Dando sequência à série de episódios “fillers” da décima temporada, tivemos “One more”. Dirigido por Laura Belsey (a mesma diretora do episódio das estacas), e roteirizado pela dupla Jim Barney e Erik Mountain, o episódio é focado em Padre Gabriel e Aaron.
Logo de antemão digo que gostei do episódio, o melhor dessa terceira parte da temporada até agora.
Com uma fotografia agradável e muito sutil em seus detalhes, uma edição e mixagem de som muito boa (o que não é muito comum na série), e um enquadramento de câmeras que me agradou muito, pelo menos até a metade do episódio, devo dizer que o roteiro foi único quesito que consegui detectar algo negativo na parte técnica.
Tiveram algumas conveniências no roteiro para fazer a trama rodar, e por isso alguns momentos não dá uma impressão da história estar fluindo naturalmente. É como se a história tivesse de ser contada, e a mensagem intrínseca é muito importante, mas o modo para se chegar do ponto A, ao ponto B é muito disruptivo, e aí você toma decisões preguiçosas, corta caminho, usa um Deus ex machina.
Mas claro, dentro dos padrões TWD, a dupla de roteiristas se saiu bem. Não foi de longe o pior roteiro da série. O tema do episódio, e como ele foi discutido, foi muito importante, e conseguiu dar mais profundidade aos personagens que, mesmo líderes do grupo, não têm muito tempo de tela para podermos acompanhar mais de perto seu desenvolvimento.
Depois da guerra contra os Sussurradores, Padre Gabriel e Aaron buscam mantimentos para seu grupo, guiados por um mapa desenhado por Maggie. Detalhe que não conseguiram nada do que tinha no mapa.
Enquanto procuram pelos mantimentos eles se deparam ao longo da jornada com várias pessoas mortas, e em sua maioria assassinada por outros humanos, e então a busca por mantimentos, se torna inconscientemente uma busca pelo resgate da fé.
De que as coisas podem voltar a ser como era antes, que mesmo num mundo poluído por dor e morte, ainda exista pessoas boas. E ambos personagens precisam disso, pois são abastecidos pela vontade de salvar pessoas, mesmo quando elas não querem ser salvas.
Aaron
Aaron começa o episódio visivelmente cansado, e não querendo mais saber de mais nada além de voltar para e sua filha.
Conforme vai avançando o episódio podemos notar como os corpos que eles vão encontrando pelo caminho mexem com seu emocional já abalado. Em um dos locais listados por Maggie no mapa, o Padre sobe no teto do que parece ser uma loja de conveniências para poder invadir por cima, já que a entrada principal está inacessível.
E nisso, se depara com uma família, à princípio, que escolheu morrer de fome, à lutar por suas vidas. É uma cena muito pesada. Padre então decide poupar o amigo dos detalhes do local, para que ele não abandonasse a missão. No decorrer do episódio podemos ver na dupla uma afinidade no nível “Rick & Daryl”.
Uma aventura com momentos engraçados, como Gabriel caindo de cara na lama, e Aaron tirando sarro da cena, e mais tarde Gabriel dando o troco, ao se mijar de rir do grito apavorado de Aaron por se assustar com um javali preso no armazém que eles encontram.
E também momentos tensos e dramáticos, com a dupla debatendo sobre a fé, sobretudo a fé de Gabriel. Gosto da sua evolução no episódio, de como ele partiu de alguém exausto de tudo, e terminou o episódio renovado, com seu propósito principal restaurado.
Padre Gabriel
Padre Gabriel tem uma das evoluções mais interessantes na série. Desde sua primeira aparição na 5° temporada ele passou por um processo desconstrução da fé não linear.
Sua fé nunca foi forte o suficiente para se tornar um líder religioso respeitável. Ele sempre se questionou muito sobre suas escolhas, e nos momentos cruciais em sua vida, suas ações eram sempre movidas pelo medo.
Ao longo das temporadas, ele meio que abandonou a idealização de como deveria ser visto como líder religioso, e abraçou a sua escuridão e mostrou ao mundo como ele realmente queria ser. Quem ele era. Um homem.
No episódio ele comenta sobre seu “mentor”, e como liderava por suas ações não-ortodoxas, e não por palavras pregadas em um púlpito. Ele aprende com seu mentor, que as pessoas não precisam de palavras bonitas num domingo de manhã, ou numa missa de sétimo dia, mas de não se sentirem sozinhos, vulneráveis.
Fica claro no episódio que é a mesma linha que Gabriel segue, mesmo que não perceba. Ele mostra no final do episódio que ele tem muito bem estabelecido em sua cabeça, a sua definição de fé, sobretudo a fé raciocinada. Que é a fé que permanece em constante contato com a razão, isto é, busca sempre um saber mais amplo, argumenta e se questiona. Ele consegue fazer uma leitura do que pode acontecer se trouxesse um homem quebrado pelo mundo apocalíptico, para dentro de seu grupo, de sua família, e percebe que não vale a pena correr o risco.
Mays
Personagem interpretado por Robert Patrick (conhecido na cultura pop por interpretar T1000 no filme Exterminador do Futuro) foi extremamente caricato e também foi um dos pontos negativos do episódio.
Não sei se entendi, ou se entendi e achei fraquíssimo, mas a motivação do vilão, para mim, foi nula. Não gosto muito de vilões estilo “Maquiavel”, que quer o mal pelo mal. Afinal, porque ele se incomodou tanto e quis fazer jogos mortais com a dupla? Pelo javali? Por tédio? Por ter ouvido a conversa do Gabriel e se incomodado com isso?
Enfim, fraco. Assim como toda sequencia da roleta russa. Em vários momentos Gabriel poderia ter agido como fez no final, mas deixou rolar. E quando finalmente Gabriel quebra o personagem, toda sua argumentação de “o ser humano é mal não importa o que aconteça”, cai por terra, e no segundo seguinte o personagem fica bom.
Felizmente não teve tempo para sabermos se era verdade ou não. RIP.
Pontos negativos
Acho que o que mais me incomodou foram os artifícios utilizados para mover o roteiro, como uma chuva que surge DO NADA, que apaga suas pegadas, impossibilitando de voltar, e forçando-o a ir em diante.
Ou então você perder um mapa da maneiras “Os Trapalhões” porque o personagem tem 100 anos de curso, mas ainda entra na lama, sabendo que pode haver zumbis. Detalhe que cenas antes ele entrou numa mata fechada e se certificou de não cair em zumbis no chão.
Óbvio que não tinha como jogar o despertador na lama, mas porque tal dispersão num ambiente visivelmente hostil?
E claro, a cena roleta russa piegas, que você já deve ter visto em muitos filmes e séries e provavelmente continuará vendo na cultura pop. Eu gostaria que tivessem feito com uma Colt, ou “a” Colt, para dar aquele “TBT” maroto.
Nota: 7,0 / 10
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