Análise Longa: The Walking Dead 3ª Temporada Episódio 6 “Hounded”

Análises Longas são são textos mais aprofundados e elaborados dos episódios de The Walking Dead, feitos por Tiago Toy, escritor e autor da saga “Terra Morta“, lançada pela editora Draco, que conta a história de uma epidemia zumbi ambientada em São Paulo. Atualmente trabalha na continuação do livro, no roteiro de uma HQ e na organização de uma coletânea, ambas baseadas no universo de “Terra Morta”.

ATENÇÃO: O texto abaixo apresenta spoilers, tanto da série quanto dos quadrinhos.

 

É incrível como as pessoas precisam de alguém para julgar. Discussões a favor da igualdade para mulheres e outros seletos grupos banham as páginas da internet, mas o dedo parece ser mais forte e não há como deixar de aponta-lo em sinal de crucificação. “Vagabunda”, é o que dizem. Claro que começo a análise de Hounded, sexto episódio da terceira temporada de The Walking Dead, falando sobre a suposta nova Lori: Andrea.

 

Na episódio anterior, defendi sua posição em não confiar nos instintos de Michonne e abandonar a aparente segurança de Woodbury. Que O Governador é um potencial psicopata nós sabemos; que a cidade não é o lar-doce-lar que se apresenta também sabemos; que Michonne, por mais paranoica que seja, está certa em relação a tudo isso com certeza sabemos. Andrea não é nós. Ela não sabe. Ela não tem motivo algum para deixar o refúgio erguido por Philip, e definitivamente não tem motivo para não se apaixonar pelo próprio. O cara é confiante, manda e desmanda naquela joça, é inteligente, charmoso, tem uma postura intimidadora. Preciso dizer mais? É obvio que Andrea fez bem em ficar e ir para a cama com ele. Sim, ela se dá de corpo e alma a’O Governador, finalmente. Nada do que ela está fazendo é errado. Em um mundo onde as escolhas são definitivas, o certo é o que for melhor pra você.

 

Desabafos a parte, Hounded começa com Merle e alguns paus-mandados perseguindo os rastros de Michonne pela floresta. Não é surpresa que não deixariam a espadachim ir embora assim, sem mais nem menos. Continuo firme na tecla de que Michonne é uma personagem inverossímil por demais. Ela é muito pancada da cabeça, caso contrário não teria perdido tempo desmembrando zumbis para escrever GO BACK (o back representado pelas costas de um errante) em uma clareira. Se ela queria assustar Merle não sei se obteve êxito; mas ser tirada como louca (por mim) sim.

 

Sua habilidades se mostram mais precisas do que pensávamos, e basta um segundo de desatenção para que sua katana a la Metal Gear Rising: Revengeance ligue no modo fatiador e faça a festa dos fãs de gore. Não há tempo para respirar nem pedir por favor. A mulata não tem dó nem dos mais moleques. Sua história, se for contada em algum flashback (e espero que seja, como foi feito nos quadrinhos) deve ter sido brutal; seria a única explicação para uma imagem tão vingadora do futuro. Ainda nutro esperanças de vê-la mais real. Talvez sua chegada à prisão traga uma humana à tona. Não consigo não compará-la ao protagonista de O Livro de Eli (se não assistiram, parem tudo que estão fazendo e vão). Após anos vagando sozinho em um mundo pós-apocalíptico, Eli incorporou uma postura parecida e se tornou uma máquina de matar em prol de sua sobrevivência, mas ainda o acho mais crível do que Michonne.

 

Ferida por um tiro disparado por Merle, ela foge mancando e se embrenha na floresta. Em uma daquelas cenas divertidas de tão nojentas, Michonne toma um banho de tripas, sangue e intestino, nos rendendo deliciosas gargalhadas. Não fosse cômico, seria trágico. O fato de estar fedendo mais que penico comunitário de cadeia lhe confere uma vantagem: um pequeno grupo de mortos-vivos atravessa seu caminho, mas não dá a mínima. É aquele tipo de coisa que acontece quando é mais conveniente. A sacada dos zumbis se reconhecerem pelo cheiro é boa, mas ainda não engulo aquele buraco – não, cratera – do começo da segunda temporada quando os sobreviventes se esconderam sob os veículos enquanto uma horda passava pelo local. Ninguém foi descoberto, e ninguém estava sujo de fluídos de zumbis. Talvez cheirar como eles os afaste, mas não é garantia de que não te encontrarão se você estiver limpinho. Pode ou não acontecer; depende do que o roteiro pede. Conveniência.

