O Governador é um personagem chave em The Walking Dead, por isso mesmo toda uma expectativa para quando ele dar o ar da graça na série da AMC. Eu não acompanho os HQs por uma questão de saúde financeira, emocional (comecei a ler o primeiro e antes que na minha cabeça eu formulasse “shut up take all my money” achei por bem fechá-lo), mas acompanho a série desde sua estreia e leio os livros e posso afirmar sem medo que estamos melhor sem o Governador…na série!
“Quem não o conhece não pode mais ver para crer. Quem o conhece não pode reconhecer”, é mais ou menos assim que vejo o Governador da série televisiva, acredito que quem leia os quadrinhos também, afinal pelo que leio, as coisas no nanquim costumam ficar bem feias. Que no canal à cabo, os produtores executivos precisam pensar em classificação etária, retorno financeiro, patrocinadores, eu entendo e faz parte do jogo, o que não entendo é um Governador tão coxinha.
Quem leu A Ascenção do Governador e O Caminho para Woodbury sabe muito bem o monstro que Brian/Phillip se tornou ao longo do apocalipse zumbi, acompanhou toda a transformação, a perda de humanidade crescente, o horror e a crueldade que se instaura em seu espírito e deseja de maneira alguma topar com este sádico na frente. Sua Woodbury já era terra de ninguém, wild, wild west, antes mesmo de sua chegada e de sua tomada de poder, depois então, ela apenas organizou a bangunça e tomou para si o papel de déspota.
Pois vejamos Brian/Phillip na série televisiva é um WASP, ao contrário dos livros e dos quadrinhos, nos quais ele é latino, o que lhe confere uma cara de protestante coxinha já de saída, sem a passionalidade latina e sem o background de sobrevivente na vida mesmo, por sua trajetória e de muitos hispânicos nos EUA. O personagem carece de estofo, do background que podemos encontrar por exemplo nos livros, temos o Governador naquele momento em sua fortaleza, mas faltam elementos ao personagem que o torne mais complexo, ele é fachada de bom moço e também cruel,mas não verticaliza, não mergulha neste lado absolutamente sombrio. Woodbury na tv é quase um subúrbio daqueles de filme, um condomínio fechado, com suas contradições e podres, evidentemente, como deveria ser, mas nem de longe o local arrepiante de estupros, roubos, assassinatos como a dos romances.
Concordo com Robert Kirkman quando ele diz que sempre está tentando fazer mudanças em relação aos quadrinhos, acho bem interessante que se crie novas abordagens, novas narrativas, afinal é um outro produto, uma derivação do original e cria uma curiosidade por parte de quem conhece tudo de The Walking Dead e também cria a vontade de mergulhar mais no universo por aqueles que só acompanham a série. Entretanto só penso que um personagem como o Governador poderia ter sido muito melhor explorado ao longo das temporadas, se tornando um opositor muito mais temido e assustador ao grupo da prisão do que foi, no final sua aparição estava maçante e chata, conferindo um ritmo arrastado à série, agora com sua morte, não precisamos mais se preocupar com seu mito e quem sabe a temporada volte aos eixos com os próprios medos e demônios dos personagens da prisão e a inserção de novos personagens para tumultuar ainda mais.