Crítica | The Walking Dead: World Beyond S01E03 – Silas, o tigrão da Sucrilhos

Ao que aparenta, a primeira metade da 1ª temporada de The Walking Dead: World Beyond será exclusiva para explorar seus personagens em abordagens mais íntimas.

E se nos episódios anteriores essas vinham para mesclar com os acontecimentos do presente numa busca de um significado além, aqui a linha segue pelo mesmo caminho mas de modo menos explícito.

O grupinho acorda sem a presença da kamikaze Hope e não demoram a meter o pé para o escritório da fábrica, que, convenhamos, eles podiam muito bem ter ido ao invés de dormirem debaixo da fumaça, já que o caminho até lá foi fácil demais. Mas ok.

É durante o breve confinamento que o texto de Siavash Farahani dá espaço para o grandão Silas, ala Baby Driver que não vive sem os fones, brilhar em sua catarse.

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Na crítica anterior havia mencionado sobre o personagem ter matutado demais sua hesitação em matar o zumbi pichado e que provavelmente tinha algo nas entrelinhas. Aqui tudo é exemplificado com os poemas de William Blake, The Tyger e The Lamb, em espelhamento para com Silas.

No poema, o tigre é retrado como uma arma letal, uma parte sombria da alma humana que coincide nos momentos de fúria do rapaz vistos em flashbacks avulsos. 

E se for aprofundar mais um pouco, também simboliza o terror e o lado de pessimista que muitos tem do Criador por permitir as mazelas do mundo, aqui como um apocalipse zumbi. Já o cordeiro simboliza a alegria, o lado mais amoroso, misericordioso e justo do homem e de Deus.

A analogia ao tigre corresponde, então, com o medo que Silas tem de si próprio. O medo de explodir e repetir tudo de novo. Isso fica mais evidente quando ele afirma que nossos erros nos perseguem, o que leva o rapaz a hesitar até mesmo confrontar os mortos numa espécie de estresse pós-traumático semelhante ao que vimos em Alicia, na terrível 5ª temporada do primeiro derivado.

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A mensagem de seu pai citando uma passagem de Isaías, no fim, ressalta que apesar de tudo Silas é um bom garoto aos olhos do “cordeiro”. Nada fica muito explícito, mas é evidente de que ele cometeu algum crime no passado e isso lhe desencadeou uma raiva da qual tanto tenta evitar, estilo Bruce Banner. 

Teria ele matado os próprios pais?

Enfim, manter esse mistério é um golpe certeiro para nos atiçar à buscar mais sobre o personagem e sua jornada.

Provavelmente o veremos em algum momento pistola das ideias, esbravejando para todos os lados e segurando mais pilhas de pneus onde os x9s são torrados  — o moleque é o incrível Hulk, ninguém peita.

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Laços são firmados ainda mais aqui. Podemos assimilar Iris como o cordeiro também, tanto pela sua bondade e inocência quanto por se aproximar de Silas como um ombro amigo.

Sua aceitação da verdade dita por Hope é crível e fecha o ciclo para que uma relação mais aberta seja abraçada dali em diante. Não há mais peso nas costas, pelo menos não por agora.

Sobre a presença de Félix e Huck… bem, eles estão lá. Querer ficar injuriado pela a vinda repentina deles seria chatice minha, por mais estranho que tenha sido. Félix simplesmente brotou atrás de uma porta emperrada. Só faltou a frase do Tiririca antes de entrar — “adivinha quem tá falando?”.

A corrida para fora do blaze realmente teve picos de tensão que me deixaram imerso.

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Sharat Raju, no setor da direção, soube manejar bem pequenas doses de suspense ao deixar os mortos mais escondidos no fumaceiro e nas sombras dentro da fábrica (gostei do zumbi cearense destruindo a portinhola com a cabeça, mesmo que para derrubá-los no twdverso só basta um sopro).

O slow motion, mesmo exagerado, também entra para aprofundar certos trechos, em especial ao momento engradecido em que as irmãs matam seus primeiríssimos zumbis.

Nos flashbacks (e bota flash nisso) há uma leve palidez das cores que tira toda a vivência da série que Ross Riege vinha imprimindo desde o piloto, transmitindo algo muito mais soturno.

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Por último, temos o retorno de Elizabeth com uma postura um pouco diferente do que já vimos.

Barca, um de seus soldados, se mostra arrependido do que fez em Omaha, levando ela a discursar de tudo e mais um pouco para expor a super potencia que eles são (200 mil pessoas foi de capotar o corsa).

A sequência realmente me fez pensar que o sujeito aborrecido fosse tomar um tecão no meio da testa, mas o que temos é uma Tenente pé no chão, racional e um pouco emotiva. O que me rendeu uma coçada de cabeça.

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Houve mesmo um arrependimento do que feito? Pelo jeito, tudo não passa de um teatro. Talvez soe como um pronuncio para os finalmente, nos levando as crer que ela possa poupar os jovens no momento decisivo.

Ou não. É tudo questão de tempo. Mas que ficou estranho, ficou.

The Tyger and the Lamb é bom em sua proposta de explorar a dualidade da alma. Por mais que tenhamos de engolir algumas brechas do roteiro que não avança muito, vale a pena a investida de trabalhar de modo simbólico o lado sombrio de um dos jovens.

Se a primeira parte manter-se firme no seu propósito de modo balanceado, acredito que teremos uma boa condução de tramas e desenvolvimentos individuais e coletivos que vão pôr os dois primeiros anos de Fear para mamar. Veremos.

Nota: 3/5


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Douglas Gomes
Douglas Gomes
Jogador profissional de banco imobiliário e apresentador de stand up no chuveiro. Nas horas vagas, tocador de guitarra de ar. Um crítico longe de medíocre.

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