Não quero nutrir esperanças para Fear the Walking Dead mesmo que fosse em uma aposta valendo barras de ouro, mulheres e um macaco, porque quando se elogia os roteiristas deste zumbiverso o ego fala mais alto e a qualidade cai por terra no ano seguinte (não é, 10ª temporada?).
Digo isso pois Mother teve um bom rendimento, assim como seu antecessor J.D., apesar dos pesares, e isso é raro na derivada.
Primeiro vale mencionar que a maior cartada de Andrew e Ian nessa temporada foi a criação de Teddy Maddox. Embora eu tenha desgostado da vinda de John Dorie Sr., achando ele (e continuo com esse pensamento) um mero artifício de apelo emocional, foi uma decisão esperta já que os showrunners nunca se notabilizaram com seus vilões desde que assumiram a série, logo criar um personagem já despirocado da cabeça que não precisa de muito para conseguir o posto de cara-mau foi um baita acerto que não só contextualiza o que parecia ser só mais um vilão genérico, como também impulsiona a narrativa de uma vez.
Pois ora veja, Mother vomita tudo que precisávamos saber sobre Teddy e sua, por mais óbvia que fosse, intenção de fazer um reboot na humanidade com a bomba nuclear do submarino visto em The End is the Beginning. O que mostra como os showrunners estão sem freio para contar essa história. História essa que circunda em torno de três mães: uma que lutou e se sacrificou para salvar a todos, outra que achou estar protegendo sua prole com mentiras e uma que viu o mal em seu filho e acabou morta por isso.
Chega até ser maléfico a impressão que Channing Powell e Alex Delyle passam sobre a possível volta de Madison, encabeçando desde um título sagaz até o conveniente retorno de velhos personagens. Por mais forçado que seja há lógica interna no que o episódio se propõe, trazendo uma aura de desesperança ao sacrifício da matriarca e brincando com o próprio espectador sobre a possível vira-casaca de Alicia.
Porque depois de ver a personagem aceitar a mantra do Morgan Zen e sair pintando árvores como se vivesse em um mundo majestoso, não seria uma surpresa vê-la mudar de lado em um estalar de dedos.
Graças ao céus, esse não foi o caso.
A ideia de Teddy está muito mais para um plano suicida, cujo sua ciência nisso o faz escolher Alicia para ser o divisor de águas no pós-reboot, com ele sendo lembrado apenas como o Messias na mente dos que ficarão (será que vem estátua do Teddy Redentor por aí?).
Glover e Debnam-Carey estão bem empenhados aqui, principalmente Alycia que externa todo seu cansaço por baixo de uma maquiagem que deixa seu semblante quase cadavérico, assim como foi em This Land is Your Land e Close Your Eyes, onde a atriz também teve espaço para mostrar mais do seu lado dramaturgo (sua personagem sofreu mais que sovaco de aleijado nessa série).
Há casuais asneiras que só de apontar serei taxado como chato. Começa por Teddy conseguir matar zumbis tão facilmente no início da praga e vai até o atabalhoado ataque onde um grupo inteiro – e armado – morre por burrice só para que houvesse o momento “você tinha que significar algo”. Parece fútil, mas são esses momentos bestas que impedem os episódios de terem uma nota maior no meu conceito, o que já é ruim para um temporada que tem usufruído de muitos atalhos para chegar nos finalmente.
Se faltava entendimento sobre o que está por vir, Mother reitera e joga tudo na mesa em um road trip macabro e cheio de coincidências. As peças estão organizadas. Basta que Andrew e Ian façam os lances certos para virar o jogo de uma vez e encerrar essa temporada de forma explosiva ou não.
Nota: 3,5/5