Quando Glenn encontra Jon Snow

(Viaje comigo, por favor, neste texto, caro leitor. Afinal de contas, o que é a vida, se não uma grande viagem?)

GLENN: “Por favor, o senhor poderia me ajudar? Onde estamos?”

JON SNOW: “Glenn? Glenn? É mesmo você?”

G: “Jon? Snow? Jon Snow? Você não é o cara de ‘Game of Thrones’?”

JS: “Eu mesmo, cara! Tudo bem? Mas, o que você faz por aqui? Quer dizer, li uns boatos na internet, mas você sabe como é…”

G: “Pois é… Eu li, também, mas acho que estou em apuros. Quer dizer, não sei. Não sei se fui, não sei se vou. É uma parada meio louca.”

JS: “Eu te entendo, bicho.”

G: “Mas se estou aqui com você, isso significa que estamos…”

JS: “Mortos? Pois é… Acho que sim. Ou não. Cara, quem entende os produtores? Fazem certas coisas, mas deixam umas pontas abertas.”

G: “Verdade. Quer dizer, começou a sexta temporada de ‘The Walking Dead’ e…”

JS: “Baita série, japa!”

G: “Sou coreano, bróder!”

JS: “Eu sei, mas é maneira de falar. Coisa carinhosa, nos aproxima, saca?”

G: “Que seja… Enfim, começou a sexta temporada e eu sabia que a minha vida não seria fácil. Sabia que minha batata estava para assar. Você leu os quadrinhos?”

JS: “Nem preciso para saber o que acontece com você. Como é mesmo o nome? Lucinha?”

G: “Ille. Lucille.”

JS: “Isso. Que merda, hem, irmão?”

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G: “Nem me fale. Sabe que, até hoje, peguei trauma de tacos de beisebol? Se vejo uma partida, rapaz, fico suando frio o jogo inteiro. Isso é maneira de acabar com alguém?”

JS: “Acho um jeito meio banal de dizer adeus, mas cada um é cada um. Eu não iria desse jeito, sou um guerreiro, um príncipe, um…”

G: “Um bastardo, né, bróder! Com todo respeito, mas dá uma segurada aí. Além do mais, a galera ali que você chama de irmãos não-sei-o-quê te traiu legal, se eu me lembro bem…”

JS: “Sacanagem das grandes. E botaram o moleque para abrir as minhas tripas, velho. O que eu fiz? Representei os Corvos, lutei, dei a cara a tapa, e é isso que ganho?”

G: “Produtores, Jon. Culpe os produtores.”

JS: “Mas, afinal, você morreu, mesmo?”

G: “Sabe que eu não sei? Você deve sofrer com isso, também. Nunca pegamos o roteiro inteiro nas mãos, nos entregam de capítulo em capítulo. Andei lendo umas teorias por aí de que escapei daquela horda de zumbis. O que você acha?”

JS: “Bem, primeiramente, que vocês são fracos. Com todo respeito, japa,…”

G: “Coreia!”

JS: “Que seja… Com todo respeito, se colocassem seus zumbis contra o exército da neve com o qual lutamos, os White Walkers…”

G: “Seja mais original, Jon! Walker é um termo que pegou com a gente, você sabe disso!”

JS: “Sem estrelismo! Se colocassem os White Walkers contra esses bebuns errantes que assustam vocês, era um massacre sem precedentes, e você sabe disso, certo?”

G: “Bicho, seus bonequinhos de neve não durariam cinco minutos comigo, Rick, Michonne, Daryl… Daryl, cara! Daryl é pica das galáxias! A gente é fera de estratégia, Jon. Sério, você se surpreenderia!”

JS: “Talvez. Mas, voltando a você, não sei. Quer dizer, o tal Nicholas caiu por cima, né? As tripas ali parecem ser dele, não suas, certo? Tem uma galera bem louca dizendo que viu você se arrastar para baixo de uma lixeira. É isso? Confere?”

G: “Não sei, não sei, não sei! Também quero saber. Mas, mano, não quero morrer. E a Maggie? Quem vai cuidar da Maggie?”

JS: “Gracinha, hem?!?! Tem celular?”

G: “Segura a onda aí, bastardo! Cuida da sua ruivinha revoltada, que você ganha mais. Mas, escuta, ouvi por aí que você também morreu mas não morreu, também. É isso?”

JS: “Tamo junto na mesma incerteza, jap… Coreia! Fim da temporada foi tensa, mas a pressão da galera pode mudar umas coisas aí.”

G: “Red Woman. É isso?”

JS: “Quem sabe. A mina tem uns truques na cartola, mano. Sangue ruim. Já mandou uns pra vala, mas há quem jure que ela pode me trazer de volta!”

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G: “Isso é louco, né, truta! Por que os caras simplesmente não seguem os quadrinhos, os livros? Pô, não alivia muito para mim, mas não é mais fácil, pensando na galera que assiste, pelo menos?”

JS: “Business, né, Glenn! A coisa gira em torno disso, velho. Business. Os caras querem lucrar, querem que a galera fique que nem maluca a semana inteira na internet debatendo, criando teorias, alimentando o produto. Faz parte do show.”

G: “Até que você, por ser um touro medieval, tem uns conceitos bem atuais, hem!”

JS: “Eu sou bastardo, mas não sou burro, né!”

G: “Jon Snow, não sei onde estamos, não sei para onde vamos, mas foi bom encontrar com você, cara. Ajudou a aplacar um pouco a angústia. Sei lá, mano, acho que você me entende. Está passando pelo mesmo drama, né!”

JS: “Ih, mano, você tá suave! Daqui menos de uma semana, no máximo duas, você vai saber qual o seu destino. Mas e eu? Até a próxima temporada começar, vou ficar aqui vagando nesse limbo, nesse ambiente que não sei qual é. Não é um céu, não é um inferno. Acho que estamos no purgatório, bicho! Só pode ser isso!”

G: “Bróder, falou tudo. Eu adoraria fazer companhia por mais tempo, quem sabe me graduar em espada com você, mas pretendo sair daqui logo. Quem sabe, se Deus quiser, voltar para a ação, limpar a roupa, juntar os trapos e, mano, voltar a matar zumbis. Tem uma galera aí se organizando. Lobos, já ouviu falar?”

JS: “Animais? Como o Ghost?”

G: “Não, não. Não lobos, lobos. Pessoas que se chamam de lobos. Você não vê a série, porra?”

JS: “Glenn, vamos manter as coisas como estão. Você é legal, gostei de conhecê-lo. Eu te admiro pela legião de fãs que tem, cara, tantos quanto eu. Ou seja, boa sorte! Se é voltar que você quer, se é voltar que você deve, que volte.”

G: “Digo o mesmo, Jon. Você é grande também, cara, tomara que a ruiva gostosa lá use o pó de pir-lim-pim-pim e faça você voltar. Sua família já sofreu demais, velho. E tem mais, o tal Martin lá também é meio obcecado em matar quem quer que seja, mas, convenhamos, vamos dar um tempo, né!?!?”

JS: “Falou tudo, bróder! Você representa, japa!”

G: “Sou coreano, mano!”

JS: “Que seja! Segue seu caminho, Glenn! Abençoado seja, volte para onde tem de voltar, se tiver de voltar. Senão, descanse em paz!”

G: “Segue seu caminho, também, Jon Snow! Espero vê-lo novamente por aí qualquer dia. E lembre-se: nunca mais confie em todo mundo cegamente.”

JS: “És sábio, matador de zumbis!”

G: “És sábio também, matador de White Walkers!”

JS: “Beijo, me liga!”

G: “Sem essa, por favor. Sou espada. Quer dizer, não como você. Ou melhor… Ah, deixa para lá!”

JS: “Japa maluco!”

G: “Sou coreano, porra! Quantas vezes vou ter de dizer isso?”

JS: “Que seja!”

(E assim foi o encontro entre Glenn e Jon Snow. Aconteceu mesmo? Onde? Como? Quando? Jamais saberemos…)


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Plinio Rocha
Plinio Rocha
Jornalista, 38 anos, paulistano. Quando os zumbis tomarem conta, vai preferir o arco e flecha a um revólver. Acha que Rick e Shane poderiam ter se sentado e tentado resolver o triângulo amoroso. Ou não.

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