Você que tem lido meus textos sobre FTWD já deve ter percebido o quão eu não vou com a cara da repaginação feita nessa série.
Andrew Chambliss e Ian Goldberg, os showrunners, não se contentaram em abandonar uma premissa com potencial – embora maçante nesse zumbiverso – deixada no fim da terceira temporada, como também ofuscaram todos os personagens antigos, levando-os a papéis secundários e por vezes, terciários. Fazendo da derivada um TWD 2.0, definitivo.
Daniel Salazar, antigo membro do Sombra Negra e também o personagem mais subaproveitado dessa série, foi rebaixado a tiozão do churrasco com alzheimer.
Victor, uma gangorra moral que já balançou 365 vezes e parece não ter mais nenhuma trama.
Luciana, ex-líder de uma colônia que tem momentos avulsos de atenção somente para nos lembrar que está lá e nada mais.
E Alicia Clark, que foi de uma sobrevivente de um armazém cheio de infectados para pintora de árvores pacifista.
Assim, um episódio protagonizado por um dos personagens da velha guarda era de ser do meu total agrado e pelo menos medíocre, visto que a mantra “não matarás” deixou a série no começo da temporada e, principalmente, por ter Alicia Clark. — dãh.
Porém, Damage From the Inside é mais uma linha narrativa de potencial desperdiçado e diria que quase um filler.
Mas por que essa insatisfação? Pergunta o tenro leitor.
Assim como a série jovial World Beyond, essa 6ª temporada não tem caminhado diretamente, mas a pequena diferença é que há ação aqui, entretenimento gratuito para os telespectadores enquanto que os showrunners empurram a trama com a barriga.
Ainda estamos no escuro a respeito dos grafiteiros do fim do mundo, o grupo de mascarados continua avulso e o salvador de Morgan permanece anônimo.
Ao invés de responder essas questões, Jacob Pinion opta em investir no drama de um taxidermista chamado Ed, que usa de suas habilidades para “franksteinizar” os mortos.
Um flerte com terror muito hábil, que Tawnia McKiernan emergiu bem inicialmente na sequência silenciosa do corredor repleto de animais empilhados, na companhia de uma iluminação rasteira em tons pastéis, mas não demorou para as coisas caírem por terra com blá-blá-blá genérico de pai sem família.
A justificativa de Dakota em querer fugir de sua irmã é mais uma carta guardada na manga especialmente para um momento conveniente desses. Primeiro quando citado, pensamos ser uma mentira. Mas então quando reafirmado, nos faz coçar a cabeça e voltar questionar mais uma vez as motivações de Virgínia.
Qual será a próxima invencionice para nos fazer pensar “nossa, ela é mesmo má”? Será que ela matou um mosquito? Deu um canudo para uma tartaruga?
Enfim, já passou da hora de Fear nos entregar migalhas e começar a mergulhar nessa pseudo ameaça.
O molde sobre o passado de Ed é tão imediatista que o desfecho dramático além de não convencer, entrega um grandioso, um estupendo e inesperado twist nunca antes mostrado nesses anos de TWD Universe. E qual seria?
Rufem os tambores…
Virginia não matou a família de Ed, mas sim uma de suas criaturas, caindo sobre ele o peso da culpa.
Uau!
Informação totalmente irrelevante, já que pouco importa como ou quem fora responsável, porque a revelação só vem no final para dar espaço ao clichê do Messias entregando-se de braços abertos para suas grotescas criações.
Meus olhos chegarem a revirar ao ponto de não voltarem mais. Estou escrevendo este texto com um olho na beira da pálpebra.
A presença de Alicia está aqui para confirmar minha teoria de que quando trata-se dos personagens antigos, o tratamento fica para os estagiários. A última Clark continua em um looping interminável que ronda a morte de sua mãe, porque é a única trama que os roteiristas tem quando ela não está ocupada pintando árvores.
Seguindo uma ideia que acredito ser impensada em decorrência ao anseio de liberdade. Porque, convenhamos, voltar para o estádio, lugar em ruínas e com vários errantes torrados, é bem no sense.
O roteiro também não esqueceu de colocar ao lado de Alicia sua fiel escudeira Charlie, cuja presença é indiferente e só está aqui para tornar as coisas mais fáceis.
Ainda na dúvida de um desfecho, Jacob Pinion põe convenientemente Morgan como salvador da pátria — de novo — que não se satisfez em derrotar um COMBOIO SOZINHO com um MACHADO no começo da projeção.
Peço com gentileza, caro leitor, que se você viu alguma automática escondida no ânus do cowboy, por favor me informe, e irei retirar a queixa.
Para os finalmente, descobrimos que Grace está mantida em cárcere privado durante sua gestação. Revelação essa entregue de bandeja para Victor, que se der uma de duas-caras lá na frente fará de Virgínia a vilã mais ingênua que pisou na série. E eu quero muito que aconteça só para poder morrer de rir.
Damage from the Inside tinha tudo para ser um excelente episódio, mas desperdiçou seu potencial caindo na luva do imediatismo movido por uma história clichê e sem profundidade.
Afinal, quando o episódio é protagonizado por um personagem da velha guarda, pouco importa a coerência, não é?
A sexta temporada encerra sua primeira metade antecipada ainda sem um norte firmado, mas com um desempenho superior a da sua passada. Espero que a segunda metade encerre os mistérios e seja, obrigatoriamente, melhor que essa.
Nota: 2,5/5