Deve ser uma experiência bem excitante ser Norman Reedus esses dias.
Ele não só está em The Walking Dead, um dos mais aclamados programas de TV do ano, mas também interpreta um dos personagens mais queridos da série. Você pergunta o porquê? Meu colega escritor The TV Czar explica melhor no artigo “5 Estrelas de TV Que Você Deve Conferir”:
Ele conseguiu transformar esse personagem caipira tacanha e racista em alguém que a audiência ama e pelo qual ela torce. Ele também parece ser um dos poucos personagens do programa capaz de manter o bom senso enquanto encara um apocalipse zumbi. Ele deveria ao menos conseguir uma indicação ao Globo de Ouro somente por isso.
Para coroar, Norman não apenas jaz sobre os louros da glória como usa sua imagem para ajudar causas de mérito através de seu website e com sua fotografia que você pode comprar no Charity Buzz (todo o dinheiro vai para caridade).
A Daemon’s TV foi sortuda o suficiente para conseguir conversar com Norman nessa época interessante e lhe fazer algumas perguntas inquietantes sobre o último episódio de TWD, o que devemos esperar no retorno do programa no ano que vem e em qual programa ele gostaria de fazer uma participação especial. Confira o que ele teve a dizer abaixo e não esqueça de assistir os novos episódios de The Walking Dead que volta em 12 de fevereiro.
Parabéns pela ótima segunda temporada que “The Walking Dead” têm tido até agora.
NR: Sim, obrigado. Eu acho que depois do oitavo episódio fica ainda melhor, pra falar a verdade.
A saída de Sophia de dentro do celeiro no último episódio foi chocante. Você sabia o tempo todo que isso iria acontecer?
NR: Nós não sabíamos que ia acontecer. Nós meio que tínhamos uma ideia, mas nos deram nossos scripts pouco antes de filmarmos. Então nós não sabíamos como certeza, mas tínhamos uma boa ideia de que isso aconteceria.
Você suspeitava de que ela estava por perto?
NR: Sim, e também tinha um papo de que talvez Merle estivesse com ela. Tinha um papo de que talvez ela tivesse se juntado a outro grupo. Sempre há conversas no nosso set sobre o que vai acontecer, mas acho que nós meio que sabíamos o que ia acontecer.
Aquela cena foi muito bem filmada e tão comovente.
NR: Foi emotivo. Tem muita coisa acontecendo ali. A família de Hershel estava no celeiro. Eles são soltos. Tem toda uma linha narrativa de Hershel assistindo sua família e seus vizinhos sendo executados quando ele não acredita que eles não são mais humanos. Ele crê que eles estão apenas doentes. Tem a linha narrativa com Carol percebendo que Sophia agora é um walker. Há também a linha narrativa de Rick e Shane, Shane e Rick meio que brigando pelo poder. Tem a linha narrativa com a esposa de Rick. Tem muita coisa acontecendo ali.
Nós filmamos aquilo, levamos um bom tempo filmando aquela cena e também tinham tantos explosivos cenográficos e tantas balas e tanta maquiagem para os walkers. Então, tem muita coisa rolando ali. Madison [Lintz] e eu ficamos muito próximos nesse set. Eu gosto muito daquela menina e nós tínhamos outra linha narrativa rolando no começo da temporada na qual eu dou pra ela vários olhares de desaprovação. Ela me dá vários olhares de desaprovação. É como duas criancinhas que antes de ficarem amigos ficam olhando torto um para o outro como eles se odiassem. Eu sempre achei engraçado uma garotinha fazendo isso com um adulto e ele agindo feito criança. Tinha essa linha narrativa rolando. Tinha muita coisa rolando. Carol realmente tinha que fazer estardalhaço aquele dia porque era a filha dela e foi um longo dia de pranto, gritos e correria.
Você sabe algo sobre seu personagem que talvez o resto do elenco não saiba?
