(PRÓLOGO DO COLUNISTA: Quem acompanha meus textos no THE WALKING DEAD BRASIL sabe que nunca escrevo em primeira pessoa. Mas o acontecimento é especial, e trágico, e, por isso, abre-se a exceção. Além do mais, aposto que tem muita gente espalhada por aí que vai compartilhar o sentimento. Agora, se tudo não passar de uma peça pregada pelos produtores, retiro tudo o que eu disse. Ou não.)
Glenn morreu.
Glenn morreu.
Glenn morreu.
Parece que é preciso dizer uma, duas, três vezes até acreditar.
E, mesmo assim, dá para acreditar?
É um show de TV, ficção, mas, quando acontece uma coisa dessas, o dia fica mais triste.
Não à toa.
Glenn sempre foi um dos fios condutores de “The Walking Dead”. Um dos caras que está na série desde os primeiros momentos. Um dos caras que fizeram a série crescer e se transformar no fenômeno que é hoje.
O japa conquistou muita gente porque começou o show representando o que muita gente é, na vida real. Num apocalipse zumbi, quem não estaria completamente apavorado como ele estava assim que foi introduzido à série?
Glenn, naquele momento, era o moleque nerd que não sabia o que fazer. O entregador de pizza. Todo mundo gosta de dizer que estaria preparado para momentos de tensão, mas a grande verdade é que, quando o bicho pegasse, mesmo, seria difícil segurar a onda.
Mas, depois, o cara se transformou naquilo que todo mundo gostaria de se transformar. Cresceu, assimilou a realidade e se transformou em um guerreiro. Num determinado momento, Glenn parecia ser indestrutível. É assim que todo mundo se imagina. Como um herói, salvando vidas, conquistando a mocinha.
Ah, a mocinha…
Glenn e Maggie, acima de tudo, representavam a esperança em “The Walking Dead”. Aconteça o que acontecer, o amor sobrevive. Existia o sonho de um mundo melhor nos dois, por mais que o relacionamento tenha ficado um pouco mais “burocrático” nos últimos tempos.
Mas Glenn, acima de tudo, e como disse no episódio derradeiro, sempre deixava claro que estava fazendo de tudo para voltar para casa porque, lá, estava o amor. Lá estava a esperança.
O japa não se transformou em um dos principais personagens da série à toa. Glenn esteve ativamente presente em todos os momentos mais importantes. Foi peça fundamental na fazenda de Hershel. O que dizer da maneira como sobreviveu à tortura em Woodbury? E a atuação na batalha de Terminus? O pedido de casamento?
Por isso, quando se coloca ponto-final em um sujeito como esse, parece que foi pessoal. Você simplesmente fica se perguntando por que um maldito produtor tem esse tipo de ideia. O que passa pela cabeça de um sujeito para contrariar a vontade de tantos fãs, para remar contra a maré e matar sem dó nem piedade?
Acontece porque é assim que é. Se a ideia é tentar simular da maneira mais real possível como seria o caos na vida real, é assim que é. Pessoas morreriam e ninguém teria superpoderes. Além do mais, vale sempre lembrar, “The Walking Dead” é o que é, também, por esse desapego cruel a qualquer personagem. Basta estar vivo para morrer. Isso sempre foi um dos mantras da série.
Não foi pelo taco de beisebol Lucille, de Negan, como mostraram os quadrinhos. Mas foi, ironicamente, pelo ato de agradecimento de Nicholas, que, antes de se matar, reconhece que pode ter ido em paz, já que Glenn fez que ele, pelo menos, tivesse resgatado sua dignidade e paz interiores. Pelo menos para ele, claro.
Mas Glenn morreu.
Glenn morreu.
Glenn morreu.
Porra, eu gostava do japa.