Crítica | The Walking Dead World Beyond — S02E04: Acendendo o pavio

Finalmente World Beyond está se adiantada em seu quesito. Mas vamos com calma porque ainda é cedo para comemorar, ainda que eu acredite que daqui para frente a trama só irá deslanchar considerando a preparação que foi os três últimos episódios e mais do que na hora, o “desfecho”. Afinal, Family Is a Four Letter Word é o proverbial divisor de águas – ou pau na mesa para os mais íntimos – que fecha questões pendentes.

A começar por Jennifer (Annet Mahendru) que acuada pelo que fez não consegue passar um minuto sequer sem olhar para o povo com cara de cu, o que já suficiente para sair numa trilha que quase lhe custa a vida duas vezes (um zumbi cheira seu cangote e, mais tarde, ela fica moscando em campo aberto em tempo de levar um kappa do emo gótico). É nessa que Will (Jelani Alladin) e Félix (Nico Tortorella) surgem e revelam de tudo mais um pouco. E como filha de peixe, peixinho é, ela com muito receio acredita e não demora a confrontar a mãe para saber a verdade. 

Devo dizer que a atriz realmente me convenceu aqui. Ela consegue transparecer perfeitamente um misto de culpa e confusão, sendo o segundo muito bem reforçado pelos flashbacks sabiamente usados por Aisha Tyler (só dá mulher na direção, não é?) que viajam entre momentos alternados da ida de Jennifer – ou Huck – até Omaha, e também pela distante relação com Elizabeth (Julia Ormond) que evita a todo custo o coração falar mais alto, mesmo que isso signifique mentir ou quebrar o braço da própria filha. Profissionalismo que fala, né? 

Enquanto isso Silas Plaskett (Hal Cumpston) é jogado numa espécie de rito de passagem que desperta o Tigrão que existe dentro dele, rendendo boas lucilizadas na zumbizada (definitivamente, Silas é uma fusão de Negan com Beta e o Totoro), mas que no final fala muito mais do seu lugar no mundo. 

Ao mesmo tempo, a conversa que tem com Dennis (Maximilian Osinski) parece muito mais sobre o soldado do que o grandão taciturno. Mesmo que ainda falte muito para sabermos sobre ele, Dennis parece estar tão perdido quanto Silas. Esse assunto de querer fugir mas não ter um lugar para ir deve ser o motivo do soldado ter ido parar naquela zona de abate de putrefatos. Há boas relações entre os dois e o gosto musical espelha bem isso (aliás, viram o easter-egg do Half Moon?), assim como ambos os atores que trazem uma química até convincente. 

Para nossa alegria o lado jovial foi ofuscado aqui. Está presente, claro, mas não incomoda tanto quanto antes. Os momentos entre Iris (Aliyah Royale) e Hope (Alexa Mansour), Iris e Percy (Ted Sutherland) são sucintos e casam bem com o amadurecimento dos personagens e do próprio programa. É só ver como Iris hesita em contar toda a verdade para Hope só pelo seu anseio de vingança, temendo que ela estrague tudo, e como a segunda parece enxergar o que os poucos dias no pseudo-paraíso lhe fizeram.

Até no lado de Elton (Nicolas Cantu) e Asha (Madelyn Kientz) que serve para catapultar uma nova problemática numa conveniência perdoável, que é o segredo de Indira estar com uma doença terminal cujo o mistério me rendeu uma sobrancelha arqueada, mas que provavelmente tenha a ver com conflitos internos passados ou algo assim. Isso o tempo responde. 

Como apontei no começo da temporada, minhas fichas iam direto no conflito entre mãe e filha que se antes parecia imaginação, agora tem tudo para se tornar realidade.

O pavio foi aceso. Tudo depende do quão curto Matt Negrete o deixou para explodi-lo de vez, ou quão longo está para que simplesmente a faísca apague no caminho. 

Nota: 3,5/5


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Douglas Gomes
Douglas Gomes
Jogador profissional de banco imobiliário e apresentador de stand up no chuveiro. Nas horas vagas, tocador de guitarra de ar. Um crítico longe de medíocre.

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