Confesso que fazia tempo que não ficava ansioso para assistir um episódio de The Walking Dead. Assim foi minha semana inteira, que culminou no fim da espera neste último domingo.
E o resultado não decepcionou. Pelo contrário, superou toda e qualquer expectativa que eu havia supostamente criado. Um episódio com gosto de season finale mas que, felizmente, não é. A calmaria que antecedeu a tempestade foi assombrosa, perversa e que marca um novo rumo na trajetória das comunidades.
O primeiro destaque, que imediatamente invadiu meus pensamentos conclusivos após a exibição do episódio foi inevitavelmente a retomada da qualidade do roteiro. The Walking Dead vinha sofrendo de vícios ocasionados pela panelinha de roteiristas, acomodados em um status quo que paulatinamente vinham atrofiando a série. Essa perspectiva foi mudando com o início da 9ª temporada sob o comendo da ousada Angela Kang.
O que presenciamos no último domingo, é algo que já tínhamos testemunhado na última temporada de Fear The Walking Dead: Roteiro orgânico, trama complexa e sem medo de sair da zona de conforto.
A emaranhado com que a trama foi sendo contada, indo e voltando na linha temporal, criando mecanismos de suspense e dúvidas nada lineares, são um ponto alto e tiram o espectador da mesmice automática e chata que muitas vezes é amargamente proporcionada por roteiristas engessados.
Desde o prólogo do episódio cheio de significados, até a conclusão com flocos de neve com a chegada do inverno, tudo foi meticulosamente construído, preparando o espectador para a grandiosidade dos acontecimentos que ali seriam perpetuados.
Quem rouba a cena, mais uma vez é Alpha. A presença de Samantha Morton em cena é descomunal. Quando ela chega tudo fica frio, em estado de alarmismo. É o prenuncio de que algo ruim irá acontecer. O aparente desfecho da sua relação com Lydia foi memorável, a cena em que a filha se desprende definitivamente do ninho da mãe, apesar dos pesares, foi de dilacerar o coração.
Aliás, este foi sobretudo um episódio de mães que têm de lidar com duras perdas. Carol, nossa mulher forte e centrada, é incessantemente acometida por tragédias. Dessa vez, Henry, o seu filho adotivo, foi duramente arrancado do seu seio.
A cena em que Daryl corre na frente de Carol para que ela não veja a cabeça do seu filho empalada em uma estacada foi o que deu o tom da noite. Atuações incríveis da dupla que faz dobradinhas como ninguém nessa série repleta de grandes atores.
Finalmente as 4 comunidades assinaram o tratado de cooperação, os traumas do passado foram superados e a reunificação foi selada. Foi empolgante ver os líderes reunidos em um momento solene, resgatando o espírito com que o velho Rick Grimes conduzia suas massas, e por outro lado mostrando que todos cresceram, e não necessitam mais do xerife para tomar suas decisões.
No tocante ao Massacre das Estacas, não poderia ter sido melhor construído. Apesar de poucas mortes impactantes (esperava ver Jerry, Ezequiel e Rosita empalados), teve seu peso, mostrou a psicopatia dos sussurradores e deu a dimensão do tamanho da ameaça que será enfrentada a partir de agora.
Sobre a Lydia, pivô de todo o caos, agora com seu amor precocemente ceifado por Alpha, corre o risco de tornar uma peso morto, uma Tara. A atriz tem potencial e carisma para crescer muito e espero que os roteiristas saibam aproveitar esse reforço que o time ganhou.
Mas mesmo com todo o esforço, não vejo muito propósito na renegada sem a companhia de Henry. Talvez ela tenha algum propósito no embate contra os sussurradores, fornecendo pistas estratégicas, mas alcançar algo além disso, só reescrevendo a história e finalidade da personagem.
O episódio teve apenas dois pequenos tropeços. O primeiro foi a enrolação gerada nos 15 minutos iniciais, que poderia ter sido trabalhada de forma mais célere. E o segundo, creio que para compensar o primeiro, foi a duração estendida do episódio, completamente desnecessária, esticando a corda quase no limite, mas sem atrapalhar a experiência proporcionada.
Todos estavam dando o seu melhor nesse episódio. O elenco estava afinado, mesmo com inúmeros núcleos e personagens em tela. O que poderia ter sido um caos narrativo, foi muito bem controlado e conduzido pela excelente direção somada à montagem, que proporcionaram dinamismo sem rastros de confusão. E não esqueçamos, isso tudo não foi a season finale, aguardemos o que vem a seguir.
Nota: 10