Crítica | The Walking Dead S11E01 e S11E02 — O começo do fim

AMC tem se referido à estreia 11ª temporada de The Walking Dead como “o começo do fim”. De certo modo, isso é verdade, pois tudo tem sido quase apocalíptico devido à noticias sobre a série.

Com todas as mudanças de exibição dos episódios, que mexeu principalmente com o público brasileiro, que acompanhou por mais de 10 anos pela finada FOX, hoje somos deixados de lado pela Star+, que por conta de sua estreia no Brasil, atrasou em quase 2 semanas a season premiere para nós. O streaming começou com o pé esquerdo!!!  

 Este definitivamente não foi um episódio ruim, mas tiveram algumas inconsistências (como de costume) que me fizeram baixar um pouco a nota do episódio. Em contrapartida também houve pontos interessantes que vale a pena destacar, mas no geral foi um episódio decente, dentro dos padrões TWD. 

OBS: Essa crítica irá analisar os dois primeiros episódios por um único motivo: 

  • Quando assistirem aos 2 episódios, você irá notar que na verdade, ele é um episódio de 1h30m aproximadamente. Tanto a direção (Kevin Dowling), quanto a dupla de roteiristas (Angela Kang e Jim Barnes) são os mesmos em ambos episódios. Não que apenas isso fosse um indicador, pois já vimos dobradinhas de direção e/ou roteiristas em episódios passados. Mas especificamente esses dois primeiros episódios têm alguns indícios que corroboram a tal afirmação, como toda estética dos dois episódios ser muito parecida, seja no mise-en-scène**, ou até mesmo pelo título dos episódios (em 11 temporadas é a primeira vez que repetem um título). O que dá impressão que ele foi filmado como um só, mas na edição decidiram dividi-lo talvez para “encher linguiça”.  Fato é que, não mudaria muito minha análise do(s) episódio(s), e assim otimizo meu tempo (rs).

Não se tem muita informação cronológica sobre quanto tempo passou desde os episódios extras da decima temporada, não há um começo preciso no episódio Acheron*. Os primeiros seis episódios filmados durante o período de quarentena e os episódios pré-pandêmicos da 10ª temporada estão de fato mais próximos da 11ª temporada do que se imagina. Não deve ter passado mais que uma semana da temporada anterior para essa.  

A comunidade de Alexandria ainda está sofrendo pelos danos causados ​​pelos Sussurradores, enquanto EugeneYumikoEzekiel e a Princesa chegam à Comunidade Commonwealth, escoltados por  stormtroopers misteriosos. São duas histórias completamente separadas, então vou começar com o Alexandrinos, em busca da Arca Perdida de Comida. 

Alexandria

Alexandria está em ruínas nas primeiras imagens vazadas das gravações da 11ª temporada de The Walking Dead.

Daryl e seus amigos estão numa espécie de força-tarefa para conseguir comida para Comunidade, que vem sofrendo com a escassez de suprimentos. Eles então invadem o que parece ser uma base militar, para levar as bolsas e caixas “MREs” (são refeições no jargão militar, “prontas para comer”, uma espécie de Hot Pocket). Eles descem pela claraboia da instalação, onde mais de centenas de zumbis estão “dormindo”, todos no chão.

É curioso como a série ao longo desses anos, insiste em quebrar as leis que eles mesmos estabelecem para o programa. Particularmente eu achei ridículo todos estarem tirando um cochilo, mas tecnicamente não é bem uma quebra, pois já vimos alguns exemplos de zumbis parados como se estivessem dormindo, esperando para atacar. Certamente um “Flash Mob” de zumbis dormindo é novidade, mas eu aceitei como uma suspensão de descrença. 

Mas o “inaceitável” é de repente, você não precisar mais se camuflar com tripas e sangue, para que os zumbi não sintam sua presença. Regra básica de “escape” num pós- apocalíptico zumbi.

Nem os zumbis não se importam mais se os personagens estão sujos ou não. Só querem que acabe logo essa série.

Rosita, Lydia, Carol e Maggie enfrentam zumbis militares na 11ª temporada de The Walking Dead.

Eles então descem, procuram, e pegam a comida, e utilizam a própria corda por onde vieram para carregar as caixas e bolsa. Na sequência da cena, acontece aquele clássico elemento que impulsiona a ação de forma previsível. E não poderia ser mais clichê, como uma corda que estoura.

A bolsa cai, mas Daryl conseguem salva-la, impedindo que acordem os dorminhocos. Mas ele se fere no braço, e duas gotas de sangue foram mais que suficientes para acordar o zumbi, e consequentemente o restante da horda.

O que me faz pensar, o que de fato o acordou? O cheiro do sangue, o impacto da gota, ou o barulho dela batendo no rosto apodrecido do zumbi? Nas três alternativas não consigo ter uma resposta convincente. Não consigo acreditar que naquele estado de decomposição o zumbi tenha sentido o cheiro do sangue, já sem seu sistema nasal.

Tão pouco imagino que tenha um sistema nervoso impecável para sentir tamanha sensibilidade do impacto da gota. E também é difícil acreditar que tenha sido pelo barulho da gota, já que com certeza o grupo fez muito mais barulho descendo em cordas, se movimentando do que qualquer outra coisa.

Entende quando falo sobre inconsistências de roteiro? Foi simplesmente uma ação sem levar em consideração o que já foi estabelecido, ou mínimo de lógica. Enfim…

Rosita, Lydia, Carol e Maggie enfrentam zumbis militares na 11ª temporada de The Walking Dead.

Eles matam alguns zumbis, fogem sãos e salvos, e conseguem os mantimentos, voltam para a comunidade mas se dão conta que não será suficiente. Maggie sugere que procurem em um antigo lugar que ela morou chamado Meridian. O conselho não é unanime na opção, e apenas Maggie, Daryl e o Padre decidem tentar a sorte. Carol e Aaron decidem ficar.

Eles levam Negan como um guia, como se conhecesse a região (em nenhum momento é feito qualquer menção sobre como ele conhecia a região), e segue sob uma chuva torrencial. Decidem ir pelos tuneis do metrô, o que Negan desaprova, mas é voto vencido dado sua popularidade no grupo.  

Já nos túneis eles se deparam com milhares de zumbis ensacados, mas Maggie está determinada a seguir em frente, e Negan continua ressabiado quanto a decisão. Um dos zumbis atacam um personagem aleatório, e Negan o salva, e tem dificuldades em finalizar o zumbi 2x maior que ele. Depois de muito esforço ele o mata, e percebe que todos estava olhando sem sequer mover um dedo para ajudar. E Negan decide brilhar. 

Ele entrega um dos melhores diálogos do episódio, e mexe com a estrutura do grupo, até então fechadíssimo com Maggie e seu plano suicida.

the walking dead s11e02 negan

Mesmo com Alden e o garoto salvo por Negan questionando a continuação do plano de Maggie, ela segue irredutível. Negan tenta mexer com seu psicológico, trazendo Glenn para discussão, mas é vão. Tudo que ele consegue é um Top socão de Daryl, e uma demonstração de quão forte Maggie está (ou pelo menos aparenta) mentalmente. Eles seguem a jornada.

Em dado momento o menino salvo por Negan, e outro personagem aleatório resolvem fugir de fininho, e levam consigo quase toda comida, e munição da viagem. Então a ação recomeça, com mais uma horda de zumbis aparecendo, e os forçando a seguir em frente.

Eles se deparam com um vagão de trem. Negan como penúltimo a subir, vê a dificuldade de Maggie, e decide não ajudar, imaginando que dificilmente ela escaparia dessa. Ele vira as costas e vai embora. 

Quando todos entram no vagão percebem que Maggie aparentemente não conseguiu fugir da horda, decidem seguir em frente quando Negan dissimuladamente diz que não sabe o que aconteceu pois ela estava logo atrás dele. 

Enquanto Padre e os outros continuam seguindo pelos vagões, eles ouvem um som de “SOS” em codigo morse vindo debaixo do vagão. A escotilha se abre e para surpresa de todos, especialmente de Negan, surge Maggie cagada de cansaço talvez por vir rastejando, e cheia de odio por Negan não tê-la socorrido, e expõe o ocorrido ao grupo, que mais uma vez é hostilizado pela galerinha da Maggie.

the walking dead s11e02 maggie vagao metro

Curiosamente Negan é salvo pelo garoto que ele salvou do zumbi. Ele fica preso em um dos vagões cheios de zumbi, e pede para o ajudem a abrir a porta. Maggie de forma fria e calculista percebe que seria um risco a todo grupo abrir a porta do vagão e decide que o melhor é perder um, para salvar a maioria. Alden e Negan ficam indignados com a decisão. O garoto vendo que morreria de qualquer forma, se revolta com Maggie, e decide ele mesmo tirar sua vida com uma faquinha de manteiga fazendo cara de “nem dói” olhando para ela. Esses millennials viu! 

Mais tarde Alden critica Maggie e os outros por se acovardarem ao deixarem o menino morrer. Maggie conta uma história chataaa, para talvez validar sua decisão. Maggie dá uma arma à Negan, como uma espécie de “independentemente de qualquer coisa, somos um grupo, bora fugir daqui”.

Negan atira no zumbi que bloqueava a porta, enquanto Daryl faz a limpa no vagão para que seu grupo possa fugir, e aproveita a granada dada pelo personagem fujão, e explode a horda. Não vou me aprofundar na explosão “direcionada” da granada, mas diria que a ação foi um tanto quanto oportuna. 

Eles enfim acham a saída dos tuneis, Negan devolve a arma como uma forma de dizer “Confia”, já se deparam com rua cheia de corpos enforcados, e com um novo grupo para encher linguiça por alguns episódios… os Reapers!

the walking dead s11e02 ceifadores

Achei muito caricato os novos personagens (Duncan, Agatha, Garcia e Frost) e não acho que terão muito tempo de tela. Estão para compor a cena e servir como boi de piranha para quando a série precisar de mortes, e não quiser se desfazer dos seus personagens principais (o que acontece muito).

Esse arco como um todo eu achei monótono em alguns momentos, a parte da ação em si não me empolgou talvez porque me pareceu tudo mal executado pelos erros que ressaltei, tiveram alguns diálogos interessantes, como o que destaquei do Negan, mas olhando para desenvolvimento de personagens, não consigo visualizar algum grande update.

Commonwealth

the walking dead s11e02 eugene yumiko ezekiel princesa

Enquanto isso em algum lugar do universo TWD, o quarteto Ezekiel, Yumiko, Eugene e Princesa chegam no que parece ser uma “pré-Commonwealth”. Um lugar onde todos são levados para fazer processo seletivo e fazer parte da comunidade.

A partir disso conhecemos um pouco mais sobre o passado, e suas peculiaridades. Tudo sob os olhares do Commontrooper Laranja, que aparenta ser um tipo de chefe de segurança da comunidade. A Michonne deles.  

Por não se sentirem seguros que a tal comunidade é um bom lugar, decidem fugir, mas Yumiko volta atrás quando a Princesa encontra uma foto da advogada com o irmão, no que parece ser um “muro de desaparecidos”.

Ela volta buscando respostas, e mostra um pouco do que pode oferecer à comunidade, o que impressiona o Trooper Laranja que até traz café para advogada.

the walking dead s11e02 mercer yumiko

Depois de toda bateria de testes, eles conseguem o “green card” e recebem as instruções dos procedimentos para adentrar Commonwealth. Nesse momento conhecemos Stephanie, que vai ao encontro de Eugene, onde está num estado deplorável (possivelmente todo mijado), por conta de sua última entrevista com o Power Ranger Laranja, onde abre seu coração (até mais do que deveria rs).

Gostei das atuações do quarteto nesse(s) episódio(s), em especial da Yumiko que mostra que tem potencial a possível líder, seja de Alexandria ou da nova comunidade. Eugene também foi muito bem, conseguiu equilibrar seu lado robótico, um pouco entediante as vezes, com um lado sentimental poucas vezes mostrados na série.


*Acheron (Aqueronte) é um rio mitológico, localizado no Egito região do noroeste da Grécia. O nome rio pode ser traduzido como “rio do infortúnio” e acreditava-se que fosse um afluente do Rio Estige, este localizado no Mundo Inferior. Nele se encontra Caronte, o barqueiro que leva as almas recém-chegadas ao outro lado do rio, às portas do Hades, onde o Cérbero os aguarda. 

**Mise-en-scène – expressão francesa que está relacionada à encenação. No audiovisual, tudo aquilo que aparece no enquadramento, por exemplo: cenário, atores, iluminação, decoração, adereços, figurino, maquiagem etc., constitui a mise en scène. Ela diz respeito à aparência geral do filme, ao conjunto da obra, e não apenas aos elementos cinematográficos.


Nota: 7,0/10

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Ricardo Cruz
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