Análise Longa: The Walking Dead 3ª Temporada Episódio 5 “Say the Word”

Análises Longas são são textos mais aprofundados e elaborados dos episódios de The Walking Dead, feitos por Tiago Toy, escritor e autor da saga “Terra Morta“, lançada pela editora Draco, que conta a história de uma epidemia zumbi ambientada em São Paulo. Atualmente trabalha na continuação do livro, no roteiro de uma HQ e na organização de uma coletânea, ambas baseadas no universo de “Terra Morta”.

ATENÇÃO: O texto abaixo apresenta spoilers, tanto da série quanto dos quadrinhos.

 

Nem só matando personagens importantes The Walking Dead alcança picos altos de qualidade. Não houve uma morte sequer em Say The Word (se desconsiderarmos os mortos-vivos) e a excelência alcançada em Killer Within se mostrou ainda presente. Não que tenha sido tão avassalador (ui!) quanto o anterior, mas o quinto episódio nos dá evidências claras de que há mãos firmes e eficientes por trás das câmeras, tanto quanto há em frente. Direção e atuação estão caminhando lado a lado. E isso só nos beneficia.

 

Assim que começou, pensei que se tratava de um flashback. Desatenção minha; era apenas uma tarde descontraída dentro dos muros de Woodbury. Andrea nem cogita a possibilidade de ir embora. Pudera. Depois de tudo que a infeliz passou, e mesmo tendo um tratado de gratidão para com Michonne, por que ela deixaria a segurança estabelecida pel’O Governador? Por confiar nos instintos da amiga? Sinceramente, eu faria o mesmo que a loira. Além disso, está claro como o sol que Andrea está se aproximando de Philip. Segurança e uma chance de construir um relacionamento sólido com alguém poderoso. Andrea não precisa de mais nada.

 

Nos quadrinhos, Andrea é uma de minhas personagens favoritas. Desde o começo se tornou muito útil, sendo um dos (senão o) membros mais úteis. A precisão de sua mira, o pensamento rápido (que a ajudou a não ser decapitada na prisão, e ganhando apenas uma “bela” cicatriz da orelha à boca) e o carisma conquistaram vários leitores. Sem contar o fato de que a bela não possuía apenas uma ótima visão na hora de atirar; ela conseguia enxergar além, e Dale não precisou ser um galã para amá-la e ser correspondido. Dale morreu cedo demais na série, então nossa chance de vê-la se relacionar com um cara muito mais velho virá, talvez, quando
ela voltar ao grupo de Rick. Hershel está lá, esperando, sem uma perna, mas o resto continua intacto. Boa atiradora ela é; basta a máscara de Philip cair e a cortina de sonho que cobre Woodbury se rasgar para que ela volte à realidade e seja o que nós estamos esperando que ela seja. A verdadeira Andrea.

 

Enquanto Philip discursa aos habitantes da cidade-refúgio sobre a festa que virá, Michonne aproveita para invadir sua casa e recuperar sua tão estimada katana. Que ela é uma personagem foda não há dúvida, mas ainda não consegui me convencer. Entendo que ela esteja seguindo seus instintos, parabéns, mas há algo nela que não me desce. A atriz interpreta muito bem, não há reclamação quanto a isso, mas sinto um ar inumano na personagem.
O mau humor eterno, os olhos de eu sei o que vocês fizeram no verão passado, o andar sorrateiro. Gata, relaxa! Ainda não consegui me identificar com Michonne, uma pena. Acredito que até o final dessa temporada possamos vê-la mais crível, sem bancar o Jaspion paranoico enquanto respirar. Caso contrário, se tornará tão chata, tão enfadonha, que será o tipo de personagem que não serve pra nada além de trazer ação. Tento analisa-la da seguinte forma: ela amava aqueles zumbis que a acompanhavam acorrentados (o que eles foram antes disso, claro) e que ainda não aceitou o fato de tê-los perdido. Michonne é do tipo que não expressa emoções, preferindo manter as lágrimas atrás dos olhos. Talvez seja o motivo para que ela pareça uma bomba ambulante, prestes a explodir a um simples toque.

 

Por falar em bomba, Rick não está muito mais são do que ela. Não conseguindo engolir as informações que vieram rápido demais – nascimento da filha, morte da esposa – o ex-policial pega o machado e parte sozinho para os corredores da prisão. O que vemos é um Rick descontrolado, e aproveitando a tomada 220 enfiada no $#@% pra limpar o lugar. Ainda há zumbis vagando pelos corredores escuros, mas nenhum é tão assustador quanto
Rick. A insanidade brilha em seu olhar. Os efeitos de cabeças sendo arrancadas, partidas e massacradas não são perfeitos, mas satisfazem. Por algumas tomadas Rick deixa de ser policial e se torna a Rainha de Copas. Cortem as cabeças!

