente, invisível aos mortos.
Era de se esperar que a temporada não começasse do ponto onde parou, com Jones prestes a virar janta de zumbi, o que eu diria ser uma saída preguiçosa, mas ao mesmo tempo certeira. Pois aqui, em contraposto, o desvio é positivo já que o destino do personagem estava óbvio demais só por ter se tornado um gancho, o que me fez dar graças por não arrastarem o mistério como antes foi com a falsa e desnecessária morte de Glenn na temporada de mesmo número da série-mãe.
O roteiro assinado pela dupla de showrunners vai além de expor o destino do velho Jones, que só é entregue lá para a metade da projeção, insere também mais um dos divertidos elementos do oeste estadunidense com a vinda do caçador de recompensas Emile LaRoux e seu farejador Rufus. Contando também com um carismático ex-oficial da Marinha, Isaac.
O ritmo tem boa fluidez, por parte bem sucinto, que fazem os 52 minutos passarem rápidos demais, saindo do tédio habitual que vinha perdurando nos episódios anteriores.
A direção de Michael Satrazemis ajuda bastante nisso, embora simples, inserindo doses de tensão, seja durante a caçada ou no confronto final.
Tudo é pacientemente orquestrado para que nada fique de fora durante a ação, com a fotografia noturna do sempre excepcional Jalaludin Trautmann, o embate fica muito mais contemplativo, visível e entendível. Realmente a série-filha continua superior em termos técnicos.
Apesar disso, não posso ignorar algumas das falhas que ainda enraíza-se no roteiro desde o reboot: a conveniência. Não sabemos por quanto tempo Morgan ficou naquele estado, mas bastou retirar a necrose para que o ninja-paz-e-amor saísse enérgico decepando cabeças e bloqueando estradas mesmo depois de perder rios de sangue. (me fez lembrar Rick e seus 100 litros, em sua despedida).
Além do fato dele tirar a força diretamente do ânus para confrontar dezenas de zumbis e um matador, com apenas UM BRAÇO. Tá bom, zumbis até podemos relevar. Mas agora um homem relativamente mais alto e com a eficiência de decepar cabeças que nem manteiga? Acho que a lâmina era tramontina.
Aliás, denominá-lo de ninja-paz-e-amor é um equívoco da minha parte. Definitivamente presenciamos mais uma transição do personagem, largando o bastão para o machado e assumindo a persona do caubói vingativo.
Sua frase de efeito e também ameaça à Virgínia, por fim, vem para esclarecer de uma vez essa mudança. Creio que enfim teremos um Morgan Jones definitivamente estável, ainda capaz de ajudar sem a ingenuidade passada e também disposto a arrancar os órgãos de dentro para fora de seus inimigos — mais alguém lembra desse ato durante a batalha no reino?
Questões ficam em aberto como de costume. Quem seria o salvador anônimo de Morgan? Madison’s back? (ativei o modo Fear fan).
Qual a importância daquela chave passada de pescoço a pescoço, que fez dois desconhecidos esperarem enquanto pintavam e bordavam num submarino? Só o tempo dirá.
Ainda é muito - mais muito - cedo para termos esperança, pois ainda há quinze episódios pela frente, e a dupla de showrunners ainda pode estragar tudo num estalar de dedos. Mas que esse foi um leve suspiro em meio ao mar de bosta que tem sido a série, isso foi.
Aguardemos.
Nota: 4/5