NR: Ás vezes. Em situações diferentes, sim. Tem uma história por trás do por que Daryl está procurando por Sophia com tanto empenho. Ele foi uma criança maltratada e ele foi largado e ele meio que está superando seus próprios demônios ao procurar essa garotinha. Ele acha que ele puder achá-la ele vai conseguir derrotar alguns desses demônios. Eu estou coberto de cicatrizes por debaixo da minha camisa. Toda aquela coisa da Carol me trazer sopa na cama quando eu voltei depois de ter caído no barranco e tudo o mais. Ela diz ‘Você é tão bom quanto eles’. Então, eu sabia a história por trás daquilo de antemão.
Enquanto estamos fazendo cenas, como quando eu abro o walker com Rick para ver se ele comeu alguém recentemente, nós encontramos o esquilo no estômago dele; eu sei a história por trás das cicatrizes enquanto estamos filmando aquela cena. Estou tentando plantar pequenos momentos porque eu sei que ela vai dizer ‘Você é tão bom quanto eles’. Então, estou tentando plantar pequenos momentos onde eu faço o trabalho sujo para o grupo. Como quando ele [Rick] vai abrir o zumbi e eu digo ‘Eu faço isso’. Estou tentando me fazer de piscineiro ou de jardineiro e fazendo o trabalho sujo. Eu estou tentado encontrar pequenos momentos para que a fala ‘Você é tão bom quanto eles’ faça sentido. Eu estou tentando plantar pequenas sementes quando acho que não está crível. Algumas vezes eu consigo e algumas vezes eu posso trabalhar nelas durante o trajeto.
Eu presumo que o último incidente vai impactar o entendimento mútuo que Daryl e Carol estavam desenvolvendo. É isso mesmo?
NR: Sim. Nós temos mesmo uma espécie de vínculo especial, e não é tão pro romântico, pois acho que é mais pessoas feridas se aliando a pessoas feridas. Eles meio que gravitam ao redor um do outro. Eu acho isso mais interessante. Nós estamos falando que devíamos fazer um spin off chamado “Daryl e Carol” onde nós moramos no Central Park e ainda haveria uma quietude entre as árvores no Central Park e ela estaria tricotando cobertores num banco e as pessoas chegariam nela e perguntariam ‘Você sabe aonde fica a Estátua da Liberdade?’ ‘Vai se f***r! O que você está olhando?’ Nós tínhamos uma música-tema que era [cantando] ‘Carol é brutal e Daryl é brutal, uma dupla infernal’.* Nunca se sabe. Quanto a algo romântico, não faço ideia se é algo que está planejado. Eu acho que é quase mais interessante se não acontecer, pra ser sincero.
* Carol is feral and Daryl feral, a match made in hell
Você pode dar algumas dicas sobre os próximos episódios?
NR: Eu posso dizer que na segunda parte, depois do hiato, as pessoas vão se encher de conversar. Vai ter todo o tipo de acontecimentos energéticos e impressionantes daqui em diante. Vai ter muito mais ação. Na primeira parte da temporada, as coisas desaceleram quando as pessoas tem que conversar. Simplesmente é assim que funciona. Acho que os escritores fizeram um ótimo trabalho construindo linhas narrativas e as explicando quando era necessário, sem muita conversa sem muita reflexão. Há certas coisas que precisam ser ditas para manter a história seguindo adiante e acho que eles fizeram um bom trabalho com isso. Eu sei que quando as pessoas assistem o programa elas ficam ‘Mais zumbis. Mais mortes’. Mas você tem que ter um pouco de diálogo. Senão vira ‘Transformers’.
Você terminou de filmar a segunda temporada?
NR: Nós terminamos as filmagens agora. Eu dirigi de volta para Nova York e depois peguei um avião para fazer o ‘Talking Dead’ e então voei de volta para Nova York. Nós estamos praticamente voltando às nossas rotinas normais.
Daryl é um dos favoritos dos fãs dentre o elenco por toda a sua profundidade e suas camadas. No que a sua abordagem ao personagem foi diferente da primeira para a segunda temporada?
