Muitos têm calafrios só de ouvirem o nome “lesma”, associando imediatamente a palavra à criaturas asquerosas e gosmentas, que passam longe de qualquer concurso de beleza. Porém, nas profundezas dos oceanos, a realidade pode ser bem diferente – para melhor. Escondidas nas mais variadas e gritantes cores estão os nudibrânquios, lesmas incrivelmente coloridas, que são colírios para nossos olhos. Confira na galeria a seguir.
Envoltos em uma incrível mistura de cores vibrantes, em uma enorme variedade de cores e tamanhos, as lesmas marinhas conhecidas como nudibrânquios fascinam só de olhar.
Todas as imagens desta galeria são de nudibrânquios, das mais variadas cores. Esta é de um laranja intenso com pontas brancas, como se estivesse pegando fogo.
Nudibrânquios variam muito de tamanho, passando de meros um ou dois centímetros até chegarem em meio metro. Esta é uma das maiores, o “Sea Lemon”. Infelizmente estes animais não enchergam muito além do preto e branco, logo não podem apreciar a própria beleza.
Nesta foto a criatura se arrasta sobre um recife. A palavra nudibrânquio significa “brânquias nuas” em grego antigo. O apelido foi dado devido aos órgãos expostos encontrados nas costas de várias destas espécies, por onde eles respiram.
Os nudibrânquios são moluscos sem concha em sua fase adulta. Para contornar esta desvantagem, estas criaturas expandem suas brânquias ao menor sinal de perigo, como se fossem penas, inibindo o ataque do predador. Afinal, algo tão colorido e pontudo deve ser venenoso…
Com dois tentáculos sensoriais acima da cabeça chamados rinóforos, eles podem cheirar e sentir tudo o que acontece nas vizinhanças. Muitos nudibrânquios podem retrair seus rinóforos quando se sentem ameaçados. O nome rinóforo também vem do grego: “rhino” significa “nariz” e “phoros” significa “rolante”.
Membros da classe dos gastrópodes, outra característica marcante dos nudibrânquios são seus “pés” pegajosos, que são um músculo abaixo de seus corpos que permite que eles possam se movimentar, apesar que bem vagarosamente. E assim como as lesmas terrestres, eles também deixam um rastro de gosma por onde passam. E eles também podem nadar por curtas distâncias.
O rastro de gosma deixado pelos nudibrânquios ao se movimentarem tem várias utilidades. Além de servirem para demarcação territorial entre machos, o lodo também libera substâncias que avisam outras lesmas de possíveis perigos.
Mesmo sem a proteção de uma concha, nudibrânquios são bem populosos. Existem mais de três mil espécies habitando mares de todo o planeta. A falta de um casco protetor faz com que estas criaturas desenvolvam as mais variadas formas de defesa.
Para começar, a própria pele dos nudibrânquios é grossa e irregular. E isso é só o começo! Para impedir o ataque de peixes e tartarugas famintas, a evolução presenteou estas lesmas com secreções tóxicas e pontas afiadas.
E o mais incrível: apesar de alguns nudibrânquios produzirem naturalmente suas toxinas, muitos “roubam” o veneno a partir do que ingerem.
Alguns nudibrânquios se alimentam de esponjas marinhas venenosas, processando e armazenando as substâncias tóxicas e as secretando pela pele sempre que se sentem ameaçadas. a nuvem química que infesta a água ao seu redor intimida os predadores.
Alguns nudibrânquios são imunes às defesas de corais, anêmonas e águas-vivas. Ao invés de digerir os ferrões, eles são distribuídos pelos seus corpos, compondo a mortal beleza desta foto.
As cores destas lesmas não são apenas decorativas. Elas servem como um claro aviso do perigo que representam, caso algum peixe esfomeado se atreva a chegar perto demais.
Alguns espécimes, no entanto, não possuem toxinas para se defenderem. Eles apenas se aproveitam da “fama” que seus primos venenosos têm, usando as combinações mais berrantes de cores. Caso um predador já tenha passado por uma experiência ruim, ele não vai querer arriscar novamente!
Outros ainda usam as cores como camuflagem, mesmo com as cores chamativas. E mais: nudibrânquios adquirem as cores dos alimentos que ingerem. Se uma dessas lesmas comer uma esponja laranja desenvolverá um pigmento avermelhado.
Nudibrânquios são carnívoros e se alimentam de várias espécies. Esponjas, corais, anêmonas, ovos de peixe e têm inclinações para o canibalismo, devorando outras lesmas marinhas se houver a oportunidade. Contudo, algumas espécies são bem exigentes em suas dietas, limitando-se a apenas uma presa.
Outro fato incrível sobre estes animais é que eles podem cultivar comida dentro de seus corpos! Algumas espécies são quase movidas a luz solar!
Pegando o exemplo do Blue Dragon desta foto. Este é um nudibrânquio que ingere algas e as usa em conjunto com o sol para iniciar o processo de fotossíntese e se alimentarem.
Ou seja, ao invés de simplesmente digerir a alga, o esperto Blue Dragon a armazena em seus tentáculos onde ela continuará recebendo luz solar para produzir os nutrientes que a lesma usará para se alimentar. Este pequeno aproveitador pode ficar dias sem comer se conseguir ficar tempo suficiente iluminado.
Esses animais também são hermafroditas, ou seja, cada espécime tem os órgãos reprodutivos de ambos os sexos. Faz sentido, devido à sua mobilidade reduzida. Então qualquer nudibrânquio que der mole, está valendo! E eles podem se variar entre “fertilizadores” e “chocadores”. Hoje ele é o pai… mas pode muito bem ser a mãe amanhã!
Os ovos também são bem interessantes. Mais de dois milhões de ovos são liberados a cada cruzamento. Alguns nudibrânquios nascem pequenos e saudáveis, prontos para rastejarem pelo mundo afora. Outras, no entanto, nascem como larvas que vão se desenvolvendo aos poucos.
Nudibrânquios também são usados na medicina. Seus compostos químicos ajudam cientistas a criarem novos tratamentos. E povos do Alasca, Chile e Rússia comem estas lesmas cozidas ou mesmo cruas!
Quem sabe agora o preconceito contra esse simpáticos bichinhos diminua um pouco, não?