 

Na prisão, Rick tem uma estranha conversa com uma mulher por telefone. Ela diz fazer parte de um grupo e, talvez, possa ajuda-lo; porém, terá que conversar com seu líder antes. Me decepcionei quando não ouvi a voz de Lori do outro lado da linha. Nos quadrinhos, após a morte de Lori no fim do arco da prisão, Rick mantém conversas com a esposa morta por um telefone durante dias. É de um prazer mórbido vê-lo galgando pouco a pouco os degraus da loucura. Tinha certeza de que seria nesse momento da série a adaptação da ideia original, então brochei aos ouvir pessoas normais sugerindo ajuda ao ex-policial. Claro que depois do segundo telefonema senti que havia algo estranho ali, e o tesão foi voltando aos poucos. Mais uma vez, aconteceu algo da HQ diferente da HQ. No fim das contas, Rick descobre que “conversou” com os falecidos Amy, Jim, Jacqui e, claro, Lori. É a última chance de dizer tudo o que devia ter dito quando a mulher ainda vivia. Pedidos de perdão, declarações de amor. Quando havia ficado claro que Rick se podia piorar, eis que um balde de água fria é jogado sobre sua cabeça quente e ele conclui que a vida continua. Não adianta se lamentar. Há uma filha para criar, há Carl. Os outros aguardam para continuarem conduzidos pelo líder. Lori é página virada, uma ligação perdida.

 

Podemos conhecer um pouco do passado de Daryl quando ele continua as buscas por Carol, que ainda não deu sinal de vida. Ele conta a Carl que sua mãe, uma alcoólatra, acabou morrendo queimada na cama por seu próprio descuido, pois costumava beber e fumar deitada. Conta que não tinha bicicleta (sinal de que era pobre, nenhuma novidade até aí), e que não achou real quando as pessoas disseram que havia sido melhor daquele jeito. Carl
aproveita para desabafar sobre ter atirado em sua mãe, o que eu ainda não engoli. Tenho quase certeza de que Lori ainda vai aparecer, vagando zumbificada após sair do armário onde Carl provavelmente a prendeu. Ora, isso é uma análise, e é no que acredito. Sinto que ela está bem morta, sim, mas que continua andando. Carl não teve coragem de atirar. Me resta esperar para descobrir seu minha suspeita tem algum fundamento.

 

Enquanto isso, Glenn e Maggie vão em busca de suprimentos. Já saquei uma marca da série: se alguém está todo sorrisos em uma típica cena feliz, é quase certo que algo bem ruim vai acontecer em seguida, e não tarda. Mal encontram suprimentos em quantidade considerável, se deparam com Merle, que leva um tempo para reconhecer o japa. O maneta ainda tenta se mostrar confiável e deixa a arma no chão, sob a mira do casal armado, mas diante da desconfiança geral, saca um revólver das costas e sai atirando como um louco. Tudo acontece rápido demais e Glenn não consegue evitar que Maggie acabe nos braços do caipira. Sem escolha, Glenn e Maggie são levados a Woodbury.

 

Hora do “acho”! Acho que aquela conversa toda de que Rick perderia a mão por ter deixado Merle à própria sorte, como forma de vingança, o velho olho-por-olho, não será como pensávamos. Nos quadrinhos, Rick e Michonne são mantidos reféns em Woodbury e, enquanto ela é estuprada até não conseguir mais sentir a periquita, Rick tem a mão amputada  em uma daquelas cenas que acabam se tornando icônicas. Parece que, novamente, a série vai seguir seu próprio caminho em sua realidade alternativa e, infelizmente para o casal mais fofo do momento, os papéis serão invertidos; ou seja, Maggie se tornará brinquedinho sexual d’O Governador, enquanto Glenn vai perder a mãozinha amarela. Não vou declarar que espero que isso não aconteça. Nada podemos pedir, apenas assistir e sofrer. The Walking Dead é nossa fonte de masoquismo. Sabemos que muitos ainda morrerão, que ainda vamos xingar muitos vilões. Shane é a prova de que um grande filho da puta não vai destruir a audiência; pelo contrário, a série ganha cada vez mais força.

 

A sorte de Glenn e Maggie é que todo o acontecido foi presenciado por uma Michonne que estava escondida atrás de um carro. A espadachim pega os suprimentos deixados e parte em busca da prisão. Após Rick recuperar a sanidade e aceitar, por fim, a nova filha (claro, depois de tomar um banho, pois ele aparece bem mais apresentável do que quando trocava figurinhas pelo telefone), sai com a bebê nos braços para o ar livre, seguido pelos amigos, e se depara com a mulata em meio aos zumbis que cercam a prisão. Michonne quase pode ser comparada a um deles, não fosse a cesta na mão e o olhar bastante vivo.

 

Felizmente, não foi dessa vez que tivemos outra amarga surpresa, como quando Sophia saiu do celeiro, e Daryl, desconsolado por ter perdido Carol, a encontra fraca e abatida atrás de uma porta. Viva, graças. Hora da cena do resgate da princesa (de cabelo branco) pelo príncipe (caipira). Um sorriso de “Obrigado, diretor, por não matar a Carol” estampa o rosto de quem se importa com os personagens.

 

Hounded dá passos lentos a um destino cruel. Se a primeira temporada serviu para nos apresentar ao mundo de The Walking Dead, e a segunda para nos apresentar aos personagens, essa terceira tem como missão principal nos calejar para suportar perdas irreparáveis, mortes injustas e violência gratuita. Ora, estamos falando de uma série de mortos-vivos. Isso é o mínimo que devemos esperar. Eu já estou me preparando para o pior.


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Redação
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"We are surrounded by the dead. We're among them and when we finally give up, we become them! Don't you get it? WE ARE THE WALKING DEAD!"

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