NR: Bem, na última temporada eu realmente não tive nenhuma conversa sobre o Daryl com ninguém. Na última temporada eu apareci no terceiro episódio e era meio ‘Vai se f***r! Vai se f***r! Vai se f***r! Você fez o quê? Eu vou te matar’. Então, eu tentei encenar alguns momentos para fazê-lo humano. Eu tentei lacrimejar às vezes enquanto mandava as pessoas irem se f***r e jogava esquilos nelas. Eu tentava fazer parecer que perdi meu irmão mais velho. Ele ainda tem um irmão mais velho e o perdeu. Aquilo não estava realmente no roteiro, essa espécie de tristeza. Era só raiva.
Então eu tentava destilar um pouco de tristeza no meio da raiva, e não havia sequer um ‘Daryl confia nesse grupo? Ele vai junto com o grupo? Ele realmente confia neles, não confia? Isso nem mesmo estava no roteiro. Então, você tinha que escolher momentos nos quais isso acontecia. Na preparação da segunda temporada, eu tive a chance de me encontrar com os escritores antes do começo da temporada. Eles fizeram perguntas como ‘O que você achou da Lori? Como você se sentiu a respeito do T-Dog?’ Como em um filme você sabe a trajetória. Na TV se você pode apenas plantar sementes no decorrer do caminho e esperar que alguém as veja e as regue e delas crescem pequenos vestígios que são um tipo de bônus. Eu tive a oportunidade de fazer isso e os escritores foram muito bondosos em me deixar colaborar com as algumas coisas.
Talvez houvesse algumas coisas sobre as quais eu disse, ‘De jeito nenhum. Eu não quero Daryl indo nessa direção’, e nós discutimos e achamos outras opções. Por boa parte da segunda temporada, Daryl tenta descobrir como se relacionar com as pessoas. Eu gosto do fato de que não começamos como se todos já se conhecessem há bastante tempo e se tivessem um histórico e Carol tivesse conhecido Daryl no colegial e na floresta. Estou feliz que não tivemos isso para fazer com que essas pessoas parecessem desconhecidas, que é uma coisa que eu gosto.
Eu já disse isso antes, mas não gosto de interpretar Daryl parado. Quando as pessoas sentam para conversar sobre algo, importante ou não tão importante, eu tenho uma piada recorrente com a equipe de câmera porque eu nunca fico parado. Eles dão aos atores suas marcas e me dizem, ‘Sua área é entre aqui e ali’, porque eu odeio ficar parado. Eu não suporto. Especialmente interpretando esse personagem, ele não é um desses caras que fica parado e observa. Ele fica perambulando no segundo plano meio que nem um animal, como se ele estivesse acorrentado. É assim que eu o interpreto o tempo todo. Então, no decorrer da segunda temporada essa corrente vai e vem e aos poucos está começando a ficar mais frouxa, se é que isso faz sentido.
Você provavelmente recebe muito retorno dos fãs pelo Twitter. Como tem sido essa interação?
NR: Eles me dão muito retorno, sério! Eu amo esses caras. A gama de fãs me faz acessar [o Twitter] bastante. É ótimo. Todos gostam bastante do Daryl. Acho que por razões diferentes. Ele meio que tem seu próprio nicho. Você tem Shane que é o protagonista, o cara raivoso que talvez seja a voz da razão ao seu modo. Você tem Rick que é o cara que está tentando resolver tudo e fazer a coisa certa o que eu bem mais interessante que nunca, tendo sempre confiança do que está fazendo. Eu vejo um cara realmente do bem tentando resolver as coisas e lutando com isso, esse é um personagem tão incrível.
Personagens diferentes têm caminhos diferentes e eu acho que Daryl é algo meio único porque ele está tentando se enturmar pela primeira vez e poderia ser em qualquer situação. Isso poderia ser em qualquer emprego, em qualquer mundo e apenas ter aquela interação, um cara tentando se ajustar com as pessoas independente de onde eles estejam é muito interessante.
