Adaptações de outras mídias para games tendem a ser, na melhor das expectativas, medíocres e voltadas para o público infantil. Sabemos como funciona: aquele novo filme ou aquela nova série acaba tendo sua trama adaptada para praticamente todos os consoles da geração atual e da anterior. O resultado é mais um jogo extremamente linear onde você já sabe o final e o único entretenimento é poder controlar alguns personagens queridos.
Este é um mercado que sempre vai existir, que se resume a uma isca de venda para consumidores que adquirem produtos às cegas para seus filhos. Mas com uma base tão imensa de jogadores hardcores, já passou e muito da hora de produtoras investirem em conteúdo realmente envolvente para fãs de séries.
Dragon Ball começou a trilhar este caminho mais iluminado com a série Dragon Ball Xenoverse, que apresentou tramas originais, ao invés de simplesmente repetir as histórias do mangá/anime. Bem, Xenoverse acaba de fato REPETINDO todas as lutas de Dragon Ball Z, mas pelo menos apresenta um contexto minimamente interessante.
Uma história decente
Ao contrário de Xenoverse que constrói uma narrativa em torno de revisitar eventos passados, Dragon Ball FighterZ aperfeiçoa essa ideia de enredos originais em games e cria uma experiência realmente nova.
O que FighterZ faz é basicamente o que temos em One Piece: Unlimited World Red. Uma história filler de qualidade, apresentando novos personagens, com uma boa trama e que se fecha em si mesma, afinal, não é um evento canon – mas bem que poderia, pois a Androide 21 é realmente carismática.
O período em que a história se passa também é bem conveniente. Com Dragon Ball Super mais popular do que nunca, é óbvio que os novos personagens e transformações não poderiam ficar de fora. Na verdade o material promocional do jogo mostrou à exaustão as formas Super Saiyajin Blue e é exatamente neste ponto que FighterZ acontece, com a Bulma de DB Super interagindo com Goku, Beerus e Whis.
Aliás, fãs mais aficionados perceberão outro ponto muito interessante, que dá ainda mais valor a este jogo. Com a recente morte de Hiromi Tsuru, a dubladora japonesa de Bulma desde o início de Dragon Ball nos anos 80, esta é a última oportunidade de ouvi-la em seu papel.
Porradaria de qualidade
Não é só de história que vive um game, ainda mais um de Dragon Ball. Uma boa porradaria é essencial e é aí que FighterZ realmente brilha.
Jogos de luta alcançaram um belo nível de maturidade, sendo capazes de trabalhar bem a dualidade de atrair jogadores casuais ao mesmo tempo que mantém os hardcores. FighterZ têm todos esses elementos bem encaixados em um cenário 2D. São combos extremamente simples de executar (basta apertar várias vezes o mesmo botão para uma bela finalização), grandes explosões, gráficos excepcionais e poses e frases copiadas diretamente do anime.
O balanceamento entre personagens é impecável, então não se preocupe em usar o Kuririn contra Freeza ou Cell, pois o seu Kienzan vai causar dano. O fator decisivo para vencer lutas são os próprios reflexos para atacar e defender, pois a ação é rápida, MUITO rápida.
E se o modo história for muito fácil para você, experimente algumas das salas para partidas online. Há todo um sistema de desenvolvimento com rankings e itens, que contribuem bastante para o fator replay – que seria bem maior se houvesse mais personagens à disposição.
Contudo, apesar de oferecer apenas 24 personagens selecionáveis (desconsiderando os DLCs futuros), não espere que todos vão apenas dar os mesmos socos e jogar algumas energias. Há peculiaridades nos estilos de combate, como Piccolo que pode esticar seus braços, ou Hit que tem uma boa variedade de counters.
Realmente feito de fã para fã
Obviamente que os profissionais envolvidos na produção de um jogo têm uma boa noção de toda a história da franquia. Mas dá para perceber que a Arc System Works fez questão de ter aquele envolvimento de fãs de Dragon Ball nos diálogos cuidadosamente construídos, pensando sempre nas interações passadas dos personagens e como eles reagiriam atualmente, além das poses fielmente adaptadas no meio das lutas.
Afinal, não é só gritar o nome do golpe, é a forma como você monta toda a situação. Sabemos que o anime e os dubladores japoneses têm esse esmero. Mas ver esse nível de dedicação em uma outra mídia surpreende e proporciona uma grande satisfação para os fãs que cresceram assistindo Dragon Ball.
Pontos Positivos
– Fácil de dominar os comandos básicos.
– Gráficos espetaculares.
– Ótimo modo história, com cenas fiéis ao anime e diálogos inéditos divertidos.
– Conteúdo de Dragon Ball Super até a saga do Goku Black.
Pontos Negativos
– Relativamente poucos personagens à disposição.
– Servidores sobrecarregados com certa frequência (à época do lançamento).
– Tradução em português deixa a desejar mais uma vez em jogos da Bandai.
Em Resumo
Se você é um grande fã de Dragon Ball, esqueça Xenoverse. FighterZ tem muito mais a oferecer e apresenta a experiência definitiva em Dragon Ball até o momento. Nota 9,5.