Depois do razoável segundo episódio – e o tedioso quarto episódio de World Beyond -, voltado a um lado mais moral da coisa, o 3º episódio da 6ª temporada de Fear The Walking Dead (S06E03 – “Alaska”) vem com um elemento um pouco mais positivo: o foco nas relações humanas.
Temos Althea e Dwight, que até então pareciam não ter relação alguma, dispostos a encarar uma missão suicida movida pela vontade insaciável da jornalista de colar o velcro.
Não desistindo mesmo com inúmeros zumbis no caminho, uma epidemia causada pelo xaropinho e até depois de saber que pode levar um headshot da amada.
O Left 4 Dead invertido — subir, matar e descansar para o loading — é divertido de assistir, parecendo cada andar uma fase para a duplinha dar conta.
Em uma delas, topam diretamente com uma praga causada pela peste bubônica. Resolvida facilmente pelo poder de quem?
Sim, a conveniência. Ponto para você.
É até engraçado o modo que o roteiro tenta transformar isso numa surpresa, evitando que Isabelle diga sobre os remédios.
“Tem uma epidemia no prédio? Não se acanhe, tem cerveja na mala.”
Não seja por isso, os que manifestavam sintomas mais graves parecem ter se curado fácil, fácil. Mas vou relevar, caso contrário serei taxado como o redator chato e perfeccionista.
Os créditos estão mesmo no laço de amizade espontânea em torno da jornalista e do cara queimada.
Amizade essa responsável pela virada do episódio, onde Al decide permanecer do lado daquele que pela primeira vez ela pode ver como irmão.
Uma conclusão até crível dentro do contexto, já que o caminho até ali construiu tudo isso muito bem, desde o jogo catando identidades dos mortos – as pessoas ainda andam com as carteiras? – até o grau de intimidade que concomitante ajuda na omissão de tempo juntos, com a boa naturalidade transmitida por Austin Amelio e Maggie Grace.
Embora acabe por ser uma virada bem abrupta. Faltou uma interação cara a cara entre Al e Isabelle – que eu realmente esperei de trouxa – para empregar alguma solução mais inteligível e menos desesperadora de Westefall para manter a personagem no show.
Se eu fosse o Dwight faria questão de mandar a mulher tomar naquele lugar por me fazer passar pelos perrengues à toa.
Colman Domingo soube usar os espaços para ampliar a tensão e conduziu os atores muito bem, alimentando a relação com enquadramentos que aos poucos se fecham, aproximando-os conforme a projeção.
Outra coisa bacana foi o começo found footage, sem aquele azulão e amarelo, que antes pareciam ser imagens diretas de uma tekpix, vistas nos respectivos 5X09 e 15, passando a impressão de estarmos em um videogame.
Faço também uma menção honrosa à zumbi do necrotério que me fez tremer os cambitos pela sua simplicidade bizarra. Valeu o momento e a referência ao 4X13 da série-mãe.
O fim dessa história de amizade culmina, então, no belo reencontro de Dwight com sua esposa Sherry. Momento que pode soar piegas e forçado para alguns – não deixa de ser pela conveniência, claro. -, porém isso é raro no nosso TWDverso e merece ser apreciado sob a trilha tocante e pela direção engajada que nos faz, literalmente, girar em torno do casal.
Além do fato de fazer Dwight parar de falar o nome da esposa toda vez que abre a boca. Isso já mérito para a cena ser bem recebida.
Toda esse mar de rosas provavelmente irá acabar em ruínas algum momento, sendo a calmaria antes da tempestade. É bem capaz de Sherry estar envolvida com o povo do juízo final que deixa seu slogan a todo lugar que passa.
Esqueci de citar o nosso ex-ninja paz e amor que deu as caras nos primeiros minutos tão deslocados que sequer fizeram a diferença no todo. Mas de certa forma marca a fusão do extremo com o pacífico numa gambiarra que resulta em um baschado.
Com direito a uma cutucada de Mallory para com os showrunners pelas inúmeras vezes em que o personagem incorporou o fragmentado, e também uma confirmação dispensável de que Morgan está instável e vai passar a lambida em geral. Mesmo sem a barbicha (confesso, curti mais o visual country de antes).
Alaska é aquele típico filler divertidinho. Cria um laço irretocável com direito a final feliz e chega a ser uma boa história se apreciado sem escrutínios.
Basta esperar a luva de conveniências ser abandonada para que possamos retomar a esperança que talvez um dia tivemos nessa série.
Nota: 3,5/5