 

Glenn tenta trazê-lo à tona, mas quase sobra pro coitado. Em um daqueles momentos tensos, onde você pensa que o diretor chutou o pau da barraca e vai tornar o herói em vilão, olhares cravados são o que basta para que prendamos a respiração. Não há volta para Rick. Ou há? De volta à Woodbury, após xeretar a casa d’O Governador e encontrar estranhos indícios de que a merda é mais fedida do que imaginava, Michonne quase é pega, mas consegue deslizar nas pontas dos pés e sumir com sua espada antes que seja pega. Encontrando um local com alguns zumbis trancafiados (por algum motivo ainda desconhecido), ela aproveita para lubrificar as juntas e os solta. Não dá nem graça vê-la fatiando-os um a um. Mal sente a adrenalina correndo novamente, Michonne é flagrada por alguém que carrega um balde com “comida” para os zumbis, diga-se membros humanos. Levada à presença de Philip, Michonne o ameaça com um movimento preciso e deixa claro que não vai ficar, que não gosta dele e que sabe que ele é um grande filho da p%$@. O que ele faz? Deixa ela ir. Como Philip não dá ponto sem nó, usa o acontecido para colocar as duas amigas uma contra a outra ao contar para Andrea que Michonne o ameaçou.

 

Quase não funciona como o esperado, pois Andrea segue Michonne até os portões. Bloqueadas por Merle, Michonne tem certeza de que arrumarão uma desculpa para que elas não saiam, mas não é o que acontece. O portão é aberto, aparentemente de bom grado, e Michonne parte, sendo assistida por uma Andrea confusa com a paranoia da amiga. Thelma & Louise – Juntas Para Sempre uma ova. Cabe agora apenas a Andrea descobrir quem é O
Governador. Acredito que ela vá descobri-lo da pior forma. Talvez seja aqui que ela ganha a cicatriz registrada da versão dos quadrinhos. Juro que eu adoraria ver isso.

 

Em uma cena anterior, vemos Merle e outros caras verificando uma armadilha pega-zumbi. Michonne fatiou os que estavam em Woodbury; eles precisam de mais. Pra quê? Até o momento em que a espadachim os descobriu não estava claro, mas ao ver Merle arrancando seus dentes sim. Logo lembrei de uma estranha atração de Woodbury mostrada dos quadrinhos. Foi exatamente o mesmo motivo, que acabamos vendo lá para o final do episódio. Uma briga entre zumbis. Li a respectiva edição há muito tempo. Sabia que havia isso, mas não lembrada dos detalhes. Pensei que os mortos-vivos lutariam entre si, e me perguntei “como?”. Então a luz veio e Merle se enfiou no círculo de errantes para lutar contra outro cara. Uma atração bastante falsa, devo dizer. O mundo pode ter acabado, mas o entretenimento idiota que vemos na TV está presente em Woodbury. Lutas falsas, riscos falsos, tudo armado. Nada diferente do que já vemos hoje em dia.

 

Andrea finalmente enxerga uma característica estranha em Philip, e se dá conta de que ele não é o príncipe encantado que parecia. Inconformada com o que vê, ela tenta dissuadi-lo a parar, expressa firmemente sua insatisfação e, então, se dá conta que a paranoia de Michonne não era tão infundada assim. Se ferrou, loirinha! Quem vai te ajudar agora?

 

Não há pior hora para um bebê nascer do que em plena pandemia zumbi. Pior ainda quando a mãe morre. Não sou expert em cuidados infantis, mas tenho certeza de que alimentar um recém-nascido não é tão simples. Hershel diz que precisará de uma tal fórmula (deve ser Sustagem ou algo do tipo), caso contrário a bebê não sobreviverá. Daryl parte em sua motocicleta com Maggie, que se sente responsável pelo que teve que fazer a Lori. Lembro
que, em um dos episódios anteriores, um dos prisioneiros alertou Daryl sobre algum problema em sua moto; logo pensei que o tal problema pioraria exatamente quando os dois mais precisassem fugir. Não foi o que aconteceu. Enquanto Maggie encontra a bendita fórmula, Daryl vasculha o local (uma creche) em busca de eventuais companhias indesejadas. Há alguns papéis colados à parede, e um chama a atenção do caipira de coração mole. Um nome, para ser mais exato. Sophie. Há algo além de tristeza no olhar de nosso favorito. Pode ser culpa por não ter conseguido encontra-la antes do triste fim, pode ser preocupação com Carol.

