Rick Grimes: liderança a qualquer custo! Custe quem custar?

Rick Grimes é o macho alpha de “The Walking Dead”. É o papel dele na série. Claro, nada resumido a um troglodita que sai espancando e atirando em todo mundo, além de empilhar corpos de walkers por onde passa. Mas é o cara que fala grosso, impõe a ordem, instaura o medo, organiza o caos, indica caminhos, seduz as mulheres. E, quando necessário, espanca e atira em todo mundo, além de empilhar corpos de walkers por onde passa.

A sexta temporada da série começou evidenciando muito esse lado do protagonista. Lembrou que Rick fez o que fez no fim da quinta, com a bala na cabeça de Pete. E mostrou, com flashes e aos poucos, que está acontecendo aquilo que todo mundo sabia que aconteceria. É ele quem vai comandar Alexandria, e Deanna será, cada vez mais, como a Rainha da Inglaterra: está, oficialmente, no comando, mas não toma nenhuma decisão.

Acontece que esse Rick mandão e truculento pode acabar fazendo mal a ele mesmo. Numa pitada aqui ou ali, já deu para perceber que nem mesmo todas as pessoas que estão ao redor dele, as pessoas em quem ele mais confia – ou voltará a confiar -, estão dispostas a seguir à risca e de olhos fechados tudo o que ele determina.

Veja Daryl, por exemplo. Trata-se de um rebelde, um sujeito com o humor e as atitudes muito voláteis, mas, acima de tudo, um cara extremamente leal. Pode até ter uma visão diferente dos fatos, mas, por trás de uma personalidade forte e intensa, mas, ao mesmo tempo, frágil em alguns aspectos, eventualmente tem sempre estado ao lado do amigo. Os dois já passaram por momentos complicados, mas saíram deles juntos. E mais fortalecidos.

Mas nem mesmo Daryl está convencido do “tudo ou nada” que povoa a cabeça e algumas atitudes de Rick. Se o líder está disposto a fazer tudo o que for preciso para manter e se manter em Alexandria, o motoqueiro, não. Rick mataria quem fosse preciso para não perder o posto que, acredita, seja definitivo. Daryl, não. Isso fica claro nos diálogos recentes dos dois, e pode piorar daqui para a frente, seja onde eles estiverem.

Outro caso, evidentemente, é o de Morgan. Recém integrado ao grupo, se submeteu ao “período de experiência” imposto pelo xerife. Passou por ele. Mas, desde o primeiro momento em que pôs a cara novamente em The Walking Dead, contesta Rick. No relacionamento dos dois, tem tentado ser a voz da consciência dele. “Você não é essa pessoa”, disse. Uma vez, deu certo, até, no momento de enterrar o pai de Ron. Mas até quando?

Isso tudo sem contar a reprovação geral das pessoas em Alexandria. O que é, claro, compreensível. Basta ver como ele “chegou chegando” na comunidade, a ponto de matar um dos seus integrantes mais relevantes e colocado a arma na cabeça de outro – merecessem eles ou não. Mas, geralmente, quem acabou de aparecer fica mais quietinho, no seu canto, tentando entender como as coisas funcionam. Com Rick, nunca foi assim. Em parte, que se diga, porque Deanna tem respaldado as decisões do cara.

O problema é que esse tiro pode sair pela culatra. A continuar dessa maneira, ele pode perder o apoio de quem está longe e, pior, de quem está mais perto. Claro que sempre foi assim, com altos e baixos, na base do amor e do ódio. E, justiça seja feita, está evidente que o objetivo dele, no fim das coisas, é zelar pelo bem do grupo. O dele, não dos agregados. Faz parte do jogo e, transmitindo para o mundo fictício, duro e competitivo do caos pós invasão zumbi, talvez é assim que tenha de ser para continuar vivo. Ali, é matar ou morrer.

A personalidade marcante e agressiva de Rick foi sendo moldada com o passar da série. Muitas vezes, ele esteve perto de perder as rédeas que comandam os demais, mas a tensão imposta pelo dia a dia e a sobrevivência de todos, na medida do possível, sempre foram paliativos para colocar panos quentes nas situações. Sempre que a poeira baixa, todos se abraçam e dizem uns para os outros: “Estamos vivos. E bem. E é porque cuidamos uns dos outros. Todo sacrifício é compreensível pelo bem geral”. É esse discurso que o mantém no topo.

Pegando uma frase do tio do Homem-Aranha emprestada, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Rick tem os dois. Dos poderes, ele gosta. Usa e abusa deles e, como a coisa está dando resultado, vai se sentindo cada vez mais dono de si. Mas e as responsabilidades? É preciso manter o grupo vivo, a prioridade é essa, mas será que, para isso, vale a pena trair a confiança de gente como Daryl e, agora, Morgan? Esses caras, hoje tão leais, estão mudando a mentalidade em relação a ele?

Não, Rick não será baleado pelas costas por um deles, muito menos sufocado enquanto dorme. Mas pode não ter mais tanta autonomia para indicar um caminho, executar um traidor, colocar em prática um plano que tenha pensado. E hesitar, em “The Walking Dead”, muitas vezes define quem mata ou quem morre.


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Plinio Rocha
Plinio Rocha
Jornalista, 38 anos, paulistano. Quando os zumbis tomarem conta, vai preferir o arco e flecha a um revólver. Acha que Rick e Shane poderiam ter se sentado e tentado resolver o triângulo amoroso. Ou não.

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