The Walking Dead, no decorrer de suas cinco temporadas, como uma das séries de TV com mais repercussão mundial e sucesso de público, mostra a sofrida história do ex-policial Rick Grimes e seu grupo de sobreviventes, em pleno Apocalipse Zumbi.
No desenrolar dessa jornada, Rick, mesmo tentando desesperadamente manter as pessoas do seu grupo vivas e unidas, não conseguiu evitar a perda de entes queridos. Seja para os não mortos, seja pela ação de outros grupos de pessoas remanescentes. A cruel realidade desse novo mundo, cheia de mortes horrendas, medo e dificuldades de sobrevivência, ao longo do tempo, acabou por transformar a condição psicológica de Rick Grimes, que aparenta claramente traços fortes de dupla personalidade.
Desde o choque inicial que se abateu sobre ele (após o coma), tudo ao seu redor sendo dilacerado e colapsado pela praga zumbi, ele vivenciou experiências traumáticas. Dentre elas: o desfecho trágico da busca por Sophia, a queda de seu antigo parceiro e amigo Shane (por ele assassinado), a morte de sua esposa Lori, o ataque do Governador à prisão e a posterior morte de Hershel (que foi em muitos momentos a sua bússola moral), a tentativa de estupro contra seu filho Carl e o posterior ataque por parte dos canibais de Terminus. Tais fatos, perturbaram profundamente o nosso ex-xerife.
As terríveis experiências passadas por ele e pelas pessoas que o acompanham, transformaram o seu senso ético de certo e errado ao longo do tempo, o tornando uma pessoa de mente volátil. De um líder que pregava “Não devemos matar os vivos”, para um comandante implacável e em muitos momentos, cruel e feroz, tendo já matado à sangue frio várias pessoas. Ou sendo um pai carinhoso e zeloso para com os filhos, para no momento seguinte, ser um sujeito extremamente frio e capaz de matar tudo e todos para viver.
Mas não devemos rotulá-lo como um completo insano e condená-lo por isso. Além do que, ter que sobreviver um dia por vez, com comida, água e outras necessidades cada vez mais escassas e tendo que fugir e combater criaturas, cujo único desejo é dilacerar à tudo e à todos até os ossos. Essa perspectiva de realidade é o mais próximo que poderíamos chegar do “inferno na Terra”. Muitos já estariam loucos ou teriam se matado à muito tempo. Com isso, no mundo de The Walking Dead, não existem mais pessoas que não “sujaram suas mãos” de sangue.
O já finado Governador sintetizou a frase que mais combina com verdade inconveniente do caos apocalíptico de Kirkman: “Ou você mata ou você morre e depois mata”. Por mais, que Rick esteja ciente disso e mesmo que ele não goste deste pensar, é o que ele tem que fazer. Ou seja, toma decisões tenebrosas, ditatoriais e cruéis, para a sobrevivência dele, do que restou de sua família (Carl e Judith) e de seu grupo. Por mais que tome atitudes discutíveis aos olhos dos outros (até de membros de seu grupo), ainda assim são atos de sobrevivente.
Liderar, faz Rick viver numa fronteira frágil e instável entre a lucidez e a total desumanidade. Entre a bondade e a crueldade. Entre cuidar dos seus e ter o simples “prazer” de se vingar dos que o fizeram ter perdas ou tentaram matá-los. E os trucidar ferozmente (“Eu te fiz uma promessa, Gareth…”). Não muito distante, inúmeras vezes, dos tidos “vilões”, com os quais já se confrontou na série televisiva.
Do Governador Phillip e sua Woodbury, o grupo de sádicos de Joe, passando pelo Terminus e seu macabro líder Gareth. Todos os que já sucumbiram frente ao “Team Rick”, já cometeram ações abomináveis e macabras das mais diversas, durante sua sobrevida no período pós-praga. Então, não existe diferença entre Rick Grimes e os seus adversários anteriores, tidos e ávidos como maus, macabros e animalescos. Maus e bons, preto e branco, não existem mais nesse planeta zumbi de horror primitivo, só há sobreviventes.
Durante os episódios da segunda metade da quinta temporada, com a chegada do grupo à safe-zone Alexandria, ficou bem claro que Rick continua agindo de forma cética e violenta perante o desconhecido. Que o diga a briga contra o abusivo médico Pete e seu posterior momento de fúria, com desequilíbrio mental e desabafo contra a chefe local e todos os sobreviventes da comunidade. Disposto até a tomar o controle do local à força, perante à displicência e ingenuidade da líder Deanna, frente o perigo dos não-mortos e outros possíveis sobreviventes hostis.
No decorrer de sua jornada até o momento atual da série, conclui-se que Rick está moldado para a pura sobrevivência, sendo bom e cruel, animalesco e humano, numa alegoria de “O médico e o monstro” pós-apocalíptica. Concordando ou não com seus métodos e ações, ele tem conseguindo manter as pessoas vivas, mas não com total sucesso.
Com isso, questões são levadas: um Rick Grimes bipolar e com traços de desequilíbrio mental, continua a ser a melhor opção de liderança para os sobreviventes, em Alexandria? A chegada de Morgan será mais um ponto de tensão ou de compressão, para Rick Grimes? Estará ele preparado para enfrentar os conflitos que estão por vir, numa comunidade agora desperta e amedrontada pela mortal realidade do mundo exterior?
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