Iniciamos o episódio com Victor Strand indo de encontro ao seu algoz, já se considerando como morto. É notório vermos o caráter aparentemente altruísta e suicida desta missão, encabeçada pelo personagem mais dúbio da franquia.
O fardo é pesado, uma vez que terá que pedir um favor de estimada magnitude ao homem, que na última vez que se encontraram, Strand lhe acertou um tiro no rosto. Seu algoz é Daniel Salazar, que retorna à trama depois de uma temporada inteira afastado e com seu paradeiro completamente desconhecido da audiência desde o rompimento da barragem.
A cena é bem construída, irônica e ácida, como sempre foram os momentos em que essa dupla estava em cena. Foi nostálgico, remeteu aos tempos do México, quando eram guiados por Madison, na busca da sobrevivência.
Após receber o inusitado visitante, Daniel, um homem que conheceu o pior lado de Victor, não acredita em seu pedido de ajuda e lhe nega sumariamente o empréstimo do aeroplano, que serviria de resgate ao grupo de Alicia, que está em apuros no outro lado do Texas.
Salazar sabe o quão ardiloso seu inimigo é, e dispara: “Eu sei quem você é, Victor”. Ponto de inflexão interessante, pois existe uma pessoa que conhecia como ninguém a outra face de Strand, e disparou a mesma frase para ele, no longínquo episódio “Another Day In The Diamond” (S04E02). Madison Clark conhecia como ninguém a camada mais íntima de seu amigo.
Interessante ver como duas pessoas que tem visões completamente diferentes sobre uma mesma pessoa, reverberam uma mesma frase para descrevê-la, ou quem sabe a sua persona.
Victor é sem dúvida o personagem que mais teve o seu interior trabalhado nesta série. Começou como um egoísta, vaidoso e sem escrúpulos, e ao lado da Família Clark foi encontrando um jeito, ainda que peculiar, de revelar seu lado bom ao seu entorno.
Hoje temos um Strand que se arrisca para que seu grupo possa resgatar um alguém que nunca conheceram, do outro lado do Texas e para que possam livremente decolar um avião enquanto ele se encarrega de limpar os Zumbis da pista de voo.
Salazar – com razão – não acredita nesse novo Victor. Então cheio de desdém e amargura, e sem maiores explicações, enxota Strand como um rato de sua casa, sozinho ao relento e sem o aeroplano. Cabe ressaltar que Daniel não divulgou nada sobre os acontecimentos que se deram com ele após o rompimento da barragem, deixando uma névoa na audiência, e que de fato não sei se será abordada em algum momento.
Por outro lado, numa descarga de emoção e contrariedade, Victor lhe contou que Madison e Nick não estavam mais vivos, o que parece ter dilacerado ainda mais seu coração, já tão calejado pela perda desses dois.
A forma com que os roteiristas abordaram esse reencontro, ainda que curto, foi excepcional. Não poderíamos esperar nada diferente. Daniel jamais receberia Victor mostrando os dentes em um sorriso e lhe entregando as chaves de um avião. Strand por outro lado, por mais que tivesse se esforçado, não conseguiria transmitir qualquer tipo de verdade ao homem que ele por mais de uma vez sabotou.
Este Reencontro foi uma bela homenagem àqueles que acompanham a franquia desde o início. Espero ver mais interação de Daniel não só com Victor, como o restante do grupo. Ele é um personagem de tremendo potencial e pode agregar em diversas linhas narrativas.
Enquanto isso, do outro lado do Texas, Alicia e Morgan seguem liderando as buscas por Althea. No caminho encontram zumbis radioativos e Grace, a responsável pela contaminação radioativa da área em que eles se encontram.
Aqui a equipe de roteiristas mais uma vez inova ao trazer um novo elemento, desta vez com zumbis que carregam consigo o perigo radioativo. Enquanto isso, na parada de caminhões, temos uma Luciana drogada sob efeitos dos remédios para dor. Foi a primeira vez que a personagem conseguiu imprimir carisma, e por alguns instantes, me esqueci o quão descartável ela é para a trama, me arrancando discretas risadas. Espero que vejamos um pouco dessa Luciana dopada na próxima semana.
John e June continuam completamente interligados e são o lado mais otimista e esperançoso do grupo. Alicia segue em crise por não conseguir ajudar ninguém, e cabe a Morgan a árdua missão de conselheiro psicológico, no intuito de resgatar o otimismo da órfã. Mas de forma geral, a narrativa não muda em praticamente nada com esse episódio.
A construção do segundo episódio foi fraca e monótona, apesar de engenhosa. Não chamou tanto a atenção quanto de seu predecessor. Por outro lado, Strand e Salazar, ainda que com pouco tempo de cena, roubaram os holofotes, num misto de nostalgia, receio e humor.
Nota: 7,5