Crítica | Fear The Walking Dead – S07E11: O Daniel que Queríamos… Em Partes

Se antes o artifício perda de memória em Daniel soasse barato para mim, vindo muito conveniente e comicamente dentro da narrativa da temporada passada, em Ofelia o problema é bem melhor explorado dentro de uma subtrama que progride um tantinho com a história principal e ainda ressuscita a figura assassina do ex-barbeiro/agente da CIA que, totalmente confuso em suas faculdades mentais, pensa que sua falecida prole ainda respira e encontra-se na saudosa Abigail ao medir com o desenho de um barco numa carta que ele escolhe durante jogo da memória com Luciana — essa que ganha surpreendentes quarenta minutos de diálogos (um recorde!). 

É bem verdade que muitos vão torcer o nariz pelo uso desse artifício que de certa forma emburrece o personagem. Porém essa é a jogada que o roteiro de Alex Delyle e David Johnson querem que nós e o grupo de Arno — esses sim mais inteligentes que um asno — acreditemos, dando brecha para que o plano de João sem braço de Daniel dê certo, com aquela pitada de conveniência que já estamos bem vacinados quando metade dos raptores deixam o lugar, no que resulta na morte maravilhosamente grotesca de Arno que tem as canelas jantadas.

A parte intimista soa boba para os coadjuvantes, no entanto. Wes tem uma virada de chave muito que estranha e, em última análise, hipócrita. Já que não aceitar os motes de Luciana que abusa da amnésia do ex-barbeiro para encabeça-lo na guerra contra Strand, é o bastante para fazê-lo correr para os braços do déspota que não é nenhum pouco diferente. Uma tentativa frouxa de vilanizar mais um do bonde de bons samaritanos. Por outro lado, a investida em Daniel é funcional e Ruben Blades tira de letra todo o episódio, sendo bem conduzido por Alycia Debnam-Carey diria, se considerarmos que é a primeira vez dela na direção.

Ofelia é o primeiro — e talvez único — episódio verdadeiramente bom dessa segunda parte. Um farol no meio desse mar radioativo que pode ou não indicar uma possível melhora na temporada. Tudo depende se a guerra iniciará antes que eu perca as estribeiras com mais algum momento de auto-ajuda ou borboletas dançantes.

Nota: 3,5/5


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Douglas Gomes
Douglas Gomes
Jogador profissional de banco imobiliário e apresentador de stand up no chuveiro. Nas horas vagas, tocador de guitarra de ar. Um crítico longe de medíocre.

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