ATENÇÃO: contém spoilers do segundo episódio da sétima temporada de “The Walking Dead”. Se não quiser tê-los, não siga com a leitura.
Beba do poço, reabasteça o poço.
O mantra do rei Ezequiel, introduzido a “The Walking Dead” no segundo episódio da sétima temporada, tem um significado muito mais vasto do que sugere.
É como as coisas funcionam no Reino, sim. Se você come uma fruta, plante uma árvore que dê frutos iguais. Se você precisa de uma peça de roupa, ajude a costurar as que estão rasgadas. Se você se utiliza da infraestrutura do lugar para se recuperar depois de chegar ali quase morta ou debilitada, Carol, ajude a encorpar a legião de súditos do rei.
Ezequiel viu em Carol e Morgan o que eles têm de especial. Desde o começo. Claro que a série trata isso, até aqui, de maneira introdutória. Mas a dupla tem muito a oferecer ao Reino, e ele quer tirar proveito disso ao máximo.
Ezequiel já se vê em uma situação difícil. O que ele conseguiu construir na comunidade que lidera, como diz Carol, é um conto de fadas em meio a uma realidade completamente diferente trazida pelo mundo apocalíptico dominado pelos zumbis. Ele sabe que vive, o tempo todo, entre a cruz e a espada devido ao relacionamento que desenvolveu com os Salvadores. Por isso, a necessidade de se fortalecer.
Muita gente não gostou da desaceleração do segundo episódio, em comparação ao primeiro. Além de ser praticamente impossível manter o mesmo nível de adrenalina, era obrigatório ser diferente. Há de se construir o alicerce que vai fundamentar essa sétima temporada, e é isso que parece estar sendo feito.
Ah, mas será assim, daqui para a frente? Explorando nichos diferentes a cada episódio? Talvez seja. Fato é que, como pregam os diretores e produtores, o mundo é muito mais amplo, agora, e precisa ser tratado dessa maneira.
Morgan parece mais interessado em jogar o jogo. É natural. Ele sabe, acima de tudo, que precisa de um exército para encarar o que está por vir, mesmo que não tenha noção, ainda, da real dimensão do problema.
Carol é a Carol que todos estão odiando amar. Perceba pelo nariz dela como muda a expressão quando ela se sente na necessidade de encenar. Melissa McBride se entrega ali, e entrega a todos o desenvolvimento de uma das principais personagens da série.
Ezequiel no meio disso tudo é o bônus. A importância dele para The Walking Dead, aos poucos, vai se revelando. A excentricidade de ter uma tigresa, Shiva, com o poder e a fragilidade que ela carrega, lado a lado, expondo, da mesma maneira, o poder e a fragilidade dele próprio. O rei sabe que está diante de mais do que dois súditos. Talvez estejam ali os marechais de guerra dele. Não à toa, não abre mão de Carol. Não à toa, vai tentando, a todo custo, conquistar Morgan.
“A esperança é a Estrela do Norte. Deixe-a guiá-lo”, é outra das frases talhadas nas paredes do Reino. Exemplifica exatamente aquilo que Ezequiel tenta transmitir para seus seguidores. É a tal esperança que ele diz que as pessoas precisam para continuar vivendo, dia após dia. Com alguém que as aponte o caminho, com alguém que lhes dê a sensação, ainda que nem tão certa assim, de segurança. Por isso, evidentemente, ele buscar agregar valores tão significativos como Carol e Morgan, mesmo que não os conheça de maneira profunda.
Por isso, será, ele “se abre” mais para ela, num determinado momento? Quem sabe. Por isso, será, ele tenta até de certa forma seduzi-la, num determinado momento? Quem sabe. A melhor maneira de conseguir a confiança de uma pessoa, principalmente nesses momentos iniciais, é derrubar o maior número de barreiras possível diante dela. Mostrar-se de peito aberto. Conte-me seus segredos que eu lhe contarei os meus. O caminho é esse, e Ezequiel joga com as cartas que tem.
Mais uma vez, encare cada momento inicial desta sétima temporada como a construção da base de uma pirâmide. Não dá para esperar a presença de Negan o tempo inteiro, Rick tentando contornar a situação insistentemente, o grupo “de Atlanta” arquitetando a vingança depois de ter perdido Glenn e Abraham.
Alexandria, os Salvadores, o Reino e Hilltop, num determinado momento, vão se cruzar, todos sabem disso. Antes de esse bolo sair do forno, os ingredientes precisam estar separados e prontos para serem colocados juntos. E quando vier o fermento, aí, sim, será a hora de prender a respiração.