Você coloca isso tendo um apocalipse como pano de fundo com todos esses personagens tão ricos ao redor, o que faz de tudo mais e mais interessante. Então talvez isso faça parte, além disso, é difícil não parecer legal com uma besta.
Os fãs têm sido ótimos. Alguém acabou de me mandar o link para uma Hello, Kitty Daryl. Eu tenho tantas pinturas e camisetas e bonecos e peças de arte sobre Daryl que é bem avassalador. Eu ganho muita coisa engraçada dos fãs.
Falando em arte, você tem uma mostra em exibição com fotos que você tirou enquanto filmava ‘The Walking Dead’?
NR: A revista ‘Wired’ me perguntou se eles poderiam fazer uma exibição de fotos tiradas em Georgia*. Eu lhes disse que eu não posso mesmo tirar fotos do programa. Acho que eu não tenho permissão para fazer isso, mas eu posso tirar fotos de como é a minha vivência em Geórgia. Eu mantenho uma motocicleta lá, uma Triumph Scrambler. Então, nos meus dias de folga e alguns dias a caminho do trabalho eu ando de moto pelo campo afora por horas sem ver ninguém. É simplesmente maravilhoso.
Mas originalmente eu mandei para eles fotos de animais mortos na estrada e recebi um e-mail dizendo ‘Aqui é a Time Square com compradores de fim de ano. Você não pode lhes mostrar animais mortos na estrada’. Então, eles tiveram um ataque histérico para começar, mas eu também tinha que fazer a cena dissecando o esquilo. O programa me mandou para uma taxidermista em Geórgia. Então, eu me sentei com essa senhora muito legal enquanto ela desmembrava todos esses animais mortos ao meu redor. Mas a loja dela era cheia das taxidermias mais malucas. Eu passei quase o dia inteiro lá, olhando nos olhos desses, tipo, pumas que foram montados e esses coiotes. Eles pareciam tão tristes. Era tão louco de se ver. A impressão ficou em mim por um tempo. Então, eu incorporei algumas imagens da Geórgia, algumas imagens de taxidermias e algumas fotos de animais mortos na estrada.
*estado americano onde se passa ‘The Walking Dead’ e onde as filmagens são realizadas.
E as pessoas podem comprar essas fotos cuja arrecadação vai para caridade.
NR: Tudo vai direto para caridade. Eu também tenho um website chamado www.bigbaldhead.com e tenho três curtas-metragens lá que eu dirigi, editei e filmei. Eu também os fiz para caridade. Vivendo na Georgia, ficando até tarde da noite no set eu meio que me viciei no eBay e comprei capacetes de moto antigos em excesso e me revezava para usá-los enquanto andava de moto pela Geórgia. Então, na última semana de filmagens eu acabei chamando cada um do elenco para escolher uma instituição de caridade e todos autografaram os capacetes e vendemos para caridade também. Todos foram vendidos.
Se você pudesse fazer uma participação especial em qualquer outro programa de TV, qual seria?
NR: Seria ou ‘Curb you Enthusiasm’ ou seria ‘Eastbound and Down’. Tem tantos que eu gosto, mas acho que seria um desses dois eu talvez se eles voltassem a fazer ‘Arrested Development’* eu não me importaria de estar naquele programa.
*Caindo na Real
Ouvi dizer que essa série vai voltar no Netflix.
NR: Vai voltar? Legal. Eu gostava do ‘The Killing’ também.
Metade dos atores com os quais conversamos dizem “The Walking Dead”, mas, por alguma razão, ninguém quer ser um zumbi.
NR: Porque você usa maquiagem o dia inteiro. Eu compreendo isso. Eu sinto muito por esses zumbis às vezes. Tem também o ‘Breaking Bad’. Eu não me importaria de estar naquele programa também. Ele é incrível.
Fonte: http://www.daemonstv.com/2011/12/01/exclusive-interview-norman-reedus/
Tradução por: Kelly Ribeiro (@KelRibeiro)
Fotos da mostra fotográfica de Norman Reedus pela revista Wired