Crítica | The Walking Dead S11E10 — O Velho “Novo Normal”

A décima primeira temporada de The Walking Dead começa com um estrondo literal quando um grupo de sobreviventes lança fogos de artifício em uma horda de zumbis que se aproximam. O conflito entre Maggie (Lauren Cohan) e os Reapers acontecendo no meio das explosões explosivas é sangrento, sombrio e avançado no que diz respeito ao combate corpo a corpo.

Após 11 temporadas, os personagens de The Walking Dead são lutadores experientes. Mas o desafio que nossos cansados ​​sobreviventes enfrentarão na temporada final se revelou muito mais insidioso do que parece: voltar a viver em uma sociedade. 

Os fãs da série, e das HQs nas quais ela se baseia (ou se baseava), sabem há algum tempo que nunca haverá uma “cura” para o vírus zumbi no mundo pós-apocalíptico de The Walking Dead. Mas um apocalipse pode terminar de outras maneiras, e a maneira como a temporada final está se aproximando dessa conclusão é inesperadamente perturbadora. A história se repete e a anarquia é substituída por empregos sem futuro.

Os sobreviventes de longa data de TWD se mudaram e se acostumaram com a Commonwealth, e fica claro no meio da última temporada que o ultimo grande vilão da série é um retorno à normalidade. E é um paradoxo muito interessante pois, por mais de 11 temporadas, tudo que todos ansiavam era voltar à antiga vida à sociedade. E agora eles têm essa oportunidade, e nem todos parecem confortáveis com a ideia da volta da burocracia.

São como as pessoas que clamam pela volta da Ditadura Militar no Brasil, mas não lembram (ou não fazem ideia) de todos os pontos negativos dessa forma de governo. São levadas por um sentimento de falso saudosismo, e um delírio coletivo sem antes racionaliza-lo.

Relacionamentos interpessoais e momentos tranquilos é o que mantém The Walking Dead funcionando depois de todos esses anos. Sempre foi mais sobre os vivos do que sobre os mortos. A série passará uma hora em cenas de lutas brutais e sangrentas de zumbis e, em seguida, terminará no abraço mais saudável que você já viu entre dois amigos que estão se reunindo depois de um tempo separados.

Grande parte do arco da temporada parece ser um terreno que pisamos antes na série. Nos dois primeiros episódios da segunda parte da temporada final vemos novas rivalidades surgirem entre personagens queridos, uma potencial distopia que pode desmantelar o status quo da nova comunidade, Carol carregando um prato de biscoitos recém-assados ​​e até outro salto no tempo. Tudo o que já foi visto na série.

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Mas retornar a situações familiares enquanto ainda apresenta novos personagens não é necessariamente algo ruim para a última temporada da série. Vamos revisitar sobre o que a série se trata nessa season finale. É gratificante ver esses personagens pegarem o que aprenderam e não repetirem os erros que cometeram no passado. Dessa forma, a Commonwealth parece mais como um ENEM, após uma aula de 13 anos.

E é claro que as apostas são muito diferentes para esta trupe do que nunca. Já vimos os sobreviventes irem da floresta para a água corrente antes no CDC e em Alexandria. Vimos comunidades com perigosas distribuições de poder e lideranças como a do Governador e Negan. Mas ainda temos que ver esses personagens se reajustarem a coisas como códigos de vestimenta, jornalismo, dinheiro, indústria de serviços e uma estrutura de classe socioeconômica. Os problemas que eles estão enfrentando na temporada final são mais parecidos com os problemas que enfrentaram nos tempos anteriores, e que nunca vimos em tela. A principal ameaça na Commonwealth não vem do culto de adoração ou do canibalismo, mas da rebelião dos direitos dos trabalhadores. Não é tão aterrorizante quanto profundamente deprimente.

Uma das razões pelas quais os apocalipses zumbis e o fim do mundo na ficção são tão amados é que eles oferecem uma fuga das convenções mundanas e opressivas da sociedade moderna. É fácil imaginar que tipo de pessoa seríamos se não tivéssemos empregos para ir e contas para pagar. É um equalizador. O idiota que te cortasse na fila ou não deixasse uma gorjeta seria comido primeiro. Quem nunca se imaginou nesse mundo?

O principal antagonista da última temporada é um produto privilegiado pelo nepotismo chamado Sebastian Milton. Sua mãe, Pamela, é uma ex-política que parece determinada a manter o mundo que a beneficiou. Eles são exatamente o tipo de pessoa que se pensaria que não tem força para sobreviver a um apocalipse, e aqui estão eles mandando em nossos sobreviventes. O poder de Pamela vem de um lugar reacionário de familiaridade e conforto, e isso nem sempre é uma coisa boa.

Pense nas crianças, por exemplo. The Walking Dead está no ar (e já teve saltos temporais) por tanto tempo que vimos várias crianças crescerem no apocalipse zumbi. Eles foram privados do que consideramos uma “infância normal” e tiveram que crescer muito rápido com toda a violência e morte que os cercam. Mas quando Daryl não pode dar a Judith Grimes uma mesada quando ela pede uma, é um lembrete de que a chamada infância normal também tem suas chatices.

É mesmo ético reconstruir a sociedade como era antes, com falhas e tudo? Procurar respostas no passado é a resposta?

Em nosso mundo, a pandemia teve uma maneira de revelar prioridades de uma maneira que às vezes é comovente e outras vezes dolorosa. The Walking Dead está perfeitamente preparado para usar sua temporada final para abordar isso de uma maneira criativa, e óbvia.

Nota: 7,5/10

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Ricardo Cruz
Ricardo Cruzhttps://linktr.ee/vareja17
Sou uma versão melhor do que eu era 5 minutos atrás. E vamos indo...

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