Ninguém está a salvo de uma morte simplória

O 3º episódio da 6ª temporada de The Walking Dead deveria se chamar “efeito borboleta” – ou dominó, para quem não está familiarizado com o conceito da física.

Mais um excelente show em que a perspectiva de uma situação crítica nos dá um panorama do quanto as escolhas são realmente difíceis de serem tomadas, não importa se são as certas ou as erradas, pois não existem certezas e em situações críticas, elas têm de ser tomadas por alguém, que vai assumir as responsabilidades do fracasso e vai receber os louros do sucesso.

Nem mesmo sobre o desfecho que mais causou polêmica neste episódio é possível afirmar se há uma certeza. Afinal, Glenn morreu após o agradecimento daquele que quase o matou?

E os spoilers circularam durante a semana explicando exatamente o que aconteceria e, ao aproximar-se de um latão de lixo, a apreensão daqueles que leram desavisadamente aumentou. Os que leem a HQ sabem que Glenn está fadado à uma morte brutal, mas depois de tudo o que suportou, que sobreviveu, terminar desta forma? Seria ilógico não fazermos uma comparação com a vida real e até os badass estão sujeitos ao acaso infortúnio.

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A buzina está tocando, o telespectador foi informado na semana anterior tratar-se também de um mero acidente, embora um ataque estivesse ocorrendo, mas ainda assim é possível nos colocarmos no lugar de Rick e companhia imaginando o que poderia estar causando o barulho e gerando o perigo. É preciso agir e rápido, não há espaço para hesitar caso alguém tenha de ser deixado para trás.

Os novatos ainda não percebem a dimensão da firmeza das falas daquele líder e o que o motiva a ser tão prático nestas circunstâncias. Michonne, embora o escute e até concorde com o xerife, segue sua própria consciência. Daryl também segue por uma estrada tortuosa, que tem instinto apurado e prevê problemas, embora confie em seu amigo e admita que ele tem acertado até então. Era inevitável que aquela “represa de walkers”, cedo ou tarde, iria se romper, estavam cientes que não sairiam totalmente ilesos ao tentar desviar a enxurrada de dentes famintos.

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Nicholas estava surtando, isto é óbvio (ainda é possível que os momentos finais não fossem nada além de uma alucinação) e então os espectadores entram em uma reflexão paralela ao que veem. Encurralados de uma forma nunca antes vista, Glenn e seu, “talvez”, algoz acidental, sobem em um latão de lixo para se esquivar de um massacre iminente. Rick por sua vez, acabara de ouvir um “bobão” daquele que o salvou pela primeira vez quando encurralado em um tanque de guerra, numa situação em que, aparentemente, seria impossível se livrar.

Até então, Glenn usava um boné e tinha mais ares de menino, um dos poucos que não se perdeu em essência e continua(va) acreditando no ser humano. Mas ele pressentiu que o fim se aproximava ao olhar com pesar para o relógio que seu sogro lhe dera? Ele não teria o privilégio de enviar uma mensagem à Maggie como David, o personagem secundário mordido quase teve chance?

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Rick nitidamente está com a mão machucada, vai até o fim, sacrificando-se por algo que julga ser o correto, o plano tem que funcionar, pois a vida de seus filhos, de seus amigos, de sua família depende disto e ele não pensa duas vezes antes de acertar na cabeça os Lobos que, pasmem, pegaram a arma em Alexandria e Morgan permitiu (É assim que se faz! Acho que muita gente pensou isso e julgou Morgan, que nem mesmo apareceu nesta semana).

Glenn permitiu que Nicholas vivesse, que estivesse junto na arriscada estratégia de afastar os walkers e este lhe agradeceu, em pânico absoluto, atirando contra sua própria cabeça (talvez numa tentativa desastrada de se sacrificar) e levando junto o jovem consigo, caindo sobre Glenn. No plano das hipóteses, os mortos trucidam e arrancam as tripas de Nicholas, Glenn grita, porém, talvez por não conseguir vislumbrar tão rápido um meio de sair dali.

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Michonne explica o porquê decisões são difíceis à Heath e como o derramamento de sangue pode mudar as pessoas, como as escolhas às vezes são inexistentes. Embora aqueles dois machucados, Scott e Annie, por um tiro e por uma torção, sejam os primeiros a pedir para serem deixados para trás, correm junto para escapar da multidão. Heath é o primeiro a fugir e pular a grade, o homem que queria se despedir da esposa é devorado na frente deles e então, coberto de fluídos, finalmente, Heath compreende Michonne.

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Aparentemente, durante o confronto com os Lobos, o motor do trailer é danificado e Rick tenta, desesperado, fazer funcionar. É então que as especulações ganham proporções maiores que o episódio impactante. Quando Rick conhece Glenn, dentro daquele tanque, o rapaz o salva. Numa situação semelhante Rick estará em breve, com aquela horda sendo atraída pelos tiros de Grimes. Quem mais entende sobre trailers naquele momento é Glenn.

Talvez ele não sobreviva por muito tempo, talvez chegue com muitas mordidas fatais, mas é possível que ainda consiga se desvencilhar dos mortos entretidos com Nicholas, corra o suficiente para chegar onde Rick está e se mostre novamente um herói.

Desta forma, ironicamente, Glenn fez uma escolha correta ao não matar Nicholas, aquele que permitirá tempo o bastante para que ele faça o que deve e salve todos em Alexandria. Talvez ele consiga fazer o que aquele outro tentou: chegar em casa e se despedir pessoalmente de Maggie. Talvez Rick corte finalmente sua mão, ou morra. No mundo real ninguém está protegido por roteiros e no próximo domingo, com 90 minutos de duração, as decisões, as escolhas e as consequências disto tudo finalmente serão colocadas na balança.


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Paola Barros-Delben
Paola Barros-Delben
Apaixonada pelo misterioso, pelo que ainda não foi, ou pouco, explorado, por emoções! Psicóloga com estudos na área de neurociências e ambientes extremos, participando de expedições à Antártica pelo programa nacional. Escritora de ficção científica e literatura fantástica e de terror. Muito é pouco para explicar o quanto amo ler, assistir e falar sobre ETs, monstros, psicopatas.... e zumbis!

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