 

Daryl cresceu muito. Ele não aparece tanto em seus momentos solo como nas temporadas anteriores; agora é apenas um guarda-costas eficiente ao extremo. Mas ali dentro, em algum lugar, ainda há o Daryl que nos conquistou, que poderia ter se tornado a maior dor de cabeça do grupo, mas que no final se tornou um dos personagens mais queridos. Sua evolução é gratificante, e mostra que nem todos se tornarão maus se um dia Deus (ou o diabo) jogar um grande balde de merda no ventilador. Status, criação, nem nada do tipo vai ditar qual caminho você vai seguir. As escolhas que você fizer é que o farão. Um típico estereotipo – caipira ignorante – pode ser muito mais. Vê-lo se arriscando pelo bebê, e depois dando de mamar e ninando… Cara, a cena valeu o episódio. Entre Michonne fatiando zumbis e Daryl bancando a babá, fico com a segunda, obrigado.

 

Enquanto isso, a noite vem e Rick continua vagando como uma alma penada. Ensanguentado, suado, um pano de chão com pernas. Ele chega ao local onde Lori respirou pela última vez e ouve um gemido. Lembrei instantaneamente de uma entrevista com o criador da série dizendo que mostrar Lori virar zumbi não seria legal, que queria deixar na imaginação das pessoas (ou algo assim). O gemido entregou o contrário, à primeira vista. Pensei que a veria rastejando pelo chão com as trompas de fora, mas tudo o que restou da personagem mais injustiçada da série foram rastros de sangue no chão. Agora vou apontar algo que está comendo solto em fóruns de discussão: Lori morreu ou não?

 

Eu acredito que sim. Tenho certeza. Ela não conseguiria sobreviver após um parto tão brutal. Quando Lori morreu nos quadrinhos, a discussão foi a mesma. Claro que, ao contrário da série, os fãs gostavam dela. Vê-la morrer, partida ao meio por um tiro d’O Governador, em uma página inteira com direito a nacos, sangue e demais fluídos espirrando longe não foi o suficiente para acreditar que ela morreu. “Cara, ela morreu!”, era o que eu dizia a mim mesmo. Confesso que tentei acreditar que alguém a teria resgatado, cuidado dela, e que logo ela voltaria à vida de Rick, mas a verdade era outra. Era dura. E é o mesmo aqui. Mortes distintas, violência semelhante. Mesmo quando Rick encontra a bala que devia estar na cabeça da falecida esposa (pelo menos Carl disse que atirou) não me permiti acreditar em um final feliz para Lori. Preferi encarar os fatos de uma vez. É menos doloroso.

 

Há até um zumbi com uma pança enorme sentado logo adiante; dá-se a entender que ele comeu Lori toda (ai ai ai ui ui ui), mas analisem comigo: T-Dog foi atacado por três zumbis (não lembro o número exato) e encontrado mais tarde. Partes do infeliz ainda estavam no chão, o que precisou para o reconhecerem. Como um zumbi sozinho devoraria uma mulher inteira tão rápido? Não faz sentido. Uma explicação lógica que vejo é: Carl não teve coragem de atirar na mãe e a arrastou para dentro de algum armário. Depois disparou a esmo para que Maggie pensasse que ela já era. Quando Maggie quis dar um fim na mulher, Carl não deixou, disse que era sua mãe e que ele mesmo o faria. Isso faz mais sentido do que engolir Lori como gelatina. Ela era tão fácil assim de comer?

 

O episódio termina em uma das cenas mais antológicas dos quadrinhos: Rick atende ao telefone. Por que, Deus, sempre termina na melhor parte? Não é surpresa quem está do outro lado da linha se for quem eu imagino que seja. Os produtores não perderiam a chance de utilizar uma das melhores ideias originais. A loucura de Rick está apenas começando, e nem haverá tempo para luto.

 

Say The Word mantem o nível, seriedade e ótima forma de contar uma história. Ouso dizer que os bonitões dos zumbis não são mais a maior atração. Os dilemas humanos, a face diante à realidade em um mundo morto, os medos e fraquezas. Esses sim são o ponto alto.


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Redação
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"We are surrounded by the dead. We're among them and when we finally give up, we become them! Don't you get it? WE ARE THE WALKING DEAD!"

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