Podemos considerar a 7ª Temporada de The Walking Dead um prefácio da Guerra Total (All Out War), pois além de conhecermos Negan vimos como esse novo antagonista impactou a vida de Rick e dos demais personagens. Mesmo inconsistente o sétimo ano da série construiu expectativas acerca desse arco e em Mercy testemunhamos o início dessa nova história.
Mercy começa com um bom ritmo, dando ênfase na ação e na parte estratégica dos protagonistas, fato pouco explorado outrora porque Rick foi intempestivo em muitas situações e por isso sempre esteve em desvantagem no confronto contra Negan.
Na medida que Rick era surpreendido no passado, agora ele toma a dianteira tentando conquistar território e obter vantagem eliminando todos os pontos táticos que Negan tem. É um jogo de xadrez interessante, peça por peça caindo no tabuleiro.
Pela primeira vez vemos Rick comandando de fato as ações e Negan em uma posição pouco favorável. Ou menos favorável, pois apesar das dificuldades os trejeitos e arquétipo do personagem mantem-se iguais com exceção de um ou outro momento.
O início é piegas e talvez desnecessário em termos narrativos, mas entendo a razão de estar lá. Gimple colocou muitos diálogos expositivos, mas em contrapartida algumas sutilezas que funcionam muito bem simbolicamente, vide Rick refletindo em frente as lapides de Glenn e Abraham em Hilltop em algum momento pré confronto.
Uma dessas sutilezas é o título do episódio, ‘Mercy – Misericórdia’, que tem contexto pela citação do personagem que Carl encontra enquanto buscava gasolina em sua ronda, mas também encaixa na parte final quando Gabriel tenta ajudar Gregory.
A misericórdia pode ser representada como um ato de esperança ou como uma ação que no mundo pós apocalíptico pode te matar. Aquela dualidade clássica que diz que ser bom não é necessariamente a escolha correta. A construção da cena estruturalmente é igual à do piloto, Days Gone Bye, e até a zumbi que aparece é a mesma atriz usada na época.
Sutilmente é mostrado que Morgan e Carol resolveram, ao menos nesse primeiro momento, seus arcos narrativos. Morgan não queria matar, mas agora mata. Carol não queria matar, mas agora mata. Isso pode ser circunstancial em função da guerra, mas espero que não seja, pois se ambos voltarem a ter os mesmos dilemas teremos um grande problema de saturação.
Vimos também mais do papel de agente duplo de Dwight, que ficará mais evidente nessa temporada, assim como a importância da liderança atual e especialmente futura de Maggie, ressaltada por Rick e também pelos habitantes de Hilltop.
Nicotero na direção é garantia de qualidade. Tem algumas cenas lindíssimas como por exemplo Carol e Tara em primeiro plano na parte superior da estrada enquanto em segundo plano milhares de zumbis passam, assim como o plano sequência utilizado pouco antes deles se dirigirem ao Santuário. Não é comum cenas assim em The Walking Dead, então tecnicamente agrega bastante.
Tem uma outra cena em que uma van explode e a câmera está em um ângulo bem aberto, com zumbis ao fundo, e esse quadro permanece assim por muitos segundos até o veículo explodir. Esse tipo de filmografia que é desconfortável ao olhar foi usada muito no trailer apresentado na San Diego Comic Com desse ano. Ainda sobre o trailer é interessante perceber que esse primeiro episódio contemplou a maioria das cenas, sendo assim, podemos esperar algumas surpresas nos próximos capítulos.
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Mas apenas pincelando sobre isso entendo que por ser muito semelhante aos quadrinhos pode ser o futuro em si, mas também podemos interpretar como um vislumbre do que pode ser o fim da guerra através dos olhos de Rick, pois há muitas cenas dele refletindo que no corte seguinte vemos esse pseudo-futuro.
Há outras cenas dele com os olhos marejados em local e tempo que não podemos determinar, mas que podem ser cenas de um futuro próximo. As linhas temporais, sendo de fato o que vai acontecer ou não, estão abertas a diversas interpretações.
Em suma Mercy foi um bom primeiro passo para os desdobramentos que a Guerra Total vai ter. Não é o suprassumo da série, mas é competente nos aspectos que aborda.
NOTA: